A Espiã - Livro 3

• 05

Depois de desembarcar em Seattle, vou imediatamente para o apartamento da minha nova vizinha. Estou ansiosa pela surpresa que Jeffrey havia dito, a menos que veja vários estranhos pulando detrás do sofá com serpentinas e balões, não faço ideia do que possa ser essa surpresa. 

Bato na porta, mas não há respostas. Então abro a porta e entro em um apartamento escuro. Não era um lugar tão grande, a cozinha era integrada a sala com janelas grandes, que dava uma visão ótima de Seattle. Por estar tudo fechado, o lugar claramente precisa de um ar fresco. Espero que meu apartamento esteja pelo menos mais arejado.

Observando o apartamento, percebo uma silhueta escura, difícil de distinguir sem a luz, se aproximando. Assim que identifico a figura misteriosa, preciso olhar novamente pela surpresa. A agente Amber Fowler.

- Oi, Emma! - ela indaga. 

Fico paralisada ainda tentando saber se minha mente está me pregando peças quando a Amber Fowler fala novamente.

- Imagino que esteja aqui para pegar as chaves, correto? 

Ainda estou em choque enquanto Amber fala comigo. Depois da missão dos Gallaway, Amber foi afastada da agência e fazia um bom tempo que não via ela. Não tinha noção que ela estaria envolvida nessa missão.

Me questiono se o Jeffrey sabe a diferença entre uma surpresa e um susto?

- Não estou no clima pra briga. 

Fico na defensiva imediatamente. Por todas as brigas que tivemos durante nosso tempo trabalhando juntas, fico só esperando a Amber começar com os insultos de sempre. 

- Eu não quero brigar. - ela diz. 

Amber conseguiu despertar minha curiosidade: algo estranho de acontecer. Um comportamento imprevisível significa menos tempo para se esquivar se ela me der um soco. Mas meu pensamento não continua enquanto a observo atentamente. Não há aquele fogo nela, nenhum vestígio de fumaça. Ela está diferente. 

Então Amber se aproxima ainda mais. Um aroma de asas de frango e molho de churrasco invade meus sentidos. Tenho certeza que isso não é perfume, mas exala de Amber com agressividade.

Ao se aproximar, noto o quanto a agente Fowler se descuidou e está completamente diferente. Não só é questão de ter engordado um pouco, seus cabelos presos em um rabo de cavalo, pareciam não saber o que é ser lavados há um bom tempo. E noto sua roupa larga e com uma mancha enorme de molho na camisa, completamente desleixada. Jamais achei que veria Amber desta forma, não é ela. 

- Como você está? - ela questiona.

- Estou bem. E você?

- É, bem. - Amber dá os ombros. - Aqui está a chave do seu apartamento. 

- Você é minha vizinha? - digo ao pegar as chaves. 

- Sou. Aposto que não esperava por isso. 

- E o Jeffrey obviamente sabe disso?

- Sim. - indaga. - Nós conversamos. Entrei em contato com ele para perguntar se tinha algum caso que eu poderia... - ela para de falar, e sua expressão muda para decepção. - Não importa. Eu me ofereci para organizar um local para você aqui em Seattle. Eu sabia que esse apartamento estava vago, então... 

Posso notar que tem mais coisas sobre essa história dela, mas não tenho certeza se quero ouvir. Parece que só agora estou me acostumando a falar com ela como um ser humano normal. 

- Se precisar de alguma coisa, me avise. Seattle pode ficar muito solitária.

- Qualquer lugar pode ficar solitário. - digo. 

- Acho que é verdade aquilo que dizem: o lar é onde o coração está. 

Contra minha vontade, sinto pena dela. Aparentemente, ela está extremamente solitária. E acho estranho que até agora não teve nenhuma pergunta sobre o Ivan. Nenhuma tentativa de descobrir em que caso estou trabalhando. Atitudes estranhas vindo da Amber. 

- Acho que é melhor eu ir. - falo enquanto me viro para sair. 

- Emma? - ela indaga e me viro para ela. - Gostaria de ir comigo no encontro de fãs do Otto Carson? Ele é aquele...

- Modelo famoso do Instagram. - acabo interrompendo ela. - Sei quem ele é. 

- Seria estranho ir sozinha. Mas eu sou uma grande fã. 

No passado, teria recusado sem pensar duas vezes, mas agora as coisas estão diferentes. 

- Hm, claro. 

- Obrigada! - ela agradece empolgada. - Acho que vai ser divertido. 

- É... Ótimo! Boa noite, Amber. 

Saio do apartamento dela com pressa, desesperada para limpar minha aura desse encontro estranho. Respiro fundo enquanto adentro no meu novo apartamento, esquecendo o aparecimento chocante da Amber quando caminho pela pequena sala. 

O apartamento não era tão grande, mas era completamente mobilhado com um toque bem aconchegante com a decoração boho. Faço um pequeno tour pela casa, levando minhas malas para o quarto. Vou me adaptando a casa nova e depois de um tempo tomo um banho demorado para descansar. 

•••

Depois de uma ótima noite de sono, minha mente se volta para o trabalho ao olhar pro relógio. Ainda tenho um tempo antes de ter que ir para sede da TecRate. Estar preparada é crucial, esse caso é importante e complexo. 

Encontro o arquivo da TecRate e começo a ler a primeira página. Nada menos que informações pessoais do Louis McDowell. Há alguns subtítulos. Preciso escolher qual vou ler, porque simplesmente não há tempo suficiente para ler todos.

Começo lendo sobre sua carreira, ele vendeu a CheckMate, a mídia social que criou cinco anos atrás. E quem comprou foi seu parceiro e investidor, um homem chamado Cooper Hood. Cooper é um banqueiro filantropo que veio de família rica. Leio mais um pouco e os outros detalhes são fatos comuns que já sabia. 

Leio o próximo tópico sobre sobre a infância e personalidade. Os dois pais dele são dentistas. Pelo que vou lendo, ele teve uma infância bem comum e protegida. No arquivo dizia que os professores o descreviam como um aluno brilhante e criativo. Parece ser um anjo com tudo o que leio, precisa ter algo de errado com ele. 

Lendo um pouco mais, descubro o único defeito dele. Ele tem medo de multidões. Inevitavelmente, balanço a cabeça, sorrindo enquanto leio. Basicamente estou lidando com um santo de terno. Adorável. 

Descendo para o próximo tópico sobre relacionamentos, surpreendentemente, esse seção consiste de um único parágrafo. Por ele ser famoso e bem-sucedido era de se imaginar que ele já teria tido diversos relacionamentos. Mas não existe quase nenhuma informação sobre seu histórico de relacionamentos. Exceto por um pequeno detalhe interessante, ele teve um caso com uma colega de trabalho. 

Fico um pouco decepcionada por não tem mais informações. E ainda estou longe de ter matado minha sede por informações. Nada que bisbilhotá-lo em uma mídia social não conserte. 

Encontro o Instagram de Louis McDowell e começo a olhar as fotos dele. Passando pelo feed, ele exala sensualidade e poder em todas as fotos. Mas uma foto em particular rouba a minha atenção. A legenda diz: "Comemorando cinco anos de TecRate. Nada pode nos parar agora. Quatro fundadores antes, quatro fundadores agora, quatro fundadores para sempre.". 

Na foto havia quatro pessoas, reconheço Philip Dyer, a única outra pessoa marcada é a mulher de cabelos pretos chamada Lily. Já a outra mulher mais velha e de cabelos loiros permanece anônima. 

Olho para o relógio de novo e acabou o tempo. Preciso me arrumar pro meu primeiro dia de trabalho. A ansiedade me consome, mas fico com aquela foto bem gravada na minha cabeça, preciso descobrir quem é outra fundadora e saber se ela tem algo com esse caso.