CAPÍTULO 09

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   Após acabarem de comer, Amon colocou todas as suas poucas roupas dentro de um saco de linho marrom, que havia surrupiado alguns dias antes de um pequeno mercado no centro da cidade, onde também havia roubado a carne seca. O bruxo não tinha mais do que três pares de roupa (contando com o que estava vestindo e o casaco que emprestou para Benjamin), além de possuir apenas aquele par de botas.

    As poucas moedas de prata e bronze que o bruxo tinha chacoalhavam de forma reconfortante dentro de um dos bolsos da sua calça. Ele marchou até a cozinha e também colocou dentro do saco os pães e a carne seca, antes de lançar um último olhar para o interior do chalé, soltando um suspiro e se despedindo mentalmente do lugar, que apesar de ser apenas mais um dos inúmeros lugares em que morou, foi seu lar durante meses. Amon se recusou à ficar triste por sair daquela cidadezinha que só trouxe desgraças para a sua vida, onde a mulher horrível que pensou ser sua mãe morava. Amon decidiu que à partir daquele dia não pensaria na rainha por um segundo sequer. Ele nunca havia tido uma mãe.

    Amon abriu a porta do chalé, guardando cada uma das memórias que havia do lugar no fundo da sua mente. Talvez elas servissem para trocar por alguns feitiços simples dali um tempo.

     — Para onde você vai? — Benjamin, que estava seguindo o bruxo como um cachorrinho sem ter para onde ir, perguntou.

    — Sul. — respondeu o bruxo vagamente. Com o canto dos olhos, ele ainda conseguia ver a luz que vinha da fogueira do quarto. Ela ficaria acesa por mais algum tempo, até o efeito do feitiço acabar. Amon poderia dar um jeito de apaga-la, mas não dava importância o suficiente para aquilo para executar outro feitiço. Talvez o fogo se alastrasse dali a um tempo e queimasse todo o chalé. Amon considerou que se fosse o caso, poderia pelo menos apagar com qualquer evidência de que ele estava morando alí.

     — Se importa se eu for com você? Não tem mais nada aqui pra mim mesmo. Era só uma questão de tempo até meu pai tentar se livrar de mim. — O príncipe deu um passo incerto na direção do outro rapaz, que analisou o seu rosto por um rápido instante. A covinha no seu queixo ficava ainda mais profunda quando benjamin tensionava o maxilar quadrado.

     — Você não vai me atrapalhar, não é? — Questionou Amon, que sabia desde já que era uma péssima, muito, muito péssima, ideia levar aquele príncipe bocó consigo.

     — Não. Prometo que não. — Respondeu Benjamin rapidamente, então o bruxo confirmou levemente com cabeça e deu meia-volta, já começando a andar para fora, sendo recebido pelo vento frio do lado de fora, jogando o saco com suas coisas em cima do ombro e pendendo o corpo para o lado oposto para tentar compensar o peso. Assim que Benjamin cruzou a porta, o bruxo sequer se deu o trabalho de fecha-la ou olhar para trás. A partir daquele momento aquele chalé e tudo que ainda havia lá dentro não pertencia mais à ele.

    O bruxo sempre costumava andar longe das estradas mais conhecidas, sempre preferindo trilhas que acompanhassem o mesmo sentido delas. Além disso, ele não tinha um cavalo, então viagens sempre demorava vários e vários dias de caminhada. Amon desconfiou que o príncipe, que sempre tinha andado de carruagem, não estava preparado para fazer tal viagem, mas mesmo assim ficou calado, não querendo desanimar seu curioso companheiro logo nos primeiros minutos de caminhada.

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    — Você... Escutou isso? — Benjamin perguntou, sua voz quase inaudível, meia hora depois, enquanto estavam caminhando na floresta congelada.

     — O que? — Amon olhou para trás e encarou o moreno, tomando cuidado para falar baixinho também. Ao invés de responder, Benjamin ficou completamente parado como uma estátua, como se quisesse fazer o mínimo de barulho possível, para que ambos conseguissem escutar... O que quer que ele tivesse escutado.

A SOMBRA DO CORVO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora