"UM AMOR DE VIZINHO

07

Capítulo 07

Após beijar o meu vizinho irritante e gostoso, fiz o que qualquer um faria no meu lugar: esforcei-me ao máximo para evitá-lo.
Ao sair de casa pelas manhãs, sempre que o via eu me limitava a um “bom dia, Lan Zhan !” e não deixava com que ele fizesse uma piadinha inconveniente, que certamente levaria a um de seus flertes ruins.
No fim de semana, tranquei-me no apartamento e isso impediu uma das visitinhas surpresas dele.
Isso, estranhamente, acabou dando certo.
Em parte, porque Lan Zhan  não estava mais tão presente quanto nas semanas anteriores. Ele já não desfilava sem camisa pelos quatro cantos do condomínio. Não o via mais sentado em frente ao apartamento um, acompanhado de uma xícara de café.
Isso fez com que eu questionasse se o ele também não estava tentando me evitar.
Na quinta-feira à tarde, quando estava voltando do trabalho, finalmente o vi. Diferente da maior parte das vezes, meu vizinho não estava seminu. Lan Zhan  encontrava-se parado em frente ao apartamento dele, cercado por amigos e isso me lembrou do dia em que cheguei à cidade.
A primeira coisa que notei, foi uma espécie de farda azul e isso me deixou confuso.

“Não!”, minha mente gritou assim que cogitei a ideia de ele ser policial.
“O mais provável é de que seja um gogoboy fantasiado” pensei em resposta.
Contudo, ao passar em frente ao grupinho de homens, notei que o meu vizinho não era o único fardado. Outros dois também usavam o mesmo uniforme.
Estava tão perdido em meus pensamentos que a porta empacou.
E, novamente, foi como reviver o dia em que cheguei.
Dei um chute de frustração e isso atraiu os olhares dos homens na casa ao lado. E, exatamente como da última vez, Lan Zhan  aproximou-se para me ajudar com a porcaria da porta.
Assim que ele o fez, descobri que não era uma farda de policial.
No lado esquerdo estava gravado “bombeiro civil”.
E isso me fez rir, pensando: “esse filho da puta só pode ser um gogoboy”.

— Voltando de uma festinha? — indaguei, quando ele parou na minha frente. Ele franziu a testa e isso me fez completar:
— Desculpa... Voltando do trabalho. Porque você, obviamente, é um gogoboy!

— Gogoboy. Eu? — ele respondeu, depois de pegar a chave da minha mão para abrir a porta. — Obrigado. Vou levar isso aí como um elogio, Wei Ying .
Ele não podia ser um bombeiro de verdade.
Não podia.
Eu me recusava a acreditar.
Lan Zhan  abriu a porta tão facilmente quanto da primeira vez em que havia me auxiliado.

— Prontinho, doutor.
Ele se preparou para retornar para perto dos colegas também bombeiros, mas, antes disso, emendou: — Posso não ser um gogoboy, mas, pra você, até faço um showzinho de strip-tease... É só me pedir, amor.
Meu vizinho piscou e afastou-se, deixando-me tenso ao ponto de me atrapalhar até no momento de entrar no apartamento.
Aproveitei o começo da noite para dar uma ajeitada na casa. Diferentemente de quando morava em Pequim, não tinha mais uma pessoa para fazer esse serviço pra mim. Admitia que estava tentado a colocar um anúncio para achar alguém, entretanto, sempre que ia fazer isso, questionava-me se essa não era uma boa oportunidade para aprender a fazer todas essas coisas das quais eu não estava habituado.
Lavei toda a louça que se acumulou durante a semana e recolhi as coisas que estavam jogadas pelo apartamento. Com uma hora, consegui dar uma boa geral. Cinco minutos depois que acabei, ouvi batidas na porta e isso me levou até ela, para recepcionar quem quer que fosse.
Lan Zhan  estava do lado de fora, segurando um pote coberto por um pano de prato.

— Está com fome? — ele indagou, com um sorriso em seu rosto animado. — Minha mãe mandou especialmente pra você.
Ele tinha falado de mim para a mãe dele?
O meu vizinho me entregou o pote e, como não podia recusar algo assim, simplesmente sorri em agradecimento.
— Obrigado — disse um pouco sem graça.

Lan Zhan  não me deu a chance de dispensá-lo.
— Trouxe pra gente comer junto — ele acrescentou, esclarecendo as coisas. Ao notar o meu sorriso de descrença, Lan Zhan emendou: — Eu preciso garantir que você vai devolver esse pote ou a minha mãe me mata.