Kara Marie Danvers | Point Of View
*Última chamada para o voo 272 com destino a Miami*
Respirei fundo e me levantei, Nia me encarou por alguns segundos e caminhamos lado a lado até o portão de embarque. O silêncio entre nós era um ato de respeito dela, minha amiga sabia muito bem que precisava de tempo para processar as coisas.
Nos sentamos e me remexi um pouco desconfortável com alguns olhares curiosos em mim, faz tempo que não utilizo voos comerciais. Porém a urgência e delicadeza da situação, me forçou a tomar medidas drásticas e rápidas. E o fato de terem seguranças em minha volta, chamavam ainda mais atenção das pessoas.
Por motivo de força maior eu sempre ando com a minha equipe de segurança. Como agora, dois estão sentados nos bancos da frente e dois atrás. A presença deles chama bastante atenção, mas é mais do que necessário tê-los comigo.
Quando o avião levantou voo, fechei os olhos por alguns minutos e tentei acalmar meu coração. Tem um turbilhão de sentimentos e questionamentos, rondando a minha mente. Em meu peito uma angústia com misto de incredulidade. Faz quinze anos que eu não vou a Miami, mas jamais pude imaginar que eu voltaria nessas circunstâncias.
A morte do meu irmão gêmeo veio como uma bomba, servindo a marinha a equipe dele sofreu uma emboscada em uma operação. Meu irmão morreu servindo o país, minha mãe sempre me disse que essa era a vocação dele.
— Como você está? – Nia me trouxe a realidade, eu a encarei por alguns segundos tentando encontrar uma resposta para sua pergunta.
— Não sinto nada. – Fui sincera. — Eu tento sentir alguma coisa, mas quando eu penso nele, eu não sinto absolutamente nada. – Era como se meu próprio irmão fosse um completo desconhecido.
— Não se culpe, Kah. – Nia segurou minha mão e sorriu tentando me tranquilizar. — Depois de tudo que vocês viveram, é compreensível que se sinta assim. – Talvez ela estivesse certa...
Nós compartilhamos o mesmo útero por quase nove meses, normalmente irmãos gêmeos têm uma conexão diferente. Mas comigo e o Clark nunca houve essa conexão, me arrisco a dizer que desde o útero ele competia comigo.
Hoje eu volto a Miami por amor a minha mãe, sabendo que não deve estar sendo fácil para ela. Como mãe eu me coloco no lugar dela, nós nunca imaginamos que um dia poderíamos ter que enterrar nossos próprios filhos. A ordem dos fatos é que o filhos enterrem seus pais, e quando isso inverte, a dor é imensurável.
Por isso me colocando no lugar dela, imaginando como seria insuportavelmente doloroso enterrar meu filho, eu decidi que deveria estar presente do lado dela.
🔹🔸⚜️🔹🔸⚜️🔹🔸⚜️🔹🔸⚜️🔹🔸
— Senhora, as outras equipes notificaram que estão prestes a chegar em Miami. – Jonn falou assim que entramos no carro.
— Certo, o apartamento está todo pronto. Eu preciso ir para casa dos meus pais, vamos deixar Nia antes de seguirmos. – Falei com meus olhos vidrados na janela do carro.
— Acabei de soltar uma nota oficial para imprensa, confirmei que seu irmão foi um dos que vieram a óbito no incidente da Marinha e que nesse momento você precisa de privacidade para se despedir dele junto a sua família. – Nia explicou, ela digitava freneticamente em seu celular.
— Ótimo, não quero especulações e paparazzis em cima de mim. – Suspirei pesadamente, Miami continuava do mesmo jeito de sempre.
— Helena comentou que Kaleb está bastante agitado. – A cautela na voz de Nia, me fez olhar para ela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Resentment - Adaptação Karlena
Fiksi Penggemar🍁 [A D A P T A Ç Ã O] 🍁 Após anos longe de sua cidade natal, Kara retorna para o funeral de seu irmão, que faleceu inesperadamente. Apesar do tempo que passou longe, ela não consegue deixar de lado o ressentimento que carrega pelos acontecimentos...