Apenas um pedido.

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Kelvin:

Fiquei um pouco mais tranquilo depois que Ramiro respondeu minhas mensagens, eu senti a voz dele estranha mas não era o momento para perguntar. Sobre meu aniversário, foram altas emoções - boas e ruins - foi um dia que tinha tudo para ser perfeito, mas muitas coisas estragaram ele. Uma hora dessas poderia estar agarradinho com Ramiro, como a vida é injusta, estou no meu quarto deitado esperando o sono chegar.

Enquanto lembrava do dia de hoje, pensei no Henrique, ele vai viajar amanhã e a despedida que tivemos foi muito conflituosa. Refleti que era melhor ir na pousada me despedir da forma certa, ele me ajudou muito esse tempo que esteve aqui - principalmente quando eu estava doente. Chegando lá, vi que a Nina estava indo embora. 

- Nina! O Henrique tá aí na pousada ainda? - Pergunto.

- Ah, oi Kelvin! - Nina sorri, - O Henrique tá sim, aliás fiquei sabendo que hoje foi seu aniversário, parabéns.

- Obrigada! Qual o número do quarto mesmo?

- É o 6.


 Ramiro:

Quando chegou a hora de dormir, levei minha mãe para o quarto, ela se deitou satisfeita e sorridente, cantarolando. Ela pediu para eu guardar as linhas de tricô - que eu prefiro chamar de crochê - no armário,lá havia umas fotos minha quando era pequeno com a família e um carrinho de madeira - já meio mofado.

- Gosta de ver fotos antigas, né meu fio'? - Minha mãe fala com a voz um pouco rouca - Sempre foi assim.

- Eu gosto e ao mesmo tempo num gosto, o passado é bom, mas nem gosto de lembrar dele. - Suspiro fundo.

- Eu sei, mas é mió cê esquecer essas coisas ruins que aconteceram, já passou. - Ela fala calma.

- Como? Eu agradeço por aquele homem ter morrido da pior maneira possível! - Falo com raiva.

- Num fala assim, era seu pai... - Ela me olha meio incrédula.

Quem simplesmente escuta apenas eu falar do meu pai sem saber do que real mente aconteceu no passado, me julga. Mas ele... é o pior homem que eu conheci em toda a minha vida, ou talvez o mais imbecil. Talvez meu comportamento as vezes se pareça um pouco com o dele. Ele era um homem de mente vazia e fechada, que achava que estava no controle de tudo e de todos, com uma personalidade machista e controladora. Dos meus 5 até meus 16 por aí, sempre via ela chegar em casa bêbado e agressivo com minha mãe, ele não trabalhava e ela... ah ela sempre reclamava. Até que um belo dia, fomos até a casa de minha avó - Quando ela era viva, tinha lá para meus catorze ou quinze anos - e voltamos à noite, tudo parecia bem tranquilo, mas na verdade estava perto de acontecer uma tragédia. Meu pai estava bebâdo e com outra em casa, minha mãe começou a chorar e xingar meu pai, que revidou e eu acabei entrando na discussão também, único problema foi a violência física... Não quero entrar em detalhes.

- Ramiro? - Minha mãe interrompe meus pensamentos. 

- Hm? - Falo um pouco desinteressado.

- Queria te pedir uma coisa, vai parecer um pouco estranho, mas eu quero conhecer seu amigo, Kelvin, né? - Senti um frio na barriga enquanto ela falava, "por que ela quer conhecer o Kevin'?", pensei - Acho que isso vai ser bom, tanto pra mim, quanto pr'ocê, quanto pra ele. - No pensamento falei "não, não, não" - E 'ocê num vai ter a opção de não trazer.

Pensei uns segundos, minha mãe não vai durar mais muito tempo, talvez eu deva trazer o Kelvin, ele com certeza reclamaria muito se ele não conhecesse minha mãe. Concluindo que talvez eu realmente vá buscar o Kelvin para conhecer minha mãe, mas enquanto pensei isso, também pensei que minha mãe julgaria ele, pelo jeito que ele é. Não estou falando que ele é diferente, eu amo ele do jeitinho que ele é, mas minha mãe... ah eu não sei.

Simplesmente, 'ocê - KelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora