Pat chegou na casa dos pais e Eve correu pelo gramado com suas perninhas pequenas e gordinhas e foi até a porta da sala, que estava trancada já que os avós deveriam estar no laboratório ainda.
Eve olhou para trás e fez um bico, chateada por não ter conseguido entrar. Pat segurou a mão da filha e abriu a porta com sua chave e a menina entrou chamando pelos avós, mas ninguém respondeu e ela ficou confusa.
Ela estava habituada a ser recebida com abraços, beijos e festa e hoje estava tudo quieto e vazio. Ela olhou para o pai, que tinha lágrimas nos olhos e ergueu os braços para que ele a pegasse no colo e o abraçou.
“Papai dodói?” Ela perguntou colocando o polegar na boca.
“Não, papai só está cansado. Você quer dormir um pouco com o papai?” Ele sorriu, se esforçando para não chorar na frente dela.
“Papai?” Ela apontou feliz para a porta, esperando Pran entrar.
“Não, papai está trabalhando. Vamos ser só nós dois, pode ser?” Pat a beijou e fez cócegas para se distrair da tristeza que crescia no seu peito.
Quando seus pais chegaram, Eve acordou Pat ao descer da cama sozinha e quase cair. Ele a pegou rápido e segurou forte e ela se assustou mais pela reação dele do que pela quase queda.
Ele desceu até a sala e Eve se jogou nos braços dos avós, bem na hora que seu telefone tocou. Pat se afastou dos pais e falou para Pran onde estava e ele disse que passaria lá assim que saísse da empresa.
Naquela noite, Pran parecia um pouco com quem ele era de verdade. O clima entre os dois ainda estava estranho, porém os dois sentiam falta um do outro e se esforçaram para tentar fingir que estava tudo bem.
Seus pais comentavam sobre o estudo que estavam comandando em parceria com a Universidade onde eles estudavam. Ainda era difícil de acreditar que Pat tinha engravidado mesmo tomando os inibidores, porque dentro dos testes controlados que faziam, poucos eram os voluntários da pesquisa que conseguiam ovular após ficar 72 horas sem a medicação, sendo a média, em geral, em torno de cinco dias para uma limpeza completa no organismo. O caso deles, em que apenas 24 horas foi possível acontecer a concepção, era uma exceção e uma preocupação.
Pat percebia que Pran alongava o pescoço toda vez que seus pais falavam sobre os inibidores, por isso disse que estava cansado e queria ir para casa a fim de evitar uma discussão familiar. Eve dormia no colo de Pran, que se sentou no banco de trás do carro, junto à cadeirinha da filha e Pat dirigiu até a casa deles. Quando chegaram, Pran não desgrudou da filha: deu banho, trocou sua roupa e a colocou para dormir, cantando sua música preferida.
Assim que entrou no quarto, ele foi direto para o banheiro, evitando olhar para o namorado. Seu banho foi demorado, porque tinha receio de ficar ao lado do seu ômega, já que estava com vergonha do seu comportamento na noite passada. Tudo parecia uma lembrança distante, triste, vaga e confusa.
Pat mexia no celular quando ele se deitou, mas Pran sentiu que o corpo dele ficou tenso com a sua aproximação. Isso era tão irritante! Por que seu ômega não entendia que ele o amava e que nunca o machucaria? Pran sentia sua fúria aumentar e Pat, inconscientemente, se afastou ainda distraído pelo telefone.
“Pat!” Pran se sentou na cama de frente para o namorado. Ele não queria brigar, ele não queria se enfurecer, ele não queria que nada disso estivesse acontecendo “Sobre ontem… eu… eu sinto muito.”
“Sobre o que você sente muito?”
Pat estava magoado e Pran sabia. O ímpeto de brigar surgia a cada olhar desafiador que seu namorado lançava e Pran se esforçava para calar essa voz estranha que falava em seu cérebro.