15 - Taylor I

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Acordei às 08:00 em ponto com meu despertador apitando e vibrando incessantemente do outro lado do quarto. A princípio não senti nada, até me levantar da poltrona que estava sentada de pernas para cima antes. Uma dor aguda se fez presente bem na minha lombar, me arrancando um grunhido de sofrimento.

Ontem à noite, no lugar de ir dormir cedo e descansar, preferi arrumar minhas malas para a viagem que faria hoje às 10:00. Teria me poupado da pressa se tivesse sido avisada com antecedência sobre isso, mas aí também eu nem estaria indo. Enquanto fazia as malas nessa poltrona não tinha muito o que fazer além de dobrar roupas e pensar, então, foi o que fiz: pensei.

Há alguns dias que um assunto específico não sai da minha cabeça, então tenho a ousadia de dispensá-lo. Portanto, pensei a maior parte do tempo sobre a viagem e cheguei a conclusão de que Cara estava certa. Eu estou focada, o que é bom, porém diferente de obcecada. Vai ver eu só preciso de um bom tempo com as minhas amigas e uma colega.

A colega. Esse é o meu assunto específico, até principal. Sou sincera ao dizer que nunca menti para mim mesma. Sei quando estou errada, quando estou aterrorizada, até mesmo quando minto sinto a verdade em minhas entranhas. Não gosto disso, não gosto de me conhecer tanto assim. Gostaria de poder acreditar nas mentiras tanto quanto acredito nas verdades. Se pudesse, faria do irreal o real, mas não posso. Por isso, fujo.

Corro pelas camadas da pele, pelas correntezas das veias e pelos ossos ásperos. Bato de cara nas costelas como se fossem portas de vidro. Continuo correndo. Corro até os joelhos arquejarem e os olhos marejarem com os tornozelos torcidos; tudo para fugir daqui. De mim. Do meu corpo tão real, clamando por outro tão real quanto. Corro dessa vontade. Corro do saber e do desconhecido, reforçando meu título: covarde.

Não posso me julgar pela falta de bravura nesse terreno estrangeiro da minha mente. Nunca mais pisei nessa lua que marquei com uma bandeira rosa, roxa e azul. O que me faz aterrissar aqui de novo e de novo é ela; minha colega. Soube disso quando sua mão encontrava a minha no escuro do carro e quando eu me pegava hipnotizada com seus mirantes na minha boca nas gravações.

Me contei apenas ontem à noite, mas eu já sabia desde o começo. Quando se é jovem, você sabe de tudo; mais velha você consegue até premeditar como fileiras de dominós desabando. Eu sabia quando com “indiferença” falei o nome completo de S/n depois de tantos anos para minha equipe e pedi para que entrassem em contato. Disse que queria apenas ela para aquele papel. Eu simplesmente já sabia.

Mas, ainda quero correr mesmo com os tornozelos torcidos. Isso é impossível, então, apenas me rastejo, perdendo velocidade. Não quero admitir para mim mesma o que sinto bem no meu âmago. É tão forte que, honestamente, dói um pouco. Mas não é por ser ruim. Seja o que for, sei que não é ruim. O que dói é estar exatamente em meu âmago. Profundamente enterrado e escondido, sem chance de notoriedade.

Eu correria por mais tempo na minha mente se meu celular não tocasse de novo, o volume alto do despertador anunciando as 08:15. Passei 15 minutos inteiros em devaneios.

Balancei a cabeça para me livrar dessas bobagens pelo resto do dia. Por hoje, só quero paz e tranquilidade. Nada de pensamentos ou ações que chocariam toda a mídia nesse final de semana. Já estava tudo louco o suficiente com as pessoas falando sem parar sobre nossas aparições juntas em público.

Inclinei meu corpo para frente e para trás com cuidado, sentindo a dorzinha aguda desaparecendo. Girei meu pescoço várias vezes também, amaldiçoando o incômodo na extensão do ombro até a nuca. Vou lembrar disso para nunca mais adormecer em uma poltrona. O que compensa é olhar para o chão e ver minhas duas malas bem montadas. Isso sim vale uma dorzinha fina. Soltei mais um grunhido e fui até o banheiro sem me dar o trabalho de levantar os pés do chão, ouvindo as pantufas se esfregarem no carpete.

Mais que uma noite em NWOnde histórias criam vida. Descubra agora