16

372 75 13
                                    

Capítulo 16


Obviamente, eu sabia que eles não estavam juntos. Contudo, apesar de todo o ódio que nutriam um pelo outro, ainda existia um casamento, eles estavam ligados por um contrato e eu queria muito compreender o porquê disso.
— Como essa nossa história bizarra comprova, estamos em uma cidade bem pequena — ele começou claramente referindo-se ao fato de sua “esposa” ser a minha amiga e nós não termos ideia disso até aquele encontro na rua, quando toda a bosta foi jogada no ventilador.
— Todo mundo aqui me conhece, tem gente que me viu crescer. E isso significa que as pessoas sabiam e que comentavam exaustivamente sobre o meu casamento fracassado, que isso foi o tópico de fofoca dessa cidade por meses a fio.
Eu não conseguia nem imaginar.
Em Pequim, no meu apartamento, mal conhecia os meus vizinhos. Havia falado com alguns deles apenas pelo grupo que possuíamos e que usávamos para reclamar de barulho, quando alguém fazia uma festinha e passava do ponto.
— Então, quando você apareceu por aqui... Um homem lindo e que não tinha ideia de quem eu era, não resisti e encarnei essa personagem, que é alguém descompromissado e que parece não se importar com mais nada além de uma cantada boba...

Sorri em agradecimento pelo elogio.
— Não ser o homem que a cidade inteira sabia que eu era, me ajudou a superar algumas coisas, fez com que eu me esquecesse de problemas que ficava remoendo.
Ele esticou o braço para pegar a minha mão direita. — Você foi, de longe, a melhor coisa que aconteceu na minha vida nos últimos anos.
— Você também foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida nos últimos anos — respondi acariciando a mão dele. — Talvez também tenha sido a mais irritante, mas, tudo bem, eu já aceitei o pacote completo.
Ele fez uma careta, como se tivesse ficado ofendido com o meu comentário sobre ele ser irritante, o que não era nenhuma mentira minha.
— Engraçado você me dizer isso sendo, literalmente, a pessoa mais pentelha que eu conheço — ele disse rindo, antes de se aproximar para me beijar, como se aquilo fosse amenizar a sua ofensa. — O meu pentelho.
Dei um tapa no braço dele, rebatendo: — Eu vou te mostrar quem é o pentelho, seu babaca.
— Eu acho que já está mais do que na hora de você admitir que ama esse babaca — ele continuou dizendo, como se tivesse esquecido que eu havia me declarado há pouco. — Você ama cada coisinha irritante em mim.
Ah e como eu amava!
Algumas das coisas que eu mais detestava em Lan Zhan , eram justamente as que mais me excitavam.
Assim que notei que estávamos nos desviando do assunto principal, o casamento dele e da Yanli, lembrei-o:
— É impressão minha ou você está tentando me enrolar,  Lan Zhan ?
O seu sorrisinho bobo de canto deu-me a resposta.
— Não vou nem confirmar e nem negar essa acusação.
— Pois trate de me contar tudo agora — rebati realmente disposto a acabar com todas as minhas dúvidas. — Hoje você não sai da minha casa sem me contar cada detalhe dessa história.
Lan Zhan  fez uma careta, como se a simples ideia de me contar o que tinha acontecido no casamento dele lhe causasse uma dor física.
— Conto, mas só com uma condição — ele começou, com uma voz séria. Fiquei tão apreensivo que balancei a minha cabeça instantaneamente, esperando por essa sua condição. E então Lan Zhan  completou: — Eu só digo se você me prometer que não vai rir de mim.
Ele havia repetido exatamente o que eu lhe pedira, quando contei a ele o motivo pelo qual havia deixado São Paulo.
Balancei a minha cabeça, confirmando, entretanto, o meu sorrisinho bobo não o convenceu, pois ele tornou a falar:
— E você também tem que me prometer que o seu tesão enorme por mim não vai desaparecer depois de ouvir essa história vergonhosa.
Não tinha ideia se ri porque aquilo foi engraçado e inusitado ou se foi pelo fato do cretino ter sido tão convencido ao ponto de dizer que eu tinha um “tesão enorme” por ele — o que, convenhamos, não era uma mentira.
Revirei os meus olhos e fiz a porcaria da promessa: — Eu prometo que não vou rir.
Os olhos dele permaneceram fixos em meu rosto, obrigando-me a acrescentar, de forma debochada: — E que não vou perder o meu tesão enorme por você.
Como ele ficou em silêncio, emendei:
— Satisfeito?
Lan Zhan  confirmou com um aceno de cabeça e finalmente deu início a sua história:
— Conheço a cretina da Yanli desde que éramos duas crianças...
Com exceção de suas idades, os dois eram completamente diferentes. Enquanto ela nunca perdia uma oportunidade de dizer o quanto odiava a cidade em que vivia, Lan Zhan  amava viver ali. Yanli sonhava com glamour, ele optava pela simplicidade.
Mesmo tão diferentes, eles cresceram juntos, foram figuras presentes nas fases mais importantes da vida um do outro e isso acabou aproximando-os.
— Ela era irritante e muito teimosa... — Lan Zhan  riu e, com os olhos em mim, disse-me: — Talvez não tanto quanto você, Wei Ying... Mas o fato é que eu me interessei instantaneamente.
Começaram a namorar no início da adolescência, quando tinhamos quatorze anos, no tempo em que o namoro era passear pela avenida de mãos dadas e, às vezes — quando se escondiam atrás da casa dela —, juntar os lábios em um selinho inocente.
— Namoramos por uns três anos e aí terminamos. E depois voltamos. Aí terminamos. E voltamos de novo... Acho que você me entendeu — ele continuou rindo, como se quisesse amenizar o peso da história que estava me contando. — E eu meio que perdi a conta. Alguns términos duravam horas, outros se arrastavam por semanas, mas sempre acabávamos juntos, como se estivéssemos presos numa maldição.
— Por que é que vocês terminavam? — quis saber. Não me controlei e ri, emendando outra pergunta: — E, principalmente, por que vocês voltavam?
— Terminávamos por motivos tão idiotas que eu nem me lembro mais deles. — Ele estava pensativo, certamente visualizando os momentos que havia vivido com a esposa. — Mas sei exatamente por que voltávamos.
Estavam acostumados com aquela relação, ainda que ela não fosse perfeita. Os nossos pais se conheciam, possuíam os mesmos amigos, sabiam dos problemas do outro e — o mais importante — aceitavam cada um deles. Além disso, estávamos tempo demais juntos para simplesmente fugir daquele barco afundando, parecia mais fácil morrer afogado.
Então para Lan Zhan , era como se nada fizesse sentido quando não estavam juntos, como se não existisse um lugar pra ele sem Yanli.
— Quando completei dezoito anos, fui aquele cara sem noção que se ajoelha e pergunta se a namorada, que acabou de sair da adolescência, quer se casar com ele — contou-me ele com um meio sorriso, quase parecendo constrangido. — E, sem nem parar para pensar, ela respondeu que não, disse que não jogaria o futuro dela no lixo por mim. — Lan Zhan  riu, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo e então completou:
— E depois, obviamente, veio mais um término.
Yanli sonhava com uma carreira grandiosa de atriz. Ela cultivava esse sonho desde a infância, quando participava de todas as peças da escola. Quando mais velha, inscreveu-se em cursos e testes à distância e inclusive viajou para a cidade vizinha para participar de alguns, mas nunca teve uma oportunidade real de atuar.
As brigas aumentaram e nelas Yanli deixava claro que não queria continuar ali, vivendo uma vida sem propósito ao lado de Lan Zhan . Ele sentia-se mal e não conseguia compreender por que não era o suficiente para ela — assim como ela era para ele.
— Seria muito egoísta da minha parte exigir que ela abandonasse esse sonho por mim, eu sabia disso... Sabia que ela não poderia realizar esse sonho vivendo aqui na cidade... — ele me disse, desviando o seu olhar. — Então, dessa vez, fui eu quem terminou o nosso namoro.
Lan Zhan  deixou o caminho livre para que Yanli seguisse a vida dela sem ele, para que ela realizasse todos os sonhos que tinha.
Ela se agarrou a primeira oportunidade que apareceu e mudou-se para a casa de uma prima no Qinghe. Ficou lá por cerca de quatro meses. E depois, sem aviso algum, retornou. “Não deu muito certo” foi o que ela disse a ele, quando o reencontrou. Yanli estava cansada de tentar e de se frustrar com cada um dos testes em que não era chamada.
Sendo assim, ela disse que deixaria tudo aquilo para trás, que a única coisa que ela realmente desejava era tê-lo de volta. E então, uma vez mais, reataram o namoro.
Dessa vez, os términos cessaram e eles ficaram juntos por mais quatro anos. Estavam com vinte e dois anos e passaram oito anos desse tempo como namorados. Lan Zhan  achou apropriado um novo pedido de casamento, principalmente porque Yanli já não falava mais de ir embora da cidade, já não existia mais nenhum grande sonho separando-os.
— Gastei todo o meu salário numa aliança e fiz o pedido. Dessa vez, ela não disse o “não” logo de cara. Em vez disso, me deu toda uma explicação do porquê não podíamos nos casar ainda. Falou do meu salário de bombeiro, que realmente não era bom o suficiente para sustentar duas pessoas e também que ainda não tínhamos uma casa.
Ele compreendeu os motivos dela e os achou justo, ao ponto de passar o próximo ano inteiro fazendo bicos pela cidade, juntando dinheiro para comprar um terreno. Não era perfeito, ficava um pouquinho afastado da avenida, mas ele sabia que caberia a casa perfeita naquele pedaço de terra.
— Não contei nada pra Yanli, eu só construí... — Ele voltou o olhar para o meu apartamento, observando a propriedade, fazendo com que eu me desse conta de que estava morando na casa que ele construiu para os dois.
— Fiz cada pedacinho desse lugar... E tudo o que eu não sabia, como a parte elétrica, alguns amigos se ofereceram para me ajudar. Levou uns dez meses pra ficar tudo pronto.
Quando a casa dos sonhos estava pronta, ele resolveu fazer uma surpresa. Era romântico demais para simplesmente dizer que agora possuíam uma casa. Não, ele precisava mostrar, levá-la até o local e, só então, fazer um novo pedido de casamento.
Ele o fez.
E ela finalmente aceitou.
— Eu sei exatamente o que você deve estar pensando... — Queria lhe dizer que não estava pensando em nada, com exceção do fato de ele ser bem mais romântico do que eu havia imaginado.
— Deve achar que eu sou um idiota, que forcei tudo isso, que deveria ter me dado conta de que ela não queria se casar comigo lá no meu primeiro pedido... Mas o nosso relacionamento estava bom, não brigávamos mais e estávamos fazendo planos pro nosso futuro, pensando até em filhos. E tudo isso ficou ainda melhor depois que nos casamos. — Ele riu, como se tivesse me contado uma piada. — Pelo menos por dois meses, antes de eu chegar em casa e descobrir que ela havia ido embora e que havia levado até os eletrodomésticos junto com ela.
Lan Zhan  ficou sem chão.
Foi atrás da família dela, mas ninguém parecia saber de nada — e se sabiam, não quiseram lhe contar a verdade. Ele ligou tantas vezes que perdeu a conta. Pela primeira vez na vida, Lan Zhan  deixou recados na caixa de mensagem. Mas nada disso importou, já que nenhuma dessas coisas adiantou, ele não conseguiu falar com a esposa.
— No começo, logo nos primeiros dias, eu queria falar com ela para acertarmos as coisas. Para, sei lá, dizer algo que a trouxesse de volta pra mim... — ele tornou a rir, mas dessa vez, não era de frustração, foi quase uma risada de timidez, cheia de vergonha. — Passei mais de uma década em um relacionamento e quando ela foi embora, eu me dei conta de que tinha tanta coisa que ainda não havia dito. Você se pega pensando em coisas pequenas, sabe? Pensa “eu disse que amava ela o suficiente?” e “aproveitei a companhia dela?”. E todas as coisas que você não dava valor, passam a fazer muita falta, coisas como uma conversa no meio da noite, brincadeiras e até mesmo as discussões bobas, que sempre terminavam com a gente rindo numa trégua.
De acordo com ele, você sentia falta de tudo e se culpava pela ausência da outra pessoa.
Ao menos nos primeiros dois meses, quando as coisas boas são ampliadas em nossas mentes pela ausência. Contudo, depois disso, você consegue notar as partes ruins com mais clareza.
Problemas que já estavam lá — problemas que você viu e não deu muita atenção —, como a forma como ela conseguia destruir toda a sua animação com uma simples frase, quando tudo o que você queria ouvir eram palavras de motivação. Ou então quando ela simplesmente criticava alguma coisa na casa, ignorando o fato de que ele havia construído tudo com as próprias mãos.
Nessa fase, ele não conseguiu se blindar da raiva e as lembranças que antes carregavam apenas culpa — algo que agora ele nem sabia se realmente possuía —, traziam nada além de puro ódio.
Ódio por ela não ter sido sincera.
Ódio por ele ter passado um ano inteiro construindo uma casa que agora não suportava mais viver.
Ódio por olhar para trás e se dar conta de todo o tempo que ele havia perdido.
— Eu sei que a culpa é minha, por ter forçado essa situação, por não ter lido nas entrelinhas... Mas eu queria que ela tivesse sido honesta comigo, que tivesse me falado, que não tivesse só pegado as coisas dela e partido.
— Foi covardia — disse apoiando-o em toda aquela história. — Devia ter mandado pelo menos uma mensagem de texto... É o que eu faria.
— Não, você não faria algo assim...
Antes que eu pudesse lhe dizer algo como “não sou um santo”, o meu vizinho acrescentou: — Você se desculpou por ter me ofendido logo depois de eu sair da sua casa, apareceu com aquele bolo e um sorriso bobo... Você não é covarde assim, Wei Ying.
Eu não sabia o que pensar, com exceção do fato de que eu adorava a forma como ele me enxergava, pois parecia uma pessoa melhor aos olhos dele.
Lan Zhan  sorriu e prosseguiu com o seu relato: — Eu não conseguia mais entrar nessa casa e como o terreno era grande, decidi fazer a coisa mais lógica do mundo, construir outra.
“A coisa mais lógica do mundo”.
Isso me fez rir.
— Como já não tinha muito dinheiro, não ficou tão boa, mas foi tudo o que eu precisava. A construção me ocupava nas horas vagas, então não tinha mais tempo para pensar nela... Foi bom, quase uma terapia.
Ele não a alugaria, mas foi obrigado a fazê-lo, já que as dívidas — empréstimos que ele fez quando começou a construir a primeira casa — aumentaram. O salário de bombeiro e os bicos pela cidade já não estavam mais sendo o suficiente, ele precisava de uma nova fonte de renda.
As coisas que já não estavam bem, ficaram ainda piores quando Yanli reapareceu. Toda a fofoca que a cidade parecia finalmente ter superado recomeçou com ainda mais força.
— Posso dizer que passei o último ano vivendo a minha, como a minha mãe mesmo chamou, segunda adolescência... — Ele riu e, ainda que de forma hesitante, continuou: — Não aproveitei muito a minha vida... Yanli foi a primeira pessoa com quem eu estive e, acredite ou não, não tinha ficado com mais ninguém além dela, mesmo durante os nossos términos.
Se passasse dez anos dentro de um relacionamento, eu teria feito exatamente igual, aproveitaria cada coisinha que não fiz enquanto estava preso. Então, ainda que não tivesse essa experiencia de um relacionamento longo, compreendia o que Lan Zhan  estava me dizendo.
— Eu sempre soube que também gostava de homens — ele continuou com o relato. — Mas eu só fui me relacionar com um depois que Yanli me abandonou... Baixei um aplicativo e me encontrei com um desconhecido... Foi bom e eu resolvi continuar... Vivendo todas essas experiencias que eu não tive enquanto crescia.
— Quando ainda estávamos naquela fase de provocações, ouvi você transando — contei sentindo-me um pouco envergonhado por admitir que havia bisbilhotado o sexo alheio. Lan Zhan  arregalou os olhos e isso fez com que eu me defendesse: — Estava muito alto e as nossas janelas são praticamente coladas.
— Depois que você chegou?
— Sim, na época em que você estava tentando me seduzir, desfilando sem camisa — expliquei lembrando-me do quanto tive que ser forte para aguentar toda aquela provocação.
Lan Zhan  fez uma careta, antes de me responder: — Eu não fiquei com mais ninguém depois que você apareceu.
Eu tinha certeza de que o ouvi com uma mulher.
— Eu ouvi as vozes... — ressaltei, recordando-me da cena. — E ela gemia como uma atriz...
— Pornô? — ele completou, ainda com o sorriso bobo nos lábios. — Eu acho que você me flagrou assistindo um vídeo qualquer na internet... E isso é ainda mais vergonhoso do que flagrar um sexo de verdade.
Eu não conseguia nem imaginá-lo se masturbando com um vídeo qualquer. No entanto, havia feito a mesma coisa na minha cama. Com a exceção de que no lugar do vídeo, utilizei todos os meus pensamentos fantasiosos com ele.
— Desde o momento em que você apareceu, não consegui pensar em mais ninguém — ele continuou, levando sua mão até a minha. — Depois de tudo o que eu contei pra você, acho que já deu pra sacar que eu não sou esse cara descompromissado, não é?
Essa era a parte mais bizarra de toda aquela história.
Sempre enxerguei Lan Zhan  como um típico conquistador, que enxergava pessoas como figurinhas para o seu álbum. Talvez estivesse vendo a mim mesmo, não tinha certeza, mas foi essa a impressão que tive dele.
Como ele permaneceu em silêncio, notei que a história havia terminado.
Era bastante coisa para absorver.
Muita coisa.
— E é por isso que, quando você apareceu, quis ser uma pessoa nova... — ele prosseguiu, dando sentido a várias coisas. — Não queria ser o cara bobão que fez um monte de pedido de casamento e que ainda levou um pé na bunda. — Após rir da própria desgraça, o bombeiro acrescentou: — Então, desculpa por demorar tanto pra admitir o que eu sentia. É que, da primeira vez, ser romântico não me colocou numa boa posição.
Isso fez com que eu me lembrasse de uma coisa que Lan Zhan  havia dito, logo quando nos conhecemos.
“Romantismo só me fodeu”.
— Na conversa que tivemos, Yanli me disse que havia sido injusta com você, mas nunca pensei que fosse ser uma coisa nesse nível...
Uma das últimas coisas que ela me disse — “Tente não me odiar” —, finalmente fazia sentido.
— Quando vi vocês dois juntos, o meu sangue ferveu — ele prosseguiu, relembrando daquele dia, quando tudo explodiu. — Fiquei com medo de que ela destruísse a melhor coisa que tinha acontecido comigo desde que ela partiu.
Queria beijá-lo e lhe dizer que isso nunca seria destruído, que ninguém tinha essa força. No entanto, antes que me aproximasse dele e de seus lábios, eu me dei conta de que ainda existia uma pergunta não respondida.
— A única coisa que eu ainda não entendi... Depois de toda essa merda, por que vocês ainda continuam casados?
Novamente, ele esboçou uma careta.
— Yanli bem que tentou, mas eu rasguei todos os papéis e me recusei a assinar qualquer coisa que viesse das mãos sujas dela — ele continuou chocando-me pela revelação. — É a minha vingança pessoal.
Ao notar o meu olhar, que estava repleto de julgamento, ele prosseguiu: — Ela acabou com a minha vida, por que eu deveria facilitar a dela?
Lan Zhan  havia se amarrado a alguém que odiava só para irritá-la.
“A gente nem sabe se eles realmente estão juntos, se vivem como um casal. Talvez os dois só não se divorciaram porque a louca não quis assinar os papéis do divórcio. Acredite ou não, isso acontece muito, queridinho” ela havia dito naquele fatídico dia, quando toda a bosta voou direto para o ventilador.
A “louca” da qual ela se referia, tratava-se de Lan Zhan .
— Ah, mas você vai assinar esse divórcio, Lan Zhan ! — deixei claro. Ele abriu a boca para retrucar, mas eu fui mais rápido: — E vai assinar logo.
Depois de alguns segundos de cara feia, ele balançou na cabeça, concordando comigo.
— Tudo bem, mas eu vou fazer isso por você — ele respondeu, claramente contrariado.
— Não, meu amor. Você vai assinar esse divórcio por si mesmo — corrigi-o, já que aquilo era tudo, menos saudável. — Eu sei que ela foi injusta e que talvez até merecesse essa vingança, mas não vale a pena, não quando você está parando a sua vida por conta de uma pessoa que você supostamente não gosta.
— Não tem nenhum supostamente, Wei Ying. Eu não gosto dela — ele fez questão de ressaltar.
— Ótimo, então você não terá nenhum problema pra assinar os papéis — concluí, colocando um fim naquela discussão. — Não é mesmo?
Ele balançou a cabeça e se aproximou, buscando pelos meus lábios. E depois de me beijar, um beijo que eu retribuí vorazmente, Lan Zhan  sussurrou:
— Bom que assim fico livre para fazer novos pedidos de casamento.
— Se você quiser mais um “não” para a sua coleção, fique à vontade, vizinho — brinquei, mordiscando a orelha dele. Depois de rir, tornei a sussurrar:
— Eu nunca me casaria com você... Assim como nunca transaria ou então confessaria numa cena constrangedora que estou completamente apaixonado.
Ele me puxou, colocando-me em cima do seu colo.
— Nunca, doutor? — Lan Zhan  indagou, claramente captando as minhas mensagens subliminares.
— Nunca, bombeiro.

(....)

"UM AMOR DE VIZINHO Onde histórias criam vida. Descubra agora