O julgamento injusto, o preço de uma vida e um passarinho perdido.

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Às vezes quando Mary estava de bom humor ela acordava Neil bem cedo fazendo ele sair pela janela do quarto e se sentar no telhado com ela para juntos ver o nascer do sol

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Às vezes quando Mary estava de bom humor ela acordava Neil bem cedo fazendo ele sair pela janela do quarto e se sentar no telhado com ela para juntos ver o nascer do sol. Isso aconteceu tão poucas vezes que dava pra contar em uma só mão, a última, o mundo já tinha entrado naquele maldito colapso. Ela o acordou, ainda sonolento ele se arrastou para fora da janela e se sentou no telhado deixando que a ventania lhe açoitasse sendo como um despertador para sua sonolência.

Naquele dia o céu estava banhado pelo vermelho, era bonito, mas Neil sabia que talvez o mundo estivesse pedindo socorro.

Olhou pra rua que estava silenciosa demais, não era como a dias atrás quando tudo começou. Nathan e seus homens haviam feito um limpa ao redor dela, o que significava que no momento o lugar estava seguro.

Ele lembrou que antes, quando se sentou ali das outras vezes ficava reparando nos vizinhos. Como não podia sair e não conhecia ninguém bastava ficar observando, vez ou outra pegava alguém correndo ou fazendo caminhadas.

Sua casa era enorme, pegando quase todo o quarteirão, o que significava que eles não tinham vizinhos dos lados apenas na frente. E ainda sim, eram todos muito discretos, o que era uma coisa boa pra Nathan e seus negócios sujos.

Imaginou o que deveria ter acontecido com todos eles depois que o apocalipse explodiu, será que estavam escondidos lá dentro, morreram ou se debandaram para outro lugar? Essa era uma dúvida frequente na cabeça dele, o que aconteceu com o mundo? Havia outros vivos e como estavam vivendo?

Queria poder fazer essas perguntas para a mãe, mas tinha medo da resposta. Tinha medo da mulher acabar com os resquícios de esperança que ainda o sustentavam. Porque se tudo realmente tivesse acabado, pra que continuar vivendo? Qual era o sentido de continuar tentando sobreviver num mundo como aquele? Mas virar uma daquelas coisas rastejantes o assustava mais do que continuar sendo um sobrevivente.

Neil viu alguns pássaros bem distantes voando, o que fez surgir ainda mais perguntas em sua cabeça, mas sabia que ninguém tinha as respostas. Não naquela casa.

Aquele momento de calmaria o reconfortou. Queria poder ficar ali pra sempre. Mas então uma agitação surgiu no pátio inferior da casa, seu pai apareceu no gramado segurando um garoto, mais velho que Neil, pelo pescoço, era o sobrinho de um dos homens de Nathan.

Depois que a doença canibal culminou, alguns dos capangas de Nathan trouxeram a família. Seu pai não se opôs porque aquele era o único jeito de formar uma comunidade com mais chances de sobrevivência, e como seus homens já eram todos de confiança isso se tornaria mais fácil, porque Nathan queria pessoas como ele, sem medo de morrer e matar, mas que sobretudo respeitasse sua soberania.

Nathan jogou o garoto no chão, Romero apareceu logo atrás com Lola sorrindo ao seu encalço, ela sempre sorria em momentos assim, como se a desgraça dos outros a divertisse.

O garoto tinha cabelos compridos que se encontravam amarrados de uma forma desleixada, quando foi jogado ao chão ele apoiou as mãos no gramado e isso o impediu de ir de cara no chão, Nathan o chutou no estômago e Neil pode escutar o gemido sofrido e a arfada em busca de ar.

Eu, você e o fim do mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora