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        Capítulo 03

Acordei animado para conhecer a UPA da cidade. Não me importava de todo o restante ser uma porcaria, desde que o trabalho fosse tão mágico quanto fantasiava. Eu estava ansioso para ajudar as pessoas, para me sentir útil de verdade, cumprindo com um propósito.
Fiz a minha higiene matinal e tirei o meu jaleco da mala com um sorriso enorme no rosto. Ao ler meu nome e a palavra “Pediatra” bordados na cor azul, foi impossível não me sentir orgulhoso e animado para finalmente começar a trabalhar.
Ou, como o meu subconsciente gritava, “para começar a fazer a diferença!”.

Calcei o meu sapato de couro italiano, peguei um casaco bem grosso e apanhei a minha mochila em cima da cômoda. Chequei se não estava me esquecendo de mais alguma coisa e então saí da casa.

— Bom dia, vizinho! — A voz animada e grossa fez com que eu me virasse na direção da casa ao lado e encarasse o mesmo homem  que abriu a porta para mim no dia anterior.
Ignorei o cumprimento dele.
Lembrava-me claramente de que ele e seus amigos idiotas haviam rido de mim e da minha briga com a porta. E como me mudaria daquela casa na primeira oportunidade que tivesse, não fazia questão de ser simpático, ainda mais com quem não merecia um pingo da minha simpatia.

“Você não está aqui para ser uma pessoa melhor, Wei Ying ? Então, é melhor começar a praticar!” o meu subconsciente gritou de volta, obrigando-me a parar em frente à casa dele.
Droga.
Nem havia começado e já detestava ser uma pessoa boa.

— Bom dia — respondi de forma seca, ainda a contragosto, travando uma luta interna. Ele estava sentado na mesma cadeira do dia anterior, usava uma camiseta preta e um short de tactel, que deixava as suas coxas grossas à mostra. A única diferença era que no lugar da latinha de cerveja, agora o homem estava acompanhado de uma xícara de café.

— E, a propósito, obrigado pela ajuda com a porta.

— Disponha. — Os olhos dourados dele me engoliam de forma intensa. O olhar quarenta e três me deixou tão desconcertado ao ponto de eu ter que desviar.
— Você ainda não me disse o seu nome. Ou será que devo continuar te chamando de vizinho?

“Se não disse, foi porque não quis” pensei, segurando-me ao máximo para não pronunciar em voz alta.
Forcei um sorriso e respondi:
— Wei Ying .
— Wei Ying ... Um nome quase tão lindo quanto o dono dele.

Essa frase despertou um sorriso de descrença em meus lábios, pois finalmente me dei conta de que ele não havia debochado da minha cara com aquele seu “amor”, no dia anterior.

Tratava-se de uma cantada.
E isso era muito estranho, já que o homem diante de mim era completamente “hetero top”, daqueles em que você coloca os olhos e pensa “definitivamente não!” quanto a possibilidade de se atrair por alguém do mesmo sexo.

— Eu sou  Lan Zhan, mas você pode me chamar do que quiser — meu vizinho continuou, não me poupando de novas investidas.
Meu vizinho era um homem indiscutivelmente atraente.

Não existia discussão alguma quanto a isso, era um fato. No entanto, ele também era padrão demais para mim. E em minha extensa experiência com homens assim, descobri que eram todos muito babacas.
E eu já estava com muitos problemas.

— Lan Zhan,não é? Então... Pra que fique bem claro, isso aqui, nós dois... — Apontei para a gente e, uma vez mais ri, antes de completar: — Não vai rolar!

Ele abriu a boca para rebater, mas eu não permiti, cortando-o: — Então, se eu fosse você, economizaria nessas suas cantadas ruins.

Não esperei pela resposta dele, simplesmente continuei e segui pelo caminho lamacento, esforçando-me ao máximo para desviar das poças de lama.

"UM AMOR DE VIZINHO Onde histórias criam vida. Descubra agora