Vinte e três

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Nádia Davenport


Não faço ideia de quantas horas já se passaram, tem algumas goteiras aqui dentro que evidenciam chuva. Tem algumas câmeras no local, e o cheiro de sangue aumentou com a água. Ana tá cantarolando do meu lado e não entendo o porquê dela estar assim, “felizinha” se estamos presas!

— Estou com fome — Reclamei em voz alta, Ana me encarou e sorriu de lado.

— Vai se acostumando! Se for igual à última vez que fui raptada, vamos passar fome. Acredita que o filho da puta do guarda do Romero me deixou com fome porque comeu o meu salgado? — Me conta indignada. Já tinha ouvido essa história, ela não esquece isso jamais. Adam foi quem contou, na verdade, ele gosta de contar toda vez que come a tal comida.

— Ana?

— Hum.

— Supera!

— Nos seus sonhos Nádia, nos seus sonhos. Seu querido pai era um cretino, e ainda tinha guardas piores! — Sei que foi brincando, mas a palavra querido e pai na mesma frase não me caiu bem. 

— Sinto muito Nádia — Ela diz notando a mudança. Dei um meio sorriso para ela dizendo que estava tudo bem.

— Só que algumas feridas devem permanecer no passado, porque se continuarmos mexendo na ferida ela nunca vai cicatrizar — Ela assentiu devagar.

— Soubemos das histórias, mas nunca se eram verdadeiras. Acho que Logan sabia, mas não era assunto dele para revelar. Quando soubemos que estava viva Nádia, queríamos te matar. Mas entendo seu lado, um pai como aquele ou eu o mataria ou faria o que você fez — Ela tem sorte, Afonso Rivera é um ótimo pai e sempre fez de tudo pelos filhos.

— Tudo começou quando eu tinha doze anos, quando ele propôs ao Manoel que Logan se casasse comigo. E Manoel recusou — Conto, me sentindo livre para dizer para alguém além da minha irmã — Aí ele colocou na cabeça que se eu não servisse para ser rainha da Famiglia, eu seria dele. Achei que estava entrando em meu quarto para resolvermos o assunto da minha escola, a diretora tinha mandado um bilhete, mas ele puxou o cinto e me prendeu na cama. Eu só tinha doze anos, o que eu podia fazer contra um homem que tinha o dobro do meu tamanho? 

Uma lágrima caiu devagar pelo rosto dela e meu peito pareceu aliviar um pouco mais.

— Não sei o que deve ter passado, ou o que deve ter sentido. Mas espero que agora Nádia, você pense em seu futuro e que esse cretino não estrague o que você tanto quer. Vi o seu jeito com a Aurora, você quer uma família, quer ser feliz e acha que não tem direito disso — Maldita Ana! Porque aprendeu a ler tão bem as pessoas?!

Sim, eu quero isso tudo! Quero uma vida só minha, sem Romero, sem Noah! Sem nada que envolvesse eles. Quero algo meu! Quero ser feliz.

— Pessoas decepcionam pessoas, e são as decepcionadas que tem que levantar a cabeça e seguir em frente. Não parece justo — Comento. Ana balança a cabeça devagar.

— Não é. E isso até deixa a vida complicada, mas são essas decepções que nos fazem mais fortes. Você virou uma mulher genial Nádia! E o que ele fez não vai mais te afetar, porque você agora é uma nova pessoa — Meus olhos ardem, porque sei que ela está certa. Mudei bastante desde do fim que coloquei, mas as dores ainda estão aqui, as feridas ainda são as mesmas, os calos ainda estão rasgando.

— Espero que ele esteja queimando no inferno — Digo firme.

— É isso aí garota! Por tudo o que ele fez, os abusos, as ofensas, por afastar todo homem que tentava se casar com você….— O que? 

Dois lados opostos - spinoff de um grupo em Nova YorkOnde histórias criam vida. Descubra agora