Trinta e dois

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Nadia Davenport

— Bem-vinda — Jane me cumprimenta assim que entro em meu novo apartamento. Ela era uma das empregadas que trabalhavam para Romero, os olhos vermelhos me dizem que estava chorando, de cabeça baixa ela não sorria e sei o porquê.

— Jane já passou, sei seus motivos — Ela permanece de cabeça baixa, então pego em seu queixo o erguendo.

— Eu tive medo, meu filho na época só tinha dois anos, não sabia como te ajudar sem que meu filho virasse um alvo para ele. — Era isso que o Romero fazia com todos que viviam ao lado dele, arruinar, arruinar todas as vidas. Espero que esteja queimando no quinto dos infernos e que esteja sofrendo cada segundo.

— Eu sei, e não te culpo — Abraço ela com força enquanto ela pede perdão, mas eu não tenho o que perdoar. No lugar dela eu teria feito o mesmo, se ela tivesse tentado me ajudar possivelmente teria acontecido algo com ela ou com o filho e eu nunca me perdoaria.

— Seu quarto está pronto, Raul passou aqui hoje cedo e deixou aquele buquê para você com o bilhete. O ex-advogado de seu pai deixou alguns documentos, coloquei na mesa — Falou enquanto enxugava seu rosto.

— Certo, pode ir Jane. Hoje eu me viro por aqui, amanhã conversamos — Ela assentiu e saiu do meu campo de visão. Fui até a mesa e peguei o bilhete do Raul.

Bem-vinda de volta!
Não será fácil, farei questão de que não seja.
Esse império é dos Bittencourt’s e você não é uma!

Sempre tão amável, querido Raul. O buquê de margaridas é lindo, devo dizer a verdade. Os papéis são sobre toda a herança do Romero, tudo o que tenho agora. Voltar para Las Vegas me trouxe a sensação que há muito tempo eu não sentia. Poder.

Quando aceitei a minha condenação na Famiglia por ameaçar a rainha e a filha do Capo, fiz questão de passar um ano longe. Essa foi a minha única condição, quanto mais longe dos Estados Unidos, melhor! E viver esse tempo na Itália foi bom, conheci de perto a Camorra e acabei me aproximando cada vez mais do Carlos.

Decido ir para o quarto desfazer minhas malas, e assim que abro uma dou de cara com uma peça de dama.

— Tenho uma teoria — Digo, parecendo pensativa ao olhar o tabuleiro na minha frente.
— Qual? — A peste perguntou.
— Você não sabe jogar damas — Comentei ao pontuar mais uma vez.
— Sei sim! — Aurora declarou cruzando os braços.”

Na última vez me ocorreu a ideia de eu mesma adotá-la, mas o que eu daria para a menina? Como dar uma família para uma criança sendo que eu não tive um bom exemplo de laço familiar?

Não sei nem como agir perto dela direito. É melhor ela ficar com uma família que cuide dela, que dê bastante amor e carinho. Eu não sou essa pessoa ideal. Coloco a peça em cima da mesa de cabeceira ao lado de uma peça de baralho, com o logotipo de um dos cassinos do império Bitencourt.

Vou até a varanda e vejo a cidade diante dela, é uma bela cidade, sempre fui apaixonada por ela. Pela loucura interminável, de dia uma cidade normal, a noite uma grande cidade comercial. Homens da sociedade se satisfazendo com a ganância de dinheiro e mulheres. Homens que saem de suas casas com mentiras estampadas em seus rostos.

Somos todos farsantes. Mentirosos. Não importa o quanto tentamos ser bons, porque a partir do momento em que conhecemos o mal, passamos a aprender a usá-lo. E há pessoas que não sabem como usá-lo, e isso acaba sendo péssimo para as pessoas boas.

E essa noite, vão perceber que quem voltou foi Nádia Davenport, não aquela menina de antes. E não vão ter o que fazer, apenas aceitar.

Disse para o grupo que só voltaria amanhã a frequentar os cassinos, mas Sirena deu a ideia de ir hoje. Assim, não vai ter tempo da notícia se espalhar tão rápido. Coloco um vestido vermelho, com as costas nuas, para que minha tatuagem fique bem exposta. Calço meus saltos Louboutin, não abuso de acessórios, mas a pulseira de diamantes com certeza chama atenção.

Não faço uma maquiagem muito forte, mas quando me olho no espelho, vejo o que as pessoas veem em mim. Perigo.

Las Vegas, 29 de maio

Dizem que jogos são manipulados e que é viciante. Quanto mais você ganha, mais quer jogar, só que jogos são sortes lançadas no ar. Você pode ganhar ou pode perder, não se deve contar com a sorte tanto assim. Existem vários tipos de jogadores:

Aquele que sabe perder.
Aquele que joga apenas por jogar.
Aquele que joga até ganhar, não importa quantas vezes perca.
Aquele que acha que vai ganhar.

E não vamos esquecer daquele que faz de tudo para ganhar, não importa o que tenha que apostar. Faz de tudo por dinheiro, e meu trabalho é arrancar cada vez mais dinheiro desses idiotas. Assim que caminho pelo salão, várias cabeças viraram em minha direção, algumas surpresas, outras nem tanto.

— Olha só! Se não é a minha menina Nadja! — Juan sabe que esse não é meu nome, mas desde que venho aqui ele me chama assim. Ele é um dos funcionários mais antigos desse cassino em questão, que escolhi vir essa noite. Quando criança, ele me mostrou cada detalhe desse lugar enquanto Romero entrava em sua sala.

— Olha só se não é meu amigo de jogos! — O abraço apertado. Ele toca meu cabelo e balança a cabeça.

— Não sabe a minha felicidade quando descobri que estava viva, e agora está morena! Devo admitir que é muito melhor que aquele loiro apagado. — Acho graça de sua confissão.

— Vou informar minha irmã sobre isso — Acho graça, ele fez sinal de silêncio e riu junto comigo — Como estão as coisas por aqui?

Pergunto, mas vejo que tudo está bem, o som alto, mas não muito, o suficiente para deixar os clientes satisfeitos. Mulheres rodando pelo salão com suas roupas extravagantes e minúsculas. Um Raul bebendo ao lado de um dos homens mais importantes de Las Vegas, aceno quando me vê.

— Raul comandou bem as coisas por aqui, acho que vai ser difícil ter apoio por aqui, menina Nadja — Juan informa, dou de ombros.

— Adoro um desafio. E o Enrico?

— O pequeno? Desde que completou quatro anos, corre por esse cassino à tarde como se fosse dono, é uma graça — Sorri, afinal ele é apenas uma criança, que infelizmente tem o pai que tem.

Me despeço do Juan e caminho até Raul, o homem deixa a taça na mesa e sorri ao me olhar dos pés à cabeça. O sorriso do homem ao seu lado demora mais ao meu corpo, balanço a cabeça como se soasse um “nem pensar”.

— Nádia, como está? — Sua pergunta soa como se não se interessasse nenhum pouco.

— Bem, e você?

— Ótimo, afinal, você me desceu de cargo, então menos trabalho para mim! — Não foi um sorriso de comemoração, e sim um de “sua vadia imprestável!”

— Que bom que acha isso, então, odiaria te ver infeliz — Alguns me chamam de sínica justamente por isso.

— Vamos, Nádia, vamos jogar um pouco. Deve ter sentido falta.

— Ah, querido, você não imagina o quanto — Sorri enquanto me encarava com o ódio estampado na cara.

Ele pega em minha mão e me acompanha até a mesa de poker. Me sentei na sua frente, cruzei minhas pernas e recebi minhas duas cartas. Analiso meu Às e minha dama. Ah querido…

Ele sorri ao ver suas cartas, parecendo gostar do que vê, ou apenas está camuflando o quanto suas cartas são ruins. Deixo que inicie o jogo, e passamos cerca de dez minutos até que eu anunciei meu Royal flush.

— Impossível! — Raul nem esconde sua raiva mais. Ajeito meu cabelo e passo meu dedo em torno do meu lábio.

— Uma vez, um certo jogador me ensinou que é sempre bom ter um plano B durante o jogo. — Recito o que ele mesmo me ensinou.

— É uma pessoa muito sábia. — Falou antes de virar o líquido âmbar de seu copo todo de uma vez.

— Também acho.

BOM DOMINGO PESSOAL!

espero que tenham gostado do capítulo!

Até logo, bjs. Ana

Dois lados opostos - spinoff de um grupo em Nova YorkOnde histórias criam vida. Descubra agora