Nani agradecia todos os dias por trabalhar em um lugar que exigia o uso de camisa e gravata, esse era o único jeito de esconder a mordida de Pran logo após o problema que teve com Pat.
Ele preferiria chamar de problema para não ter que assumir sua responsabilidade por ter agido daquela forma. Ele não gostava de lembrar do cheiro de Pat, porque sua boca salivava e sua marca doía, como um lembrete da linha que havia cruzado.
Os vizinhos se mudaram pouco depois do ocorrido e ele quase não pensava neles e, depois de cicatrizada a mordida, Nani optou por fazer uma tatuagem para esconder esse eterno lembrete da sua vergonha.
No entanto, nas últimas semanas, ele estava se sentindo constantemente em alerta e pensava em Pran o tempo todo, como se ele estivesse se preparando para uma batalha que nunca acontecia. Em vários momentos, Nani era atingido por um pico de adrenalina que o impelia a ir ao encontro do seu alfa, disposto a brigar e a morrer por ele. Não havia desejo, somente obrigação de defendê-lo.
Eram momentos curtos e intensos. Uma noite ele se viu obrigado a rondar a casa deles para saber se havia de fato alguma ameaça. Ele não sabia para onde eles haviam se mudado, mas seu instinto o guiava para Pran, para o seu líder e isso causava calafrios e um certo nojo por si mesmo.
A última noite havia sido difícil, ele mal conseguiu dormir, os picos de raiva e adrenalina subiam e desciam durante todo o dia e pareciam cada vez mais fortes. Ele tomava sua terceira xícara de café, após uma noite tão cansativa, quando sentiu uma necessidade avassaladora de sair.
Ele colocou seu tênis, entrou no carro e dirigiu até a casa deles. A garagem estava vazia e parecia não ter ninguém lá. Pran com certeza não estava porque Nani não o sentia ali, apesar da raiva crescer cada vez mais dentro dele. Ele acelerou e deixou que seus instintos o guiassem.
Ao perceber que fazia ultrapassagens perigosas e cortava a frente de outros carros, Nani respirou fundo e tentou não se perder nessa insanidade que tomava conta do seu corpo. Ele precisava correr, havia essa necessidade urgente, mas ele precisaria chegar lá, seja lá onde for, vivo!
Graças a esse mínimo autocontrole, quando Pran se chocou contra a árvore, Nani conseguiu parar o carro no acostamento e gritou de dor. Era insuportável. Ele respirou fundo e ligou o carro novamente e dirigiu até onde seu inconsciente o direcionava.
Quando parou ao lado do carro, em uma estrada abandonada, Nani correu até o veículo acidentado, enquanto apertava sua cabeça e seu peito, como se fosse possível fazer parar de doer. Pran tinha um fio de sangue escorrendo pelo canto da boca, o air bag estava vazio e havia estilhaços de vidro para todos os lados.
Nani puxou a porta amassada com uma força que não sabia que tinha e tocou o pescoço do seu alfa e respirou aliviado porque ainda havia pulso. Ele puxou a pálpebra dele para cima e jogou um feixe de luz com o celular e sua pupila respondia. Mais calmo, ele ligou para a emergência e aguardou a chegada da ambulância.
Nani o acompanhou até o hospital e passou os dados da família de Pran, pois sabia quem eles eram, e ficou aguardando o médico na sala de espera.
Os pais de Pran chegaram um pouco antes de Pat. Ele pretendia deixar Eve com Ink, na casa dos pais, mas a garota se recusava a soltá-lo e por isso ela vinha pendurada em seu pescoço.
Ao notar a presença de Nani, que tinha sido cercado por seus sogros, Pat sentiu suas pernas enfraquecerem e ficou paralisado no meio da sala. Nani o cumprimentou abaixando a cabeça e continuou respondendo às perguntas dos pais de Pran. Na sua versão da história, por coincidência, ele passava de carro pelo local, viu o acidente e reconheceu o carro do amigo.