Antes
Pela expressão da avó Ana, percebo que a ligação que ela teve com Hernan não foi nada boa. Ela parece apreensiva, mas tenta esconder isso de nós, em vão. É possível lê-la como se fosse um livro aberto.
— Vó — chamo, observando-a do batente de sua biblioteca. Ela me fita, saindo do transe em que estava.
— Já comeu? Pedi para prepararem sopa para você. — Sorri em minha direção de forma gentil.
— Já, estava ótima, obrigado.
Entro na biblioteca e me sento ao seu lado, em um sofá confortável para leitura. Observo-a. Desde que acordamos, ela está esquisita, absorta em seus próprios pensamentos. Isso quer dizer que não teve êxito em fazer com que Hernan abaixasse a guarda.
— Seu pai está vindo buscar vocês. — Solta um longo suspiro.
Me sinto inquieto com a informação, mas não estou surpreso. Sempre soube que, mais cedo ou mais tarde, ele viria. É apenas uma questão de tempo para que finque as garras em todos nós novamente.
— Sinto muito, Tae — continua, olhando para as próprias mãos cruzadas sobre o colo. — Tentei conversar. Dizer que poderia criar todos vocês...mas ele foi irredutível.
— Entendo — digo, porque sei que se ela pudesse, nos aceitaria em sua casa com toda alegria do mundo. Minha avó é a melhor pessoa que conheço.
Tento me distrair jogando xadrez com Brianna pelas próximas horas. O tempo passa devagar, de forma agonizante, porque sei o que está por vir. Vamos voltar para os Estados Unidos e provavelmente mais punições vão recair sobre nós, e não vai haver ninguém para nos salvar desta vez, pois Hernan vai se certificar disso.
Estou colocando Bree para dormir quando Bastian aparece no quarto com a expressão tensa. Ele não precisa dizer nada, seus olhos anunciam tudo. Nosso pai está aqui. Depois de cobrí-la, eu e Jin descemos as escadas. Hernan está na sala, os braços cruzados em frente ao peito e o rosto completamente inexpressivo, sem revelar nada.
— Vamos embora — Hernan diz, calmamente. — Onde está Brianna?
— Dormindo. — Quebro o silêncio.
— Vá buscá-la — ordena, irredutível.
— Está tarde — minha vó interrompe, adentrando no cômodo. — Durmam aqui esta noite e saiam pela manhã. Seokjin e Taehyung também estão cansados.
— Ana — meu pai saúda, o desgosto quase palpável no tom de voz. — Eu não preciso que me diga como criar meus filhos. Isso não te diz respeito. Cuide da porra da sua vida, que aliás, já está quase no fim. Enrijeço. Seokjin dá um passo à frente, mas minha avó ergue a mão, impedindo-o.
— Você está na minha casa, Hernan. Exijo respeito. Tenho seguranças prontos para chutá-lo para fora, sob a chuva. — Ela maneia a mão em direção às janelas, sinalizando o temporal que ricocheteia os vidros. — Acredito que tenha esquecido quem sou, mas permita-me lembrá-lo. Sou Ana Diane Lawrence, influente o suficiente na Alemanha para que você seja visto como um zero à esquerda. O sangue que corre na veia dos seus filhos também é meu sangue. A partir de agora, você vai tratá-los da maneira correta, ou vou expor tudo na mídia.
— Isso arruinaria tanto sua reputação quanto a minha — meu pai retruca, com dúvida refletida em seus olhos.
— A diferença é que apenas um de nós coloca o dinheiro e influência acima da família.
Meu pai fica em silêncio.
— Tudo bem — recua, a raiva velada em suas íris. — Amanhã nós partiremos e não haverá mais castigos extremos para vocês.
Como um passe de mágica. Basta ameaçá-lo quanto ao seu dinheiro que ele repensa sobre tudo. Patético. Seojin e eu trocamos um olhar significativo e, em seguida, subimos para nossos próprios quartos. Na despedida, Brianna começa a chorar enquanto JIn e eu abraçamos nossa avó. Ela nos pede para ligarmos sem hesitar caso qualquer coisa aconteça. Depois, percebo que Ana conversa em particular com Hernan. Eles usam o tom de voz baixo propositalmente para que não escutemos. Ao fim, somos levados para o aeroporto em uma van. Meu pai pergunta:
— Qual dos dois espertinhos teve a brilhante ideia de fugir para a Alemanha?
— Eu — Seokjin assume a culpa, sem rodeios. — Você não vai fazer o que bem entender com meus irmãos. Não mais.
Bree está dormindo no banco de trás, alheia a conversa. Acordamos muito cedo. Meus olhos estão pesados, mas me forço a me manter em alerta. Meu pai se mantém em silêncio e troca olhares com meu irmão mais velho. Acredito que ele não quer colocar tudo a perder, não por isso. Seokjin é sua aposta final, e Hernan sabe disso. Se meu pai não tiver um sucessor, todo seu esforço vai ter sido em vão. Ele precisa de Jin e não pode deixá-lo sair dos trilhos, o que inclui não nos tratar mal. Durante o voo para casa, finalmente entendo. Algumas pessoas estão fadadas a infernos particulares. Hernan criou o meu.
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ATÉ QUE A SORTE NOS SEPARE
FanfictionEnemies to lovers entre um empresário e um encrenqueiro apaixonado por artes. TaeTop.