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QUINTA-FEIRA | 27 DE OUTUBRO

Pai!

Perco o folego ao ouvir as palavras de Liliana, tentando não deslizar na sua mentira enquanto a diretora me olha surpresa, porque eu quero estar SURPRESO exatamente como ela! Eu não sou pai de ninguém. Eu não sei nem exatamente o que essa palavra significa para alguém como eu, mas como posso negar isso quando Liliana me olha com tanta serenidade assim?

Ela poderia chamar qualquer pessoa, mas ela me chamou!

Depois de tantos dias sem qualquer notícia sua, essa garotinha simplesmente veio me pedir ajuda e agora está dizendo que sou seu pai. E eu acho, sinceramente, que estou caindo no seu joguinho barato. Abro um sorriso, o mais sincero que consigo, lançando um olhar para Liliana e depois para a senhora rabugenta.

— Christian Grey — a mulher balança a cabeça surpresa, apertando minha mão — agora entendo por que Liliana sempre falava que não podia dizer o nome do pai dela.

— Ah, é?

Encaro Liliana.

Seus olhos vacilam por um segundo antes de ela abaixar a cabeça com vergonha, me dando uma lembrança do que disse sobre seu pai não querer saber dela. Sim, eu me lembro. Imagino que, após perder seu padrasto, tenha sido difícil para ela falar qualquer coisa sobre seu pai e eu entendo isso, só não entendo por que de repente essa garota me escolheu como cobaia!

— Eu tento manter a nossa privacidade — pontuo a primeira coisa que me vem, lançando um olhar para Liliana — normalmente a mãe dela resolveria isso.

— Sim, e sinto muito sobre o acidente, foi lamentável o que aconteceu.

— É, foi.

Tento soar triste, embora não esteja verdadeiramente afetado por uma perda. O que me compadece é o nervosismo e a tristeza no olhar de Liliana quando sua mãe é mencionada. As lágrimas alcançam seu olhar azulado e ela torce os lábios, encolhendo mais os ombros e voltando rapidamente a encarar seus sapatos de cadarços rosa.

— Mas então, qual foi o motivo de me chamar até aqui?

— Por favor, senhor Grey, vamos conversar aqui. Liliana, aguarde aqui.

— Não posso ir junto? — Liliana pede, se aproximando e segurando minha mão — quero ficar com meu pai, por favor.

— Você pode ficar com ele depois, haverá tempo.

— Mas...

— Eu quero que ela fique ao meu lado — esclareço quando o desespero começa a tomar Liliana e sua mão a apertar a minha com mais força, como se ela precisasse desesperadamente disso. Puxo-lhe para mais perto e envolvo meu braço em seu ombro. — Estava viajando há uma semana, faz um tempo que não nos vemos.

— Bem, sendo assim, não tem por que eu separar vocês. Vamos, vamos entrar.

Liliana se agarra ao meu corpo e eu estranho sua reação, já que faz algumas semanas que ela não se importa em falar comigo ou apenas lembrar da minha existência, mas para não estragar o disfarce que ela me deu, a mantenho ao meu lado. Na sala, quando me sento em frente à mesa de vidro fume, sua aproximação me faz perder o ar por um segundo, desconsertado. A escuridão que me envolveu por dias, chega ao topo da minha garganta quando essa garotinha se senta em minha perna, envolvendo os braços ao redor do meu pescoço e encostando seu rosto no meu.

Congelo.

A diretora não parece notar nada enquanto se senta e começa a falar sobre o comportamento de Liliana ter mudado nas últimas semanas, parte essa que mal ouço enquanto tento me manter seguro.

Pai Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora