12 | Desafios

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QUINTA-FEIRA | 27 DE OUTUBRO

Estou cansado quando finalmente consigo chegar em casa e o relógio já marca bem mais de dez horas da noite. Não imaginava que um cachorrinho pudesse ser tão trabalhoso. Trabalhosa, no caso. Vacinas, exames e uma castração agendada. Além de ter que comprar muitas coisas que eu sequer sabia que um vira-latas precisava! Aliás, é muita exigência para quem estava na rua!

Jogo meu blazer sobre o braço do sofá, me lanço no sofá e suspiro, erguendo e encarando o focinho molhado.

— Espero que Lily não resolva te chamar de Lily também, ok?

Espero mesmo.

Coloco a cadelinha vira-latas, pulguenta e rabugenta no chão, observando enquanto ela explora meu tapete e estou tão cansado do dia e com a mente tão sobrecarregada, que simplesmente apago. Meus pensamentos se vão entre meu dia com Liliana: minha única alegria, e o fantasma que foi a aparição de Anastásia. Ao mesmo tempo em que tenho sonhos ruins que me atormentam, minha garotinha linda e amável aparece para me salvar, afugentando as trevas. Logo, já é manhã e o sol tomou a sala por completo. Quando acordo, me deparo com algumas poças de xixi próximo a escada e uma cachorra folgada dormindo em cima do sofá sobre meus pés.

— Puta merda! — resmungo enquanto me ergo, vendo como a preguiçosa apenas rola para o lado e continua dormindo. Conforme me levanto, atordoado de sono, encontro algumas coisas espalhadas pela casa – nada destruído, apenas bagunçado.

Pelo menos isso.

Esfrego meu rosto, suspirando.

Acho que finalmente entendo o que Taylor queria dizer sobre isso ser um trabalho duro e acho que entendo ainda mais a conversa que Carrick teve comigo muitos anos atrás, sobre eu ter certeza antes de querer ter cachorros... ou filhos. Suas palavras foram algo como "eles destroem sua casa, mas são incríveis" e isso não era sobre os cachorros.

Bom, agora tenho essa bagunça para limpar.

— Gail?

— Já estou chegando, senhor Grey, já estou chegando — Gail adentra a sala preparada, com mop, produtos de limpeza pendurados em um cinto que eu nem sabia que existia e luvas — estou aqui.

— Deus, Gail... você vai para a guerra?

— Isso parece um campo de batalha para mim, senhor. Vou limpar tudo aqui e farei o café em seguida. Já preparei até o canto para ela.

Gail aponta para a lareira e eu posso ver que bem ao lado está a caminha que comprei ontem, junto com os potes de água e ração. Estou surpreso, mas não acho que isso seja responsabilidade dela, afinal, eu inventei que seria uma boa ideia apenas para agradar a Liliana, ainda que ela não seja absolutamente nada minha e sequer esteja na minha casa.

Suspiro.

— Eu limparei, Gail.

— Não, não — ela recua, parece ofendida e seus olhos castanhos se enchem de faísca — senhor Grey, isso é um absurdo.

— Gail, ela é minha.

— E essa casa sou eu quem mantém limpa. Não vou deixar que o senhor mexa com isso.

— Como não? Senhora Jones...

— Senhor Grey, não me ofenda com essa ladainha. Eu ganho mais do que o suficiente para limpar algumas poças de xixi de um filhote. Além do mais, ensinei a ela onde fica o tapetinho do xixi. Ela entendeu bem!

— Deus do céu...

Senhora Jones coloca a mão no quadril e sei que está sendo firme e não há voltas, mas eu ainda sinto que é a minha responsabilidade cuidar de... de... desse ser pequeno e folgado que ainda não tem nome.

Pai Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora