28 | Rancor

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TERÇA-FEIRA | 08 DE NOVEMBRO

Pisco.

Pisco.

Prendo meu ar a ponto de ficar insuportável e eu ser obrigado a soltar, encarando essa mulher que me odeia – que precisa me odiar – encolhida como uma gatinha machucada, dizendo essas palavras ridículas para mim. Ana não pode falar coisas desse tipo. Não pode dizer que se arrepende, porque eu quebrei seu coração e ela tem que me odiar. Estraguei tudo o que tínhamos de bom e passei anos infernais lutando para superar o quanto foi difícil ouvir que me odiava, que queria que eu sumisse da sua vida. Depois de anos, ela não pode falar algo assim.

— Quando falei sobre isso, ela ficou curiosa e acho que contei coisas demais — revela, olhando-me com atenção e um pouco de desconfiança — acho que ela deduziu que você poderia ser o pai dela por isso, então foi atrás de você. E o resto... bem, você sabe. A única grande mentira, foi que eu o morri, mas até o que sei, todo o resto foi real, Christian.

Continuo balanço a perna, sem folego. Anastásia permanece encolhida e agarrada a sua xícara, esperando por minhas reações.

Todo o resto foi real. A parte principal é que Liliana sabia quem eu era e achava que eu era seu pai. E mentiu sobre sua mãe, porque sabia que Ana me odiava e não nos deixaria ficar juntos. Mas como ela poderia pensar que eu não iria querê-la se fosse seu pai?

Deus...

— Você sabe quem é o pai dela? — Pergunto e Anastásia balança a cabeça timidamente.

— Ele nunca se importou, Christian. Não a quis.

Suspiro.

Deixo a poltrona e me aproximo de Anastásia, sentando na pontinha do sofá ao seu lado e pegando da sua mão a xicara de café. Ela ri quando cheiro o liquido, apenas para ter certeza de que é mesmo o que aparenta. Coloco então sobre a mesa e volto minha atenção para essa linda visão de manhã, apoiando a mão com cuidado em seu joelho. Ela estremece, encolhendo-se.

— Eu sei que você tem mágoas de mim e isso talvez nunca se apague, fui um idiota no passado e não tenho como voltar atrás para resolver tudo — indago, incerto das minhas palavras, tendo toda a sua atenção — mas não deixe as coisas serem ruins para Lily.

— O que quer dizer?

— Diga que sou mesmo o pai dela.

— O que?

— Sim. Eu não me importo quem é o idiota que não a quis, mas eu a quero mais do que tudo. Darei meu nome a ela, todo meu dinheiro se for preciso, só não quero que ela cresça achando que seu pai não quis.

Ana respira fundo, encolhendo-se mais. Sua cabeça tomba no encosto do sofá e, timidamente, sua mão toca a minha, o mindinho entrelaçando o meu como antes, como se o tempo cruel não tivesse passado tanto. Meu corpo se acende como se uma pequena corrente elétrica o percorresse e observo-a com muito interesse e atenção.

— Como meu pai não me quis — ela sussurra e eu respiro fundo.

— Não acho que isso seja verdade, Ana. Taylor sempre amou você.

Ela ri.

— Por isso você o manteve por perto, Christian?

— Foi uma eventualidade — esclareço, para que não pense que contratar Taylor teve alguma coisa a ver com ele ser seu pai.

— Eventualidade — ela ri mais uma vez, então seu sorriso se perde e Ana prende seu olhar em mim, hipnotizando-me e roubando meu fôlego com muita facilidade. Estar tão próximo me deixa confuso, principalmente sentindo seus dedos brincando com o meu, segurando como se eu ainda pudesse lhe passar alguma segurança.

Pai Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora