05 ─ Cicatrizes Invisíveis.

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Às vezes, o mundo parece desacelerar, e cada momento se estende, tornando-se uma eternidade

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Às vezes, o mundo parece desacelerar, e cada momento se estende, tornando-se uma eternidade. Nessas horas, sinto cada batida do meu coração, cada pensamento que ecoa na minha mente como um grito num abismo silencioso. Enquanto a chuva se chocava com o para-brisa eu me perguntava internamente como fui parar naquele estado. Me imaginei daqui a um mês, com as mãos em outro tipo de volante e em uma pista mais desafiadora do que um trânsito de cidade. Não será apenas uma corrida contra adversários de carne e osso; vai ser uma luta contra os fantasmas do meu passado, contra o transtorno de estresse pós-traumático que se aninhou em minha alma após aquele acidente que quase me levou tudo.

Eu me lembro do acidente em flashes, imagens e sons desconexos que se chocam contra minha consciência com a brutalidade de um trovão inesperado. O metal retorcendo, o cheiro de fumaça, o silêncio ensurdecedor após o caos. Desde então, cada som abrupto me transporta de volta para aquele momento, cada noite de sono é uma porta de entrada para pesadelos vividos.

Após libertar Soobin para que ele seguisse seu caminho em um táxi, compelido pela situação, estacionei meu veículo com relutância. Recolhido no confinamento do carro, inclinei-me para frente, ansiando que que a tempestade diminuísse. A chuva, batendo ferozmente contra o teto, parecia ressoar os tumultos do meu coração, um eco do trauma que vivenciei sob seu manto implacável. A noite avançou, e com ela, a tempestade finalmente deu trégua, permitindo-me retornar ao refúgio do meu lar, ainda sob o peso das emoções do dia. Me sentindo frágil.

Ao raiar de um novo dia, depois de ter conseguido dormir por apenas três horas, carregado de expectativas e receios, dirigi-me novamente ao autódromo de Seul, local de meu treinamento.
Ainda remoendo os eventos da noite anterior, a esperança de que a jornada fosse um tanto tranquila habitava em mim. Entretanto, para minha surpresa, a manhã trouxe consigo um encontro inesperado.

Choi Soobin, o rapaz de feições atraentes por quem nutro uma aversão inexplicável, havia chegado ao local, não sozinho, mas acompanhado de Beomgyu, meu psicólogo.
Há cinco anos atrás, depois de ter alta do hospital com três semanas, eu já sentia que tinha algo errado com meus pensamentos, então segui o concelho de toda a equipe e contratei um psicólogo.

A inserção de Soobin, entrelaçada à presença de Beomgyu, adicionou um novo nível de complexidade ao meu processo de recuperação e ao fortalecimento mental necessário para enfrentar os desafios iminentes do circuito. A aversão que nutria por Soobin agora se encontrava entremeada com sentimentos de surpresa e uma curiosidade crescente acerca da dinâmica de sua relação com Beomgyu, esboçando o prelúdio de um dia repleto de imprevisibilidade, tão variável quanto o tempo tempestuoso que havia enfrentado na véspera.

── Notei que a tempestade de ontem foi intensa, Yeon hyung. Conseguiu lidar bem com ela? ─ Beomgyu indagou ao me avistar, tendo Soobin ao seu lado, que me observava com um olhar impregnado de curiosidade.

Beomgyu me chamou de hyung, indicando que nossa conversa seria tranquila, sem posição de paciente e doutor.

── De algum modo, me safei, Beom. Estou me recuperando aos poucos, embora tenha tido pesadelos durante a noite. ─ Respondi, enquanto me desfazia do meu capacete.

── Em momentos assim não hesite em me ligar, tudo bem? Eu e sua equipe temos medo que você passe por uma sobrecarga emocional por conta disso. ─ disse com um olhar sincero.

Choi Beomgyu, em silêncio, se retirou da área externa em que estávamos e entrou caminhando até os outros membros da equipe, provavelmente indo até Kang Taehyun. Na verdade, ambos se odeiam, mas são obrigados a trabalharem juntos.

── O que a bonequinha resolveu vir fazer aqui? ─ questionei a Soobin assim que ficamos à sos. ── É uma área que não aceita visitinhas, anjo.

── Eu não te devo satisfação, "pilotozinho" medroso. ─ respondeu no mesmo tom de intolerância. ── E eu não sou uma visita, sou filho do seu chefe de equipe.

Permaneci em silêncio, encarando seu rosto que não consegue manter a expressão de raiva por muito tempo. Respirei fundo, dando um passo a frente o encarando.

── Pra alguém bonito até que você é bem boca suja. ─ Respondi afoito, chegando um pouco mais perto para falar próximo ao seu ouvido. ── Eu vou te mostrar o que esse pilotozinho medroso pode fazer, e depois, vou fazer você engolir suas próprias palavras.

Me afastei e coloquei o capacete novamente, esperando os mecânicos saírem de perto do carro.

── Taehyun, o treinamento ainda não acabou. ─ anunciei pelo rádio assim que me posicionei no banco.

Kang Taehyun não proferiu nada, apenas se posicionou no muro enquanto arrumava os fones e ignorava Beomgyu ao seu lado.

── Choi Soobin, agora você vai entender porque a fórmula 1 gira em torno de mim. ── Acelerei para fora dos boxes, deixando para trás qualquer vestígio de hesitação.

No muro, Taehyun observava com uma expressão indecifrável, os olhos fixos no carro enquanto eu ganhava velocidade na pista. Cada curva acentuada, cada ultrapassagem, era uma palavra não dita, uma resposta à provocação anterior. Eu estava decidido a mostrar que por trás do título depreciativo de "pilotozinho medroso" havia habilidade, coragem e, acima de tudo, um competidor feroz.
Conforme as voltas se sucediam, podia sentir uma mudança no ar. Eu nunca estive tão rápido como agora, qualquer movimento incalculado poderia ser fatal.

Finalmente fiz a última curva. Continuei com o mesmo ritmo e logo tracei a última volta com segurança e velocidade.

De volta aos boxes, tive um déjà vu após encarar Taehyun. O estrategista abandonou os fones de forma furiosa como na manhã anterior e veio até mim, juntamente com Choi Soobin.

── Você é louco? Yeonjun você acabou de quebrar o seu recorde de volta mais rápido e nem vamos poder usar esse fato! ─ dizia claro e em bom som.

── Relaxa Tae, eu consigo quebrar o recorde novamente. ─ respondi simplesmente, caminhando até parar de frente para o filho do chefe de equipe.

── Você é bem exibido! ─ murmurou.

── Não, Soobin. Assim como você disse quando nos conhecemos, eu sou arte, quase uma poesia. ─ disse em russo, assim como na primeira vez que nos vimos.

Continua...

Continua

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Starboy  ─  Yeonbin.Onde histórias criam vida. Descubra agora