CAPÍTULO 06

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   Desde que decidira que eu tentaria reencontrar a mãe, Amon já havia imaginado centenas de vezes qual seria a reação dela ao escutar que o rapaz e a sua frente era seu filho, aquele que por algum motivo acabou crescendo longe dela. Mas de todas as reações que ele imaginou, a que estava acontecendo há poucos metros de distância definitivamente não era semelhante a nenhuma delas.

     A rainha era um mulher que deveria ter entre quarenta e cinquenta anos, apesar de parecer ser no mínimo uma década mais jovem. Seu cabelo era de um tom de loiro escuro, já com alguns fios grisalhos entre os dourados. O rosto dela era anguloso e elegante, apesar do rapaz constatar que não havia nenhuma semelhança entre ele e a rainha, talvez por ter herdado praticamente 100% da sua fisionomia física do pai, Mamon.

    A reação da inicial mulher foi arquear as sobrancelhas, surpresa, mas se recuperando de forma rápida logo em seguida. Longos segundo se passaram enquanto o bruxo encarava a mãe, que encara de volta com uma expressão indecifrável.

     — Você... Não vai falar nada? — Perguntou Amon, engolindo em seco e dando um passo para frente, sem desviar os olhos dos da rainha, que eram de um azul frio e um tanto apagado. Assim que o bruxo estava perigosamente perto, a rainha deu um passo para trás, não vou estar com medo ou algo do tipo, até porque o seu olhar selvagem não expressava nada além de indiferença, mas sim porque ficou receosa ao ver o rapaz entrando no seu espaço pessoal.

     — Vá embora, rapaz. Saia tão silenciosamente como entrou que não irei contar a ninguém sobre a sua presença aqui. — ela disse, desviando o olhar e dando batidinhas na bainha do vestido longo cravejado com jóias, como se estivesse tirando algum pó invisível dali e sequer suportasse continuar olhando para o bruxo.

    — O que?! Você é minha mãe. — Amon engoliu em seco, sem conseguir acreditar nisso. Ele deu mais um passo para frente, e dessa vez Rose não se afastou no centímetro sequer, erguendo o queixo e desafiando o bruxo a tentar fazer alguma coisa.

    — Vá embora antes que eu chame os guardas reais.

    — Por que?! Eu só queria que você me explicasse porque me abandonou!! Eu sou seu filho!!

     — Meu filho?! Você era só parte de um acordo, garoto! — a mulher rosnou de volta, fazendo o bruxo morder o lábio com tanta força que ele sentiu algo quente e um tanto viscoso escorrendo contra a sua língua. Amon não conseguia sentir o gosto metálico por causa do feitiço que retirou o seu paladar, mas não precisava de gosto nenhum para saber que sua boca estava sangrando devido à mordida.

   A mulher deve ter visto nos seus olhos que ele não iria ao lugar nenhum sem ao menos ter uma explicação, porque soltou um suspiro irritado e começou a andar em direção a uma das muitas portas que haviam no corredor, indicando para que o bruxo a seguisse. Amon começou a andar atrás dela em passos pesados e irritados, com os punhos cerrados e uma fúria misturada com tristeza reverberando pelo seu corpo, deixando seu coração pesado.

     O cômodo que se estendia diante dele era uma enorme biblioteca, e assim que passou pela porta, ela foi fechada atrás dele.

     — por que me abandonou? Por que está me tratando assim? — exigiu saber, vendo a mãe caminhar até uma mesa que havia no centro da biblioteca, pegar uma garrafa de vidro escuro e despejar um pouco do conteúdo dela numa taça de cristal, antes de levá-la até os lábios beber tudo com o único gole, ainda com aquele olhar irritado no rosto.

     — Como falei antes, você não passou de um acordo. — ela disse com tranquilidade, como se estivesse falando sobre o clima. O bruxo soltou um rosnado de indignação, tentando saber porque raios aquela mulher, que havia lhe dado à luz, estava o tratando daquele jeito.

A SOMBRA DO CORVO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora