TERÇA-FEIRA | 08 DE NOVEMBRO
Acordo assustado com algum barulho distante, erguendo a cabeça e percebendo que adormeci sentado no chão em frente ao sofá, ainda segurando a mão de Liliana. Sua cabeça também se ergue, assustada e confusa, parecendo assimilar as coisas aos poucos e logo nós dois ouvimos o mesmo barulho de passos: saltos ecoando no piso de porcelanato. Segundos depois, Anastásia aparece, as mesmas roupas que antes, mas agora não parece tão irritada, apenas cansada, eu diria. Embora seu olhar ainda chamusque de raiva.
— Não quero ir para casa — Liliana declara sem dar tempo da sua mãe dizer qualquer coisa e todo o choro está aqui de volta, me deixando confuso. — Por favor, não me tire daqui. Quero ficar aqui. Eu imploro. Eu fico de joelhos. Não me leve para longe do Christian.
— Quieta — é tudo o que Anastásia diz e seu tom cortante cala a menina.
Um clima sombrio surge e eu vejo o quanto está irritada e até magoada com Liliana, de uma forma que eu não conseguiria ficar nunca. Mas, começo a entender que não fui o único a ser enganado no meio disso tudo.
Encaro Liliana chorando tão copiosamente e começo a me erguer, ainda cambaleando, mas agora extremamente cansado. Anastásia me encara com irritação, de cima abaixo. Me sinto errôneo sob esse olhar, encolhendo os ombros como se fosse um garotinho e eu já fui um garotinho ao seu lado, porém, não havia nenhum desses olhares para mim.
Eu gostava mais como era antes, porque agora tenho quase certeza de que ela me quer morto e o seu olhar cravado em mim ferozmente, diz um pouco disso.
— Diga adeus ao Christian — ela pede em um tom calmo, controlado, quase como se estivesse escondendo o rugido da fera em seu peito, seu olhar ainda permanece em mim, azul e frio, como um dia de chuva inabalável. — Estamos indo para casa.
— Eu estou implorando para você — Liliana grita de repente, tão feroz com seu peito subindo e desce, engolindo a raiva e a dor que sente — você não entende? Eu nunca, nunca te pedi nada. Você não entende o quanto eu o amo?
— Ok, mas e eu?
Finalmente sua voz se eleva um pouco e ela revela sua mágoa, a traição estampada em seu tom magoado que faz seus olhos vacilarem um pouco, encarando a filha. Liliana recua, escondendo-se atrás de mim como faz todas as vezes que não quer enfrentar alguém, mas agora, eu dou um passo para o lado, porque não posso deixar que ignore sua mãe e tudo o que causou a ela com suas mentiras.
Por mais doloroso que seja, não posso interferir nisso.
— Você não me ama mais? — Anastásia questiona, aproximando-se um pouco, abaixando até ficar à altura da filha, os dois pares de olhos azuis se encarando com tantas coisas não ditas e as dores sobressaltando. — Nós éramos melhores amigas, você lembra?
Liliana encara a mãe, balança a cabeça e depois me encara. Ela parece amedrontada, contudo, enfrenta seus medos para dizer:
— Christian é meu melhor amigo agora.
Anastásia parece chocada, me encarando com raiva e depois tornando a olhar para a filha. Sua mão se ergue para tocar o rosto da menina que, assustada, recua e chacoalha a cabeça, fugindo do toque.
— Mas e eu, Lily? Como eu fico?
— Você tem Paige — Liliana pontua, segurando a manga da minha camiseta e recuando mais — e ela tem você só para ela!
Anastásia encara sua filha em silêncio por alguns segundos, perdida em suas palavras e então, uma lágrima escorre por seu rosto e eu posso ver a raiva crescer, chamuscando mais seu olhar, sem ser capaz de imaginar de fato o que esteja sentindo nesse momento, sendo trocada com tanta facilidade. Meu coração se aperta, compadecido pela sua dor e, entendo que mesmo com o passar dos anos, ver Ana mal é um tormento terrível.
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Pai Por Acaso
FanfictionEm um mundo onde Christian Grey reina como mestre do seu próprio destino, ele acredita que o estilo de vida Sub & Dom é suficiente para manter seus demônios internos à distância. Porém, tudo muda quando ele conhece Liliana, uma adorável garotinha de...