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Capítulo 14

Não esperei por mais nenhuma explicação, simplesmente dei as costas para Lan Zhan  e comecei a andar. E como ele não tentou me seguir, supus que ele também não tinha mais nada para me dizer.
Parecia mentira.
Uma simples piada de mau gosto.
Além do fato de ele ser casado com a única amiga que eu tinha na cidade, havia me dado conta de que a nossa relação não significava nada além de um sexo desafiador para ele, uma aposta estúpida que eu tinha perdido porque não possuía o mínimo de vergonha na cara.
Enquanto caminhava em direção a UPA, comecei a chorar e isso despertou olhares por onde eu passava.
Ainda possuía alguns minutos, que eram mais do que o suficiente para uma ligação rápida, para falar com a única pessoa que seria capaz de me ajudar.
— Ele, o quê? — Qing questionou incrédula, após eu lhe contar o que Lan Zhan  havia feito. A minha irmã não me deu a chance de repetir, dando-lhe mais alguns detalhes da “aposta interna” daquele babaca.
— Ah, meu Deus, você realmente encontrou a sua alma gêmea, Wei Ying.
Foi a minha vez de dizer “o quê?”.
— Alma gêmea? — indaguei, não entendendo aquele surto dela, depois de eu lhe contar algo que havia me machucado profundamente.
— Esse cara só pode ser a sua versão bombeiro — ela respondeu, despertando-me um riso de frustração. Eu estava quase ofendido com aquela insinuação.
— Pelo que você me contou, vocês dois são iguaizinhos, sem tirar nem pôr.
Ela havia enlouquecido?
Diferente do que Qing estava insinuando, eu era completamente diferente de Lan Zhan .
— Não, nós não somos — defendi-me daquela acusação. — Eu sei que posso ser um pouco frio as vezes, mas eu jamais teria feito isso com outra pessoa, Qing. Eu nunca...
— Mas você já fez, Wei Ying... Várias e várias vezes... — ela insistiu. — Você só não inventou uma história de casamento, mas se divertiu com os sentimentos de outras pessoas.  Abri a minha boca para contestar, mas a minha irmã foi mais rápida:
— Lembra do Mingjue?
O que o idiota do Mingjue tinha a ver com essa história?
— Você o convidou pro casamento da tia Mo, apresentou ele pros nossos pais e foi até naquela viagem romântica e estúpida para Paris. E três semanas depois, você o dispensou, agindo como se nunca tivesse dado indício de que queria uma coisa séria. — Assim que notou que eu não lhe diria nada, ela continuou com a sua tese: — Você fez isso com todos que ousaram a se aproximar de você... Talvez não fosse uma aposta interna, mas com certeza era uma diversão.  Qing riu e acrescentou: — Eu te amo, mas você sempre foi terrível, irmão.
A minha boca estava tão aberta que poderia entrar um mosquito.
— Quem foi terrível, foi você — disse sentindo-me atacadíssimo. — Me lembre de nunca mais ligar pra você pedindo conselhos.
— O que eu posso fazer se a minha sinceridade aguda me impede de mentir?
— Tchau, sua cretina — disse a ela, antes de desligar.
Comecei a ligação com lágrimas nos olhos e terminei ela rindo ao me dar conta de que Qing tinha razão, de que eu era a versão médico de Lan Zhan , que havia permitido com que pessoas se aproximassem de mim com o único objetivo de me divertir.
“Diversão”.
Algo que havia me horrorizado em Lan Zhan  agora estava sendo exposto em mim mesmo.
Assim que cheguei do trabalho, o meu vizinho estava parado em frente a minha casa, sentado em um dos degraus, claramente esperando por mim.
Ele se levantou no momento em que me aproximei.
Não queria conversar, pois sabia que nada do que ele me dissesse levaria embora aquele sentimento ruim que estava dentro de mim.
— Eu posso explicar, Wei Ying — ele repetiu, como se já não tivéssemos falado sobre aquilo, como se tudo já não tivesse ficado mais do que claro.
— Não precisa mais se explicar — respondi, desviando-me dele e me aproximando da porta. Queria apenas entrar e ignorá-lo, mas não seria justo com ele. Ao menos, não depois que descobri que era um hipócrita.
— E está tudo bem, Lan Zhan ... Você não tem culpa por eu ter me deixado levar, por eu ter visto algo que claramente não existia.
Entrei em casa e desabei completamente. Toda a minha postura forte e determinado ruiu, deixando óbvio o fato de eu não ser nada daquilo.
Algo no fundo da minha mente gritou: “Você merece tudo isso”.
Uma voz bem parecida com a de Wei Qing.
E eu sabia que era verdade, que aquilo devia ser uma espécie de karma, por todos os corações que eu já havia quebrado.
Eu já havia sido Lan Zhan , uma pessoa que encantava outras por mera diversão, para satisfazer um vazio interno, pelo simples prazer de me ver sendo cortejado. E sempre acabava da mesma forma, comigo indo embora, fugindo dessa relação que eu não queria ter.
Costumava me ver como correto e justo, pois deixava claro para todos eles que eu não queria algo sério — não o suficiente, de acordo com a minha irmã mais nova. Mas, como é descrito nas páginas daquele livro infantil, você é responsável pelas pessoas que cativa.
A verdade é que sabemos quando alguém está interessado em nós. Sentimos a mudança de tratamento, os olhares apaixonados e toda aquela mágica que só existe nos olhos de quem nos observa. Sabemos e, mesmo assim, deixamos isso continuar.
Deixamos porque é conveniente, porque são uma boa companhia.
Ao menos, até deixarem de ser.
E agora, eu estava vivendo isso do outro lado.
Um dia de caça e outro de caçador.
Então, não, eu não podia olhar para o Lan Zhan  e culpá-lo por algo que eu já havia feito. Eu não podia amaldiçoá-lo por não retribuir os sentimentos que eu tinha por ele.
Tive uma crise de choro que durou quase uma hora e quando fui ao banheiro e vi uma meia dele jogada no chão, achei que passaria mais meia-hora chorando, ouvindo uma música triste qualquer.
Sabia que não podia mais continuar vivendo tão próximo assim dele, que esse sentimento maldito não desapareceria se eu continuasse vendo-o desfilar sem camisa sempre que eu saia ou voltava do trabalho.
E isso, num ato bem impulsivo, fez com que eu pegasse o meu celular e ligasse para minha mãe.
— Você estava certa — disse não controlando as minhas lágrimas. — Não deveria ter vindo pra cá.
— Aconteceu alguma coisa, filho? — ela questionou ao notar o tom fragilizado da minha voz. — Está tudo bem?
Não entrei em detalhes, apenas expliquei que não queria mais continuar na cidade, que ela estava certa e que eu havia cometido um erro terrível.
Não era bem uma verdade, mas, naquele momento, queria apenas a aprovação dela, queria ter o seu apoio e sabia que isso não viria sem que dissesse múltiplas vezes a frase: “Você estava certa, mãe”.
— Você parece estar de cabeça quente, querido. — Abri a minha boca para retrucar e provavelmente provar o ponto dela, mas ela não me deu oportunidade de dizer mais nada, acrescentando:
— Por que você não descansa um pouco e depois decide se vai mesmo abandonar o seu trabalho?
Estranhei a sua resposta no mesmo instante.
Desde que havia contado que queria trabalhar em um pequeno município, minha mãe reprovou a ideia e não fez questão de esconder a opinião contrária dela. Mas agora que eu finalmente admitia que estava errado, ela decidia me apoiar naquilo que ela sempre afirmou ser uma loucura?
— Eu pensei que você fosse me apoiar... — as palavras escaparam da minha boca. — Pensei que vibraria de alegria assim que dissesse que estava indo embora daqui.
— Tudo o que eu mais quero, é que você abandone esse lugar horrível e que volte pra casa — ela respondeu, deixando-me confuso. — Mas você não é assim, Wei Ying. O meu filho é teimoso e não abandona as coisas tão facilmente. E, com certeza, ele nunca admitiria que eu estou certa.
— Dessa vez, acho que ele realmente vai abandonar — respondi detestando-me por ser tão fraco. — Não tem como eu continuar nesse lugar, mãe.
— Então esperaremos por você de braços abertos.

(.....)

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