O erro de um poeta

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Errei. Fui poeta. 
Acreditei que palavra salvava, 
que verso colava pedaço, 
que nome teu em poema 
valia mais que tua ausência.

Mas a ausência ficou. 
Feita espinho entre as linhas. 
Tentei disfarçar de beleza, 
tentei rimar tua partida com esperança. 
Mas só rimou com dor.

Te escrevi em madrugadas longas, 
entre goles amargos e olhos fundos. 
Chamei de arte 
o que era só desespero bonito.

E você? 
Sumiu. 
Ficou naquilo que eu inventei. 
Porque a verdade é que você 
nunca foi tão meu quanto meus versos diziam. 
Fui eu quem criou esse amor
na cabeça, na pena, no peito.

Coração virou papel velho, 
dobrado, rasgado, molhado. 
E eu li e reli o que sentia 
tentando encontrar onde me perdi.

Mas ser poeta não é dom, 
é castigo. 
É saber sangrar em silêncio 
e ainda ter que explicar a cor do sangue 
pra quem só quer ler por cima.

Errei. 
Fui poeta demais pra quem nem lia. 
E agora carrego essa mania feia 
de transformar abandono em poesia. 
Como se escrever te trouxesse de volta. 
Como se um verso bastasse pra não doer.

Mas não bastou. 
Nem todas as rimas curam, 
nem todo poema consola. 
Tem dor que não se escreve 
ela se cala fundo, 
como faca esquecida dentro da carne.

Cansei de tentar fazer do que foi pouco 
algo eterno em metáforas. 
Deu raiva. 
Deu vergonha. 
De ter dado tanto pra quem mal ficou.

Eu romantizei o descaso. 
Pintei de saudade um abandono frio, 
e chamei de poesia aquilo que era só falta. 
Falta tua. 
Falta minha de perceber.

Agora já não escrevo pra te trazer. 
Escrevo pra me lembrar 
de nunca mais dar verso 
pra quem só entende vírgula. 

E mesmo assim, olha eu aqui: 
tentando ainda organizar o caos 
com palavras que tremem, 
com dedos que sabem 
que amar demais pode matar devagar. 

Errei. 
Fui poeta. 
E talvez ainda seja. 
Mas agora, escrevo sabendo: 
nem todo poema merece leitor. 
E nem todo amor, retorno.

_Daiki

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