9- A Noite e a Flor da Noite

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O domingo amanheceu frio e chuvoso. As gotas precipitavam de forma ríspida até o chão. Da visão que tinha do seu apartamento, Louis se preparava para encarar a estrada naquela manhã em tom de cinza escuro. As nuvens negras tomavam todo o céu, iluminando a medida que alguns raios tingiam a imensidão negra de branco.

Tragou a fumaça do cigarro para seus pulmões, soltando-a enquanto a via se dissipar entre a chuva. Apagou a faísca do filtro no cinzeiro, deixando seu vapor para trás.

Alinhou o sobretudo preto que vestia, se concentrando em pegar o que precisava para a viagem. Abriu a porta do apartamento, descendo pelas escadas que levavam até o estacionamento. Não teria paciência para lidar com Júlia naquele dia.

Chegou rapidamente no estacionamento, após descer as escadas da mesma forma que se lembrava quando era criança. Sorriu com a nostalgia, por mais que aquele sentimento não fosse desejado.

Na estrada até Doncaster felizmente não foi encontrado nenhum problema no caminho, pela chuva poucos se arriscavam a sair de casa, deixando as ruas vazias e um espaço amplo para dirigir. Ao chegar na cidade, precisou apenas lidar com a garoa incessante e silenciosa que caía no lugar da precipitação tortuosa de Londres.

Entrou nas conhecidas ruas pacatas e vazias da cidadezinha em que cresceu. O cemitério local era um lugar parcialmente organizado, com lápides acrescentando seu lugar sobre a grama verde e em alguns pontos lamacentos pelas chuvas recorrentes.

Do seu campo de visão já pôde ver sua família próxima. Sua mãe estava com a cabeça baixa, os cabelos castanhos pendendo sobre seu rosto de aparência exausta e dolorosa. Daniel, padrasto de Louis estava tocando seu ombro, buscando trazer o conforto necessário para acalentar o coração de uma mãe que perdeu sua filha precocemente.

Caminhou lentamente, como se temesse que seus passos lhe trouxessem novamente às lembranças dolorosas. Sentia seu peito apertar com a dor da culpa, que se materializava em uma mão impetuosamente impiedosa que perfurava seu coração ferido em um aperto sufocante.

Tocou o ombros de Lottie, a única que encarava a lápide de canto. Desde pequenos partilhavam a mesma dor, sendo unidos pelo elo fraternal de uma maneira mais intensa. A mulher lhe olhou com os olhos azuis brilhando em lágrimas, sentindo alívio em seu peito ao solta-las estando sob o aperto caloroso do abraço do irmão.

O carpir baixinho de ambos soava entre seus corpos, tornando o momento doloroso de mais para evitar as lágrimas.

- Lou... -A voz da irmã soou abafada e sem forças- Por que é tão difícil?

Louis não tinha a respostas. Ele se questionava todas as manhãs sobre o porque não era ele no seu lugar enquanto a culpa o consumia. Queria colocar suas aflições em algo como seu pai fez covardemente, mas como poderia fazer isso sendo que sabia que era merecedor delas?

Daisy e Phoebe logo se juntaram aos irmãos. Os quatro pares de olhos azuis refletiam tristeza e angústia. Daisy lhe entregou um lírio amarelo, as flores favoritas da falecida.

Cada membro da família segurava uma flor, aguardando sua vez de colocar sobre o túmulo da garota.

Em uma coreografia que já sabiam de cor, cada um, do mais velho ao mais novo levou a flor que levava consigo até a lápide à frente. O choro era frenético, pausando apenas para inspirar o ar novamente aos pulmões quando lhes faltava.

First Conflicts -lsOnde histórias criam vida. Descubra agora