Taylor estava amarelada por causa das lâmpadas fortes do parque contra sua pele branca, mas os olhos azuis eram inconfundíveis. Eles brilhavam tanto. Me consumiam por inteiro. Eu tinha a lua, as luzes, um gato laranja nos braços, mas nada me iluminava igual aqueles olhos azuis. E esse é o início da sensação que eu queria fugir.
– E foi isso que aconteceu. – Termino de contar o ocorrido do parque para Rebeka que segurava duas barras de chocolate abertas agora e estava sentada com a bunda encima do cartão da síndica.
Ela estava com o gato no colo, tão impactada por sua fofura quanto eu. Ele não miava mais pelo frio enquanto esfregava as orelhas contra o meu moletom que Rebeka usava agora.
Depois que Taylor nos deixou na porta do prédio e esperou do lado de fora até entrarmos seguras, Rebeka estava se dedicando a cuidar de mim. Ela me fez beber mais de dois litros d'água até agora, me encorajando a contar tudo que aconteceu enquanto ela dormia que nem pedra roncando atrás de Robert no carro.
– Não acredito que ela te deu essa coisinha fofa. – Franziu o nariz para o gato enquanto afagava sua barriga. – E ainda te deu tudo que ele precisa. Ração, caixinha, potes, caminha...
– Poisé. Eu também não acredito ainda. – Suspirei profundamente virando mais uns goles de água encarando meu colete preto encima da mesa de centro.
– Vocês formam uma bela dupla, se quer minha opinião – começa ela, meio incerta. – Eu reparei bastante nas duas.
– Hm, reparou? – Tentei parecer desinteressada. – E o que tem?
– Alguma coisa com certeza tem – ela diz olhando diretamente nos meus olhos. Porra, ela sabe mesmo de algo que nem eu mesma sei. – Você sabe o que essa “sensação” quer dizer.
– Eu estava feliz hoje, é isso que quer dizer. – Ergo os ombros e me deito de costas no sofá para encarar apenas o teto branco.
– Não tenho dúvidas – concorda comigo em partes. – Mas você não acha que tem algo a mais? Que te dá um brilho a mais? – Só consigo pensar nos olhos azuis quando ela faz essa pergunta.
– Não, não acho. O que mais seria? – Tento fugir daquilo não querendo admitir nada que me entregasse. Não quero que isso soe como não soa na minha cabeça quando eu botar em palavras. Tenho medo.
– S/n, às vezes uma amizade desperta mais na gente do que a gente espera, sabia? – ela insiste. Ainda bem que não estou olhando diretamente nos seus olhos. Já sinto os meus marejarem e eu nem sei exatamente o porquê. – Eu sinto que com nós duas é assim. Você é a minha melhor amiga da vida toda dentre 8 bilhões de pessoas e até hoje eu agradeço por ter sido perseguida por cachorros raivosos. – Nós duas rimos agora, o riso disfarçando meu nó na garganta. – Você é a pessoa que eu mais quero o bem no mundo todo, você sabe.
– Ei! – a interrompo, desfazendo meu nó na garganta a força e passando meus pulsos em meus olhos. – Eu não sei aonde você quer chegar com isso, mas...
– Deixa eu terminar! – Franziu o cenho, autoritária. Com relutância, me calei. – E é por isso que eu odeio ver primeiro que você quando você está se autossabotando. – Ia abrir a boca para cortá-la novamente, mas ela é ainda mais rápida do que eu. – Uma loira gay te dá flores gigantes, chocolates pra durar por 50 anos a frente apenas por você não respondê-la! Depois arquiteta toda uma festa para você com as amigas famosas e te dá o gato mais fofo do mundo para você vir me dizer que “não tem algo a mais”?! Você só pode estar brincando comigo!
– Rebeka! – a repreendo. – Supondo que eu sei do que você está falando: você está louca! – Separo minhas coxas para poder erguer meu pescoço e olhar seu rosto de novo. – Antes disso tudo eu nem conseguia olhar a cara dela numa revista sem riscar tudo com tinta preta. – Reviro os olhos.
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Mais que uma noite em NW
RomanceS/n é uma mulher que já teve os olhos doloridos por flashs frenéticos no tapete vermelho; que já foi conhecida pelo nome estampado em letras douradas nos teatros e cinemas; participava de todas premiações para ganhar; até que, bom, sua carreira foi...