32 | O Novo

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— Não diga isso — Anastásia implora, tão perdida, tão machucada. Ela se afasta e protege a si mesma em um abraço, com seu olhar dolorosamente marejado. — Eu não sou nada.

— É claro que é. É a minha Ana!

— Não.

— Sim, você é — enfatizo, me aproximando e segurando seu rosto — quero ficar com você, Ana.

— E tudo o que disse mais cedo? — Relembra com mágoa, presa nesse intenso soluço de dor.

— Eu estava errado, Ana. Quero ficar. Quero cuidar de você.

— Você está com pena de mim? Pelo que viu hoje?

— Não, porra. Não é pena. Eu te amo. Quero estar aqui por você e pelas crianças.

— Você não tem obrigações com meus filhos.

— Mas eu tinha com você — pontuo, beijando seus lábios para que ela pare de falar e pensar tanto. Beijos demorados e cortados. Isso a deixa sem folego, atordoada.

— Christian...

— Por favor, baby. Eu estou bem aqui.

— Não quero magoar você — Anastásia soluça, encolhendo-se bem na minha frente.

— Você não vai. Nós vamos fazer certo dessa vez. Vamos fazer dar certo.

— Pare, por favor!

Anastásia usa suas mãos entre meus braços para se libertar, fugindo para o outro lado da sala e escondendo o rosto entre as mãos. Seus ombros se encolhem e ela soluça algumas vezes, lutando contra o choro. Parece tão ferida. Não posso evitar a culpa crescente em meu peito, lembrando da conversa que tive com a minha mãe mais cedo.

Não tivemos culpa.

Éramos novos e tínhamos acabado de perder um filho. Carla se aproveitou da nossa dor para nos separar e eu estou mantendo isso ao deixar Ana longe.

Não quero estar longe dela.

Porra.

Fizemos funcionar tantas vezes e podemos fazer de novo. Quero que as coisas funcionem mais uma vez. Quero cuidar de Anastásia e sentir que estou vivo outra vez, sem viver a sombra de uma vida completamente infeliz.

Ana respira fundo, ainda encolhida ergue as mãos em frente ao seu rosto e me encara.

— Com calma — ela diz, a voz baixa — vamos com calma.

— Você quer calma agora?

— Sim.

— Ok — sorrio, satisfeito com a ideia e podendo imaginar todas as possibilidades de tudo que ainda podemos ter agora.

— Você pode ficar por essa noite, mas não vai ficar todos os dias. E vai dormir no sofá ou no quarto de Liliana.

— Como você quiser.

— Eu preciso de um café.

— Não — resmungo para ela, aproximando-me. Tomo seu rosto em minhas mãos mais uma vez e começo a secar suas lágrimas com cuidado, sorrindo de forma abobalhada para ela, apenas pelo fato de estarmos juntos. — Quero que você volte a dormir. Você está cansada. Tome um chá e eu coloco você na cama.

— Me colocar na cama?

— Sim. Posso preparar um chá. Paige me ensinou onde estão as coisas e você pode tomar um banho, o que acha?

— Sinceramente, Christian. Tudo isso parece um sonho. Mas, ok. Quando eu acordar amanhã vai fazer mais sentido. Vou tomar um banho. Vou mesmo tomar um banho.

Pai Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora