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O encontro íntimo no armário ainda está em minha mente quando volto para o meu apartamento. Mas, mesmo sendo consumida por pensamento eróticos, decido ir ver como a Amber está. Me sinto um pouco mal por tê-la deixado sozinha no encontro de fãs.

Depois de uma batida rápida, Amber me convida para entrar. Quando entro, ela me encara com curiosidade. 

- Você acabou de acordar? - ela indaga. 

- Não. Acabei de voltar do trabalho.

- Você está... - ela me encara de cima a baixo. - Uma bagunça. E suas bochechas estão vermelhas. Você lutou com um touro ou transou com alguém?

Amber é a típica espiã. Não deixa nada passar. Velhos hábitos nunca mudam mesmo. 

- Sim! Um touro selvagem em busca de sangue. - digo, entrando na brincadeira.

- Tenho pena do touro.

Amber morde uma coxa de frango e só agora que percebo o balde de frango frito enorme debaixo do braço dela.

- Sério? - indago.

- O quê? - ela responde confusa.

- Daria no mesmo se você fosse tomar óleo direto na veia. - digo. - Você não come mais nada? Isso não é nada saudável.

- Céus, madre Teresa! - ela revira os olhos. - Desde quando você é a minha mãe?

Não quero ser a mãe de Amber, mas sinto que se eu não fizer uma intervenção, a Amber vai entrar em coma induzido por fast food. Então tiro o balde de frango frito dela.

- Me leve pra sua cozinha! Agora! 

Amber me leva até a cozinha dela e, reviro os armários e a geladeira em busca de alguma coisa diferente e sem ser frango. Pouco tempo depois e com poucos recursos, consigo fazer uma refeição saudável. Sam se senta sob minhas ordens, admirando minhas habilidades culinárias.

- Uau! - ela indaga. - Eu nem sabia que tinha quinoa no armário. 

- Você deve ter comprado em um momento de maior lucidez. - digo. - Agora coma. Seu corpo irá agradecer depois.

Enquanto Amber começa a comer, olho para ela com curiosidade.

- O que está fazendo aqui em Seattle? 

- Eu me mudei para cá por causa de um caso... - ela suspira. - Um caso que estraguei.

- O que houve? 

- O cliente contratou outra agente também. E antes que eu conseguisse alguma coisa, a minha rival já havia exposto a esposa que o traía. Digamos que isso não ajudou em nada a minha reputação. - Amber parece chateada. - Principalmente como investigadora independente. 

- Investigadora independente?

- Sim. Não tenho o apoio de nenhuma agência. É muito difícil encontrar um emprego quando seu último cliente pensa que você não presta no que faz. Foi por isso que entrei em contato com o Jeffrey.  Mas, ao invés de me colocar em um caso, ele me pediu um favor: pra arranjar uma acomodação para você. - ela respira fundo enquanto se encosta na cadeira. - É a coisa mais útil que fiz nos últimos tempos. - Amber abaixa a cabeça. -  Me sinto tão patética. 

- Não é tão ruim assim, Amber. Tenho certeza que conseguirá outro trabalho logo. - tento demonstrar empatia por ela.

- Você sabe como esse ramo é complicado. - Amber olha para o balde abandonado. - Pode me devolver meu balde de frango?

- Definitivamente não. 

- Você não devia ir pra cama? Está tarde.

Mesmo que seja óbvio que a Amber está tentando se livrar de mim para ficar sozinha com suas asinhas de frango, olho para o relógio. 

- Tem razão. - digo, levanto e me dirijo à porta. - Preciso acordar cedo amanhã pra trabalhar. 

- Emma? - Amber me para antes que saia pela porta. - Obrigada pela refeição. E por se importar. 

- Sem problemas. 

Saio do apartamento da Amber, tocada pela gratidão sincera dela e surpresa com a nova relação que está florescendo entre nós. Já passamos por momentos tensos, mas sinto empatia por Amber agora. 

Quando volto para o apartamento, as cenas íntimas no armário voltam à minha mente com toda a força. Não estava esperando pelo que aconteceu no escritório de Louis. 

Mas meu corpo sai do conto erótico, e fico envergonhada quando outro pensamento me atinge. O gravador. 

- Droga! - exclamo. 

Não quero que o Jeffrey ouça nada do que aconteceu naquele armário. Movida pelo horror de um possível constrangimento, decido excluir o áudio do armário da minha nuvem. Já pego meu laptop e abro as gravações, encontrando rapidamente a parte incriminadora. Entre pausar, avançar e rebobinar, também noto a voz do Philip.

Ele está murmurando e xingando a si mesmo. Dificilmente uma conversa importante. Parece que todo mundo tem livre acesso ao escritório do Louis. 

Depois de encontrar o áudio quente, e me encolher de vergonha quando ouço a mim mesma, o excluo o mais rápido possível. Então substituo meu constrangimento por determinação. 

- Amanhã estarei um passo mais perto de resolver esse caso. O sucesso é a única opção. - digo.

O fracasso da carreia de Amber sendo um lembrete assustador, sei que desvendar esse caso é indispensável, e quanto antes melhor. 




A Espiã - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora