Pai Por Acaso

PRÓLOGO

Tamborilo meus dedos sobre a superfície de madeira da mesa, o outro cotovelo apoiado sobre o braço da cadeira e o olhar fixo na tela do macbook, fixado nas imagens que analiso. Elena realmente sabe o tipo de mulheres que eu gosto, mas, por algum motivo absurdo, não me agrado de nenhuma das quais ela, gentilmente, “selecionou” para mim.

Garotas sem graça.

Nada é atraente em qualquer rosto, nada me deixa animado, e isso faz com que eu perceba que preciso de algo a mais.

Sequer consigo me sentir excitado, embora as poses sejam bem provocantes.

Suspiro quando me é notificado um e-mail de Elena, distraído minha atenção das fotos para a pequena caixa de mensagem que aparece no canto da tela.

“Qual delas escolheu, Christian?”

Bufo.

Giro na cadeira preta de couro, encarando as paredes brancas da minha sala, então o chão de piso laminado e finalmente o conjunto de quadros logo a porta. O conjunto de quadros. Ah. Um artista local parece mais interessante do que essas garotas estupidas e embora eu queira muito dizer a Elena que prefiro eu mesmo procurar alguma boa submissa, não faço isso. É verdade que nenhuma delas me agrada, mas também é verdade que tenho trabalhado tanto, que não me resta tempo para sair e encontrar qualquer possível submissa.

Não posso mais esperar tanto, preciso de uma boa garota para me distrair, então paro de encarar os quadros e volto para a tela do computador, selecionando entre elas uma com nome de “Leila”; essa deve servir.

“Essa, Elena.

Marque um encontro para nós amanhã, por favor”.

Envio o e-mail, suspirando para os olhos cor de âmbar que me encaram na tela do computador. Vazios. Não há nada deles que me faça sentir qualquer coisa. Espero sinceramente que isso mude quando a encontrar.

“Posso encaminhar agora, durante o almoço”

A mensagem de Elena chega e eu pondero por alguns segundos antes de aceitar. É melhor do que esperar até amanhã. Logo, tenho um local de encontro e posso deixar a empresa dizendo a Andrea que demorarei um pouco para voltar, afinal, talvez eu ganhe um “teste” do que Leila é capaz e possa me distrair um pouco dessa semana tão estressante.

Resolvo não chamar Taylor e caminhar um pouco pelas ruas de Seattle, desviando do fluxo de pessoas apressadas. Está um dia ensolarado – não costumo gostar disso, já que os dias frios parece-me muito mais aconchegantes. Porém, por algum motivo, enquanto ando pela calçada, desviando de um grupo de senhoras, sinto uma palpitação estranha em meu peito, como um bom pressentimento. Talvez Leila tenha mesmo sido uma boa escolha.

Quem sabe?

Continuo a caminhar, tendo que esperar na calçada o sinal abrir. Isso me irrita, afinal, há um grupo de crianças saindo do colégio, correndo e bagunçando como um bando de arruaceiros. Eles atravessam sem se dar o trabalho de esperar, ignorando o sinal vermelho para pedestres e me fazendo lembrar o motivo pelo qual não sou afeiçoado a crianças: são terríveis! Impaciente com a demora, cruzo meus braços, batendo o pé no chão e tentando ignorar duas mulheres na proximidade que cochicham e soltam risinhos na minha direção. De repente, para o meu alívio, o sinal se abre para podermos passar e eu observo que do outro lado da rua, uma garotinha diferente se prepara com empolgação para passar na faixa.

Ela é diferente.

Animada, a menina mexe as mãos como se segurasse baquetes, perdida nos seus fones de ouvido e em um mundo imaginário, chacoalhando sua cabeça e fazendo as mechas grossas de cabelos rosas balançarem. Não sei o que me chama atenção nela, talvez o cabelo, os olhos brilhando e o sorriso tão feliz, dando-me uma comichão de sentimentos que queima meu peito. E de repente ela está atravessando, como se viesse na minha direção, tão entretida com sua música, que não percebe o carro desgovernado furando o sinal e acelerando em sua direção.

Puta que pariu, garota!