Capítulo 18 🐈‍⬛🐕 Jungkook Ogawa

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O Hide & Art não abre hoje, mas isso não me impede de fazer uma visita. Kai está sentado em uma poltrona, bebendo um vinho caro enquanto seus artistas se espalham pelo estúdio. Não tem muita gente aqui, considerando o horário. É pouco mais de sete horas da manhã, e Dylan é uma das pessoas presentes. Não uso máscara quando não quero me apresentar, o que talvez tenha sido um erro.

— Namorando um riquinho, JK? — A voz ácida vem de Zion, que se aproxima de um jeito tão silencioso que dou um sobressalto. — Ou devo chamá-la de Jungkook?

Zion é um artista que gosta de alfinetadas. Ele usa um terninho cor-de-rosa e um cachecol amarelo. Excêntrico é um eufemismo para descrevê-lo. O garoto sempre se mete em confusões no estúdio, tanto que no último mês recebeu um alerta de Kai para que deixasse a nova artista da galeria em paz. Se você não souber se defender de suas garras, é fácil se tornar um alvo.

— Não é um mistério. — Dou de ombros, agindo como se não fosse grande coisa.

Mantenho minha verdadeira identidade em segredo, afinal, aqui ninguém revela quem realmente é. Todos optam por pseudônimos. Não é como se eu fosse o único com segredos.

Zion me olha no fundo dos olhos e eu mantenho o contato visual, interrompendo o processo de construir o esboço da minha arte.

— Não se preocupe, não pretendo te dedurar. — Me lança um sorriso condescendente.

Não sei se devo confiar nele. Provavelmente não. Kai e diversos outros artistas discutem sobre desigualdade social e meritocracia. Inclusive expressam isso através de suas artes, com críticas nem um pouco veladas. Não imagino como eles reagiriam se soubessem que sou filho de um dos maiores empresários do Japão, vez que nossas realidades são bem diferentes. Todos aqui tentam sobreviver da arte. A arte não é tudo o que eu tenho, mas é tudo o que pretendo ter um dia.

— Deixa o garoto em paz, Zion — Kai resmunga, ao notar nossa interação.

— Não estou fazendo nada. Estava apenas elogiando o esboço do JK — mente, enquanto analisa minha tela. — Apesar de que faltam alguns retoques...

— Se continuar espantando meus artistas com sua intimidação, vou te proibir de vir até aqui. Já te avisei sobre isso. — Kai parece sem paciência, apesar do tom de voz monótono.

Zion ergue os braços em sinal de rendição e se afasta. Suas obras são agressivas, repleta de cobras, serpentes e criaturas míticas. Além disso, o garoto se apresenta com uma máscara de réptil que cobre todo o rosto. Desvio minhas íris para meu esboço, não me afetando com seu comentário, mas o levando em consideração. Preciso de retoques mesmo, pois essa é a graça de um sketch. Ergo o lápis, pronta para traçar novas formas, quando o celular começa a vibrar no bolso da calça jeans. Solto um gemido ao ler o nome de Taehyung no visor. Me afasto para um canto, buscando privacidade para atendê-lo.

— Onde você está? — é a primeira coisa que pergunta assim que aceito a ligação. Faço uma careta, mesmo que ele não possa me ver.

— Que foi, virou meu pai?

— Não, seu pai jamais te bateria por sua insolência. Eu ficaria contente em te dar algumas palmadas.

A frase dele me cala, e sinto todo o sangue do meu corpo se direcionar para as bochechas e pescoço. Que babaca. Inspeciono o ambiente, certificando-me de que ninguém presta atenção em mim e falo:

— Bom, não é da sua conta. Estou resolvendo algumas coisas pessoais.

— Responda à pergunta.

— Cuida da sua vida — retruco.

ATÉ QUE A SORTE NOS SEPARE Onde histórias criam vida. Descubra agora