Dois

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Dizem que o amor e o ódio andam lado a lado. Será possível te amar enquanto te odeio?

Carlos Rossi


Sabia que ela preferiria a morte do que ajudar crianças necessitadas. Mas não custava nada tentar. Andamos em direção à mansão da Camorra, e isso deixou Luca chorando o caminho todo. Reclamando de dor nas pernas, que era bonito demais para ficar velho rápido.

— Sabia que caminhadas ajudam o corpo, né? — Nádia perguntou a ele. Luca parou, colocou as mãos nos ombros dela e a encarou a sério.

— Prefiro passar horas na academia do que caminhar em um sol quente! — Como eu disse, tão dramático! Nádia tirou as mãos dele de seus ombros e continuou andando.

— Nem tá tão quente — Luca está de óculos de sol, mas dava para ver que revirou os olhos.

— Cobras estão acostumadas com tudo.

Coloco as mãos nos meus bolsos e ando em silêncio, apenas escutando o barulho que há na cidade. Pessoas conversando, sons de carros, e até cheiro de pão posso sentir.

— E aquelas crianças que pegamos no ataque na Rússia? — Nádia perguntou.

— Estão seguras, algumas até já foram devolvidas aos familiares — Comento. Tem uma em questão que se chama Aurora, que está quase impossível encontrar algum familiar. E quando pergunto para alguém da Famíglia, eles se fazem de doidos. Estão escondendo algo…

— E vocês querem que eu seja babá dessas crianças.  Eu só posso estar pagando por tudo que fiz — Nádia olhou para o céu, seu cabelo foi mais para trás e avistei uma cicatriz em seu ombro, como se fosse uma mordida, mas uma tatuagem a escondia.

Havia boatos que ela havia sido estuprada quando criança, nunca soube se era verdade ou não, e tinha certeza que ela nunca me contaria. Quando finalmente chegamos na mansão, Luca parou de reclamar…..

— Finalmente! Achei que ia acabar torrando no sol! — É, nem tanto.

— Já disse! Não está tão quente! — Nádia gritou ao passar pelo portão, os dois seguranças acenaram e a encararam com bastante atenção.

— E eu já disse que cobras estão acostumadas com tudo!

Nádia abriu a porta da frente e parou ao ver Sirena na sala principal com uma prancheta na mão.

— Meu trio de ouro — Ela falou enquanto encarava nós três com um sorriso de lado que cheirava a problemas. Isso não é um bom sinal.

— Bom dia, Sirena — Nádia forçou o mesmo sorriso, se sentou no sofá e cruzou as pernas. Não tem como não reparar nas pernas dessa mulher, são lindas. Há uma tatuagem no tornozelo e uma tornozeleira com brilhantes.

— Estava esperando por vocês! — Ela cruza os braços e observo a tatuagem da Camorra. A mesma que tenho em meu peito. Fazemos um juramento por ser da Camorra, mas eu, por ser Consigliere, fiz outro que vai além de qualquer outra coisa.

A camorra antes do sangue.

Promessas são falhas, mas juramentos são sérios, onde se marca com sangue, borracha nenhuma pode apagar, pano nenhum pode limpar. Uma vez da Camorra, sempre da Camorra.

Nicolas entrou na sala e esse homem tem presença, não por ser marido da minha senhora. Mas ele se infiltrou na Cia por anos, e nunca havia sido pego. E quando fez o juramento da Camorra, não desviou o olhar de sua esposa nem para saber onde estava cortando, e quando o sangue de sua mão pingou nas brasas, ele a olhou e proclamou.

“Acima da Camorra, apenas minha esposa e filha”

Porque era isso que a Famíglia ensinou, juramos apenas para nossa organização e para nossas esposas. Família não vem do sangue, vem de quem está dos nossos lados, independente do que seja.

— Contou para eles amor? — Nicolas se encostou na mesa e abriu um sorriso que me mostrou que seja o que for, estou fodido.

— Iria contar agora, estava esperando os docinhos chegarem. Afinal, qual seria a graça de contar individual? E estou sem um pingo de coragem — Foi ríspida em dizer. Bem, essa é minha chefe — Contaram para Nádia, que ela vai ficar responsável pelas crianças resgatadas, certo?

— Sim, me disseram que eu seria babá. E me nego a isso — Nádia foi rápida em dizer, Sirena ignorou ela como sempre faz quando não, é algo que ela queira escutar.

— Não foi um pedido Nádia, foi uma ordem. Você quer recuperar Las Vegas, certo? Seus cassinos, seu dinheiro…. — Isso despertou um olhar de puro ódio vindo da Nádia.

Nádia ao ameaçar Ada e Luna teve suas consequências, era claro que Logan não ia deixar isso barato. Todas as suas contas estão bloqueadas e ela está suspensa dos comandos dos cassinos, Raul Bittencourt, irmão do Romero, está no comando e isso deve estar fazendo belas dores de cabeça na Nádia. Raul sonha em que Henrico, seu único filho, herde tudo ali. Mas Logan foi firme em dizer que Nádia é quem comanda. Afinal ela merece, Raul acredita que não, afinal ela não é filha biológica do Romero. O mais próximo da família Bittencourt depois do Noah é Henrico. O garoto só tem três anos.

— Vou pelo menos trabalhar sozinha? — Tão animada.

— Não, com o Carlos — Se ferrou mais uma vez em não ter que trabalhar sozinha, ela só trabalha assim, sozinha. Parece até deprimente… espera aí! Comigo?

— O que foi que eu te fiz? — Pergunto à minha chefe, Nick sorri parecendo animado com essa ideia. Mas eu? Não estou nenhum pouco animado.

— Aceitou ser o Consigliere dela, é seu serviço — Estou pior do que aquelas pessoas que vão trabalhar em supermercado, começa como caixa, vai para repositor e depois até limpeza está fazendo.

— Não lembro disso quando fiz meu juramento — Brinco. Nick dá de ombros e descruza os braços.

— Me prometeram férias também, sai daquela CIA e até agora nem sinal das minhas férias — Golpe em cima de golpe. Impressionante.

— O que foi bebê? Tem medo de trabalhar comigo? Que interessante — Ela sorriu e olhou diretamente em meus olhos. Sustentei seu olhar e até mesmo sorri de canto.

— Não gosto de cobras, elas são peçonhentas. Uma enganou até a Eva, que era uma mulher — Afirmo, Nádia deu de ombros e jogou seu cabelo para o lado.

A beleza da Nádia é uma beleza perigosa, ela sabe atrair alguém para o perigo. Uma escuridão que te consome. Seus olhos castanhos brilham, e esse brilho é mais perigoso do que uma arma carregada. Seu cabelo longo castanho ondulado que soube que antes era loiro caiu em seus ombros. A tatuagem da Famíglia é um mero detalhe no corpo dela.

— Isso vai ser tão divertido — Seja lá quanto tempo formos ficar nisso, sei que será um desastre.

— Quero que investiguem e entreguem cada criança e descubram qual foi o soldado que a pegou. Vão pagar por traírem a Camorra —  Há crianças de diversos países, Itália, Turquia, Portugal…

E há traidores. Muitos deles. Se Sirena quer caçá-los, ajudarei no que for preciso.

Dois lados opostos - spinoff de um grupo em Nova YorkOnde histórias criam vida. Descubra agora