Capítulo 62 - Tempo

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Narrador  |  Point of View

Um ano depois…




A luz do sol da tarde filtrava-se suavemente através das copas das árvores, banhando o cemitério em uma luz dourada que conferia ao local uma serenidade quase sobrenatural. Kara, sentada firmemente em sua cadeira de rodas, observava o caminho à frente com um olhar pensativo. Ao seu lado, Griffin, um dos novos seguranças contratados para garantir sua segurança, empurrava a cadeira com cuidado, evitando as raízes salientes e as pedras soltas que poderiam causar desconforto.

Apesar de ser um rosto relativamente novo em sua vida, Griffin havia demonstrado uma competência e um cuidado que Kara não esperava, mas profundamente apreciava. Ele era alto, de postura reta, com um olhar atento que raramente deixava de observar os arredores, buscando sempre por potenciais ameaças. No entanto, naquele momento, sua expressão era suave, ciente da importância daquele lugar e daquele momento para Kara.

O cemitério estava tranquilo, com apenas o som suave dos pássaros cantando e das folhas farfalhando ao vento. A paz do lugar era palpável, quase como se o mundo lá fora, com suas pressas e perigos, não pudessem tocar aquele espaço sagrado. À medida que se aproximavam do destino, Kara sentiu um aperto no coração, uma mistura de saudade e dor, era a primeira vez que ela visitava aquele lugar em um ano após todo aquele incidente.

Finalmente, chegaram à lápide que Kara conhecia tão bem. O nome gravado no mármore era muito querido para ela, um lembrete constante de tudo que havia perdido e do amor que nunca desvaneceria. Griffin parou a cadeira de rodas e deu um passo para trás, permanecendo em silêncio, respeitando o momento.

— Obrigada, Griffin. Eu gostaria de ficar um pouco sozinha agora, se não se importar... Kara, com um suspiro, voltou-se para ele e disse com uma voz suave, mas firme.

Griffin acenou com a cabeça, compreendendo.

— Claro, senhora. Estarei por perto, se precisar de mim. Não hesite em chamar. – Com essas palavras, ele se afastou discretamente, deixando-a sozinha com seus pensamentos e memórias.

Kara olhou para a lápide à sua frente, com as letras gravadas no mármore parecendo se destacar contra a luz do entardecer. Era um momento de conexão profunda, um tempo para falar com aquele que se fora, para compartilhar suas esperanças, medos e as pequenas vitórias do dia a dia. Ali, naquele espaço entre o mundo dos vivos e dos mortos, Kara encontrava um tipo de conforto que nenhum outro lugar lhe proporcionava. Era um lembrete de que, embora a vida pudesse seguir em frente, o amor e as memórias permaneceriam sempre, eternos como as pedras sob as quais repousavam aqueles que partiram.

Naquele cemitério tranquilo, onde o tempo parecia mover-se em um ritmo próprio, desacelerado, Kara encarava a lápide de Jonn com uma intensidade que parecia transcender o espaço entre ela e a memória gravada no mármore. As letras formando o nome de Jonn pareciam gravadas não apenas na pedra, mas também no coração de Kara, um lembrete perpetuo da perda que ela carregava.

As lágrimas começaram a se formar nos olhos de Kara, acumulando-se lentamente antes de transbordarem e deslizarem pelas suas bochechas. Era uma expressão de dor e saudade tão profunda que as palavras mal conseguiam capturar. Ela engoliu em seco, lutando contra o nó em sua garganta, antes de sussurrar, quase inaudível, um pedido de desculpas carregado de angústia e amor.

— Jonn, me desculpe por não ter vindo antes. – Começou Kara, sua voz trêmula denunciando a batalha emocional que travava por dentro. — Foi... difícil para mim aceitar que você se foi. Que todos vocês se foram. — Ela fez uma pausa, tentando reunir forças para continuar. — Na minha mente, eu volto àquela noite, repetidas vezes, imaginando como poderia ter sido diferente. Se houvesse algo que eu pudesse ter feito para impedir a emboscada, para salvar vocês... eu teria feito qualquer coisa, Jonn.

Resentment - Adaptação KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora