39 | Boa Vida

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QUARTA-FEIRA | 07 DE DEZEMBRO

Já passa de uma da manhã e meus irmãos e os Kavanagh estão em uma séria discussão com Liliana enquanto jogam Monopoly. Aparentemente, eles estão indignados que uma garotinha de 11 anos consiga fazer melhores investimentos do que eles.

— Ela é boa nisso — pontuo para Ana, acariciando seus cabelos. Ela ri encolhida em meu colo e concorda, orgulhosa.

— Ninguém vence dela, nunca. É uma chatice jogar isso com uma boa investidora.

— Acho que já sei quem tomará conta das empresas quando eu me aposentar.

— É, ela fará um grande serviço.

— Você, é igualzinha ao seu pai — Elliot diz de repente, jogando cartas para cima e empurrando o tabuleiro — péssima jogadora!

— É isso aí, garota — Ana comemora com animação, sentando-se para poder bater palmas para a filha. — Ganhando muito dinheiro igual o papai.

Liliana sorri timidamente, mas não parece animada por ganhar o jogo e isso me deixa intrigado, principalmente quando uma ruga se forma entre suas sobrancelhas e ela parece preocupada.

— Papai, você tem muito dinheiro?

Sua pergunta me pega desprevenido e acaba me fazendo rir, pois percebo como Ana parece ficar sem graça com a pergunta. A questão é que, agora, Liliana é minha herdeira legitima e todo o dinheiro que tenho é dela, então não me importo em ser sincero quanto a resposta, afinal, batalhei muito para ter tudo o que tenho.

— Sim — dou de ombros, sem importância.

— Quanto?

— Você não acha que isso é um pouco inapropriado para o momento? — Ana intervém, mortificada.

— Muitos bilhões — respondo à pergunta apenas para cortar Ana e lhe provocar, e porque adoro ver o rubor em seu rosto e as expressões de choque dos outros presentes.

— Ah, uau... — Lily respira fundo e se ergue, vindo sentar-se em minha perna.

— Você precisa de dinheiro, querida? É isso?

— Não, não para mim, papai.

Ajeito meu corpo, ficando mais reto e me preocupando de forma automática. Não posso imaginar o que Liliana precise, mas todos estão atentos a conversa, olhando para ela em busca de respostas, principalmente sua mãe. Desde que conheci Lily, ela jamais me pediu qualquer coisa e tudo o que lhe dei foram doces e o meu amor. Isso sempre parece suficiente. Não é como se ela fosse uma garotinha gananciosa.

— Lá na escola, tem uma menina que está com problemas — Lily revela e meu coração automaticamente começa a se comprimir — ela não tem o que comer há muito tempo e eu sempre preparo algo para ela. Mas agora, a família dela vai ser despejada... achei... achei que você podia ajudá-los, papai.

— É mesmo?

— Sim. Ela me disse que o pai dela era segurança, mas depois que a mãe dela morreu, ele teve muitos problemas e ficou muito triste. Não quero que eles fiquem na rua ou se separem.

Quando termina de contar a história, lágrimas estão escorrendo pelo rosto de Liliana e seus olhos encaram fixamente o chão como se estivesse com vergonha por ter me pedido ajuda, mas a verdade é que eu não poderia estar mais orgulhoso. Por isso, tiro minha menina gentilmente do meu colo e vou até meu quarto, retornando com um papel muito importante em mãos.

Todos estão em silêncio e Lily, em pé, permanece encarando o chão, mudando sua visão para mim apenas quando ajoelho em sua frente. Seus olhos estão avermelhados como o nariz, e todo o choro deixa seu rosto com uma expressão triste que parte meu coração.

Pai Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora