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Capítulo 10


— Bom dia, vizinho — Lan Zhan  me cumprimentou no sábado pela manhã, assim que abri a porta da minha casa.
Como prometido, ele continuava trabalhando na calçada, vinha fazendo isso em seu tempo livre desde a semana anterior, quando lembrei-o de nossa aposta. Ela já estava praticamente pronta, precisava apenas de um acabamento.
Não falamos mais sobre o fato de ele ser casado.
O bombeiro continuava agindo como se fosse solteiro, com as mesmas cantadas idiotas.
E eu me detestava por ainda gostar tanto delas, mesmo sabendo que existia uma mulher inocente sendo enganada. Deixei Pequim para me tornar uma pessoa melhor e, aparentemente, me transformei num traidor.
— Bom dia pra quem, Lan Zhan ? — respondi de forma seca, aproximando-me de onde ele estava parado, próximo do cimento molhado.
— Por que você está tão estressado num sábado de manhã, delícia?

Delícia?

— A sua esposa sabe que você fica por aí flertando com outros homens?

— Você ainda não esqueceu isso, Wei Ying ?

Ele não podia estar falando sério.
Como é que eu esqueceria o fato de que ele era casado?
— Eu tenho pena da sua esposa.
— Se conhecesse aquela megera, não teria — ele respondeu, fazendo-me revirar os olhos. — Se você tivesse a mínima ideia do quanto ela é podre, finalmente admitiria que está louquinho pra foder comigo.

Típico.
Por que todo homem casado falava mal da própria esposa?
Em vez de terminar o casamento, eles traiam e ainda colocavam a culpa nas coitadas.
— Porco nojento! — repeti o xingamento daquele dia.
Ele riu e me encarou com aquele seu olhar quarenta e três, cheio de desejo.
— Não vai nem me oferecer um café? — Antes que lhe dissesse um alto e claro “não”, ele acrescentou:
— Passei horas aqui trabalhando na sua calçada.

“Não fez mais que a sua obrigação” senti vontade de pronunciar. No entanto, não iria lhe negar uma xícara de café, mesmo ele sendo um canalha.
Fui buscar o café dele, mesmo a contragosto. Peguei uma capsula que eu sabia que ele gostaria e coloquei na máquina. Assim que terminei, abri a porta e notei que ele estava me esperando na varanda, sentado em um dos degraus.
Juntei-me a ele, sentando-me ao seu lado e lhe entreguei o café.
— Você é muito bom nisso — apenas constatei um fato, depois de observar a calçada. — Como é que você aprendeu a fazer todas essas coisas?
— Não tinha muito trabalho por aqui... Quem não tem terra e trabalha como agricultor, não pode escolher. Então, antes de passar no concurso e me tornar bombeiro, trabalhava como auxiliar de pedreiro. Passei anos fazendo isso, acho que desde a minha adolescência.
Não me segurei e lhe disse:
— Agora pelo menos eu sei de onde essas cantadas vieram.

— Como se você não gostasse de cada uma delas, não é? — ele retrucou, obrigando-me a forçar uma expressão de ofensa, mesmo ele não mentindo quando afirmou que eu gostava delas.
— Quero pagar pelo seu serviço, Lan Zhan  — disse a ele, mudando o rumo da conversa. Definitivamente, não queria estender aquilo. — Sei que foi uma aposta, mas você está gastando com materiais e também tem todo o seu tempo... E agora descobri que você tem até uma mulher pra sustentar.

Ele fez uma careta, antes de responder: — Você pode me convidar pra um jantar.

Balancei a minha cabeça, negando.
Estava claramente me referindo a dinheiro.
— Um sexo gostoso também não seria nada mal.
— Eu estou falando sério!
— Não preciso de caridade sua e de ninguém — ele respondeu, mostrando-se ofendido com a minha oferta.
— Não é caridade, é receber por um trabalho bem-feito — afirmei em minha tentativa de convencê-lo. — É sobre valorizar o seu próprio trabalho.
— Mas eu valorizo o meu trabalho — ele respondeu, teimoso. — E, de qualquer forma, não vai ter recompensação melhor do que acordar de manhã e ver você feliz, saber que você vai conseguir ir pro trabalho sem se sujar.
Isso arrancou um sorriso dos meus lábios.
Ainda estava com muita raiva dele, mas não tinha como negar que havia sido bonitinho.
— Até porque não tem nada mais irritante que os seus chiliques bobos — o cretino prosseguiu, mostrando-me de que não tinha jeito.
— Tudo bem, vizinho. Eu vou preparar o jantar — dessa vez pronunciei com um sorriso na ponta dos lábios. — Aí você traz a sua esposa e a gente conversa sobre o dia em que você chupou a minha bunda.
— Combinado, doutor.

"UM AMOR DE VIZINHO Onde histórias criam vida. Descubra agora