CAPÍTULO 01

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   Mamon, o milenar demônio da riqueza e dono de um dos mais importantes territórios de todo a dimensão infernal, soltou um grunhido de pura irritação, sem sequer se preocupar em esconder isso. Para os humanos, que tinham uma visão muito vaga, porém não completamente errada, Mamon era o demônio ligado ao acúmulo de bens materiais, à quem deveriam chamar e implorar por um pacto caso fossem tolos o suficiente para se atrevem à fazer um acordo com um ser da terceira dimensão. Mas o grande corvo branco (como era chamado por boa parte dos indivíduos da sua própria espécie) ficou conhecido como "demônio da riqueza" justamente por ter o reino infernal mais rico, com mais ouro, diamantes, minas de tudo quanto fosse material e diversas outras outras.

    O fato de ter tudo o que queria por milhares de anos deixou Mamon incrivelmente egoísta, e se tinha uma coisa que ele definitivamente odiava, era não estar no controle das situações. Mamon odiava ser pego de surpresa.

    Para um ser que já havia vivido milhares de anos, um dia se passava em um piscar de olhos, e eram justamente simples acontecimentos em um dia comum que poderiam abalar a estrutura de mundos inteiros, e isso deixava o demônio incrivelmente irritado. Ele não gostava da imprevisibilidade do dia a dia e nem de ser bruscamente tirado da sua fática rotina.

     O demônio soltou um suspiro longo novamente e voltou à encarar os diversos papéis na sua mesa. O escritório de Mamon ficava no subsolo da sua enorme mansão e tinha curiosamente um formato circular, com uma mesa de madeira de cerejeira no centro dele. O chão era revestido de um carpete branco, havia estantes cobrindo boa parte das paredes circulares da esquerda, enquanto documentos ficam nas prateleiras e gavetas da direita, deixando um espaço de cerca de três metros entre os dois agrupamentos distintos de estantes. Esse espaço era preenchido por um gigantesco mapa retangular, que era uma réplica exata do mundo de Mamon, com todos os reinos e cidades infernais cuidadosamente demarcadas em alto-relevo, e além disso, o mapa era enfeitiçado para mudar instantaneamente caso alguma coisa mudasse na vida real.

   Apesar do cômodo estar pouco iluminado, Mamon enxergava perfeitamente os documentos que estavam sobre a sua mesa. A visão sobrehumana era apenas mais uma das suas inúmeras habilidades. Ele estava passando os olhos sobre as letras de forma rápida, apesar de não estar lendo (e entendendo) de verdade o que estava escrito ali, pois sua mente estava em um lugar completamente diferente.

    Mamon não se importou à ter que esperar mais de vinte anos para finalmente conseguir levar Amon para o seu reino. Para um ser que viveu por milênios, aqueles vinte anos iriam se passar num piscar de olhos. Mas o que definitivamente estava irritando Manon era o fato de que quando finalmente havia conseguido trazer o filho para casa, um erro de cálculo mudou rapidamente as posições das peças de xadrez que eram aquilo tudo. Mamon se amaldiçoou internamente por ter trazido consigo também o principezinho que estava com as tripas praticamente saltando para fora da sua barriga naquele dia na neve. No calor do momento, o demônio só pensou em agradar o filho, trazendo seu amante também para que ele não se sentisse tão solitário nos primeiros dias. Um humano à mais não iria fazer diferença alguma para Mamon, mas ele grunhiu baixinho ao perceber que deveria ter sido bem mais cuidadoso.

    Benjamin em si não possuía um cheiro de magia, como qualquer outro bruxo teria, e isso deixou Mamon bastante confuso, pois Leviatã também era um dos príncipes infernais mais poderosos (O corvo branco jamais admitiria, mas sabia que a influência de Leviatã era maior que a sua naqueles tempos). O problema era que mesmo não possuindo o cheiro característico da magia, aquele rapaz definitivamente possuía um cheiro... Não humano, que no calor do momento foi completamente ignorado por Mamon, pois na segunda dimensão, de onde os dois rapazes eram (a "terra", como muitos gostam de chamar) também contava com seus próprios seres mágicos, apesar de serem poucos. Mamon pressupôs que o cheiro curioso poderia ser por Benjamin ter sangue de algum lobisomem, fada, ou qualquer coisa do tipo, dissolvido através das gerações, e não que o rapaz fosse simplesmente A PORRA DE UM DESCENDENTE DIRETO DE LEVIATÃ. não um demôniozinho simples que você encontra por aí, MAS SIM LEVIATÃ.

A SOMBRA DO CORVO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora