Após várias horas naquele avião, finalmente chegamos em casa. Ela parecia muito diferente do que quando partimos, com teias de aranha e poeira cobrindo os móveis. Tudo estava mórbido e sem vida, apesar de termos ido a Paris para ficar apenas alguns dias ou talvez semanas. O tempo pode ser rápido quando quer.
Peter soltou um suspiro de susto ao se lembrar que havia deixado sua cobra sozinha durante esse tempo. Ele se arrependeu imediatamente, ao ver que ela não estava na gaiola, mas sim debaixo de sua cama, comendo um pequeno rato morto.
— Pensei que tivesse deixado um saco com esses bichos mortos dentro da gaiola — falei, dirigindo-me a ele, um pouco confusa e sem me importar muito se a cobra estava viva. Eu sabia que ela conseguiria viver por conta própria... mas talvez não na casa dele.
— Não... Isso seria meio idiota, porque ela só comeria quando estivesse com fome e o estoque acabaria em pouco tempo — ele respondeu, pegando a cobra do chão. Porém, ela aparentemente não estava gostando muito da presença dele, afinal, fazia bastante tempo que Peter não a alimentava.
— Você espalhou os ratos mortos pela casa? Que nojo, Pete... — me contorci de nojo só de pensar em dormir ali novamente, sabendo que havia vários animais mortos por perto.
— Ué... Isso é ruim? — seu olhar encontrou o meu e ele logo percebeu o quanto eu estava incomodada com aquela situação — Quer dizer, de certa forma, sim... Ela teria que "caçar" a comida. O meu medo era outros predadores comerem os ratos...
— Esse era seu medo? E não o fato de que agora há ratos mortos por toda a casa? Tenho certeza de que você esqueceu onde os colocou... — meu tom foi debochado e cheio de desprezo, agindo de forma dominante.
— Sabia que você falaria isso... — murmurou, revirando os olhos com um olhar irritado.
Cruzei os braços, olhando-o de forma séria, esperando suas desculpas. Mas tudo que recebi foi desaforo e desafio.
— Está testando a sorte hoje, Pete? O que te deixou tão confiante? Logo vou tirar essa sua cara de cu do seu rosto com um tapa — ergui a mão, fingindo que o golpearia, mas ele a segurou, prendendo meu pulso de forma dolorosa.
— EU é que vou fazer isso se você não calar a boca — o tom de sua voz me deixou um pouco assustada, mas também com uma estranha vontade de me ajoelhar e chamá-lo de "mestre". Não pude me deixar levar por essas fantasias ridículas, até porque eu voltei rápido por um motivo: T.K., que nesse momento já estaria apodrecendo no porão.
Afastei-me de seu aperto e fui ao banheiro lavar o rosto, tentando pensar em algo que poderia ser feito com T.K. Meu único medo era ele ter fugido e contatado a polícia...
— Depois vou precisar da sua ajuda para limpar esta casa.
Minhas mãos tocaram de forma irritada o mármore da pia, e respondi em um tom desafiador.
— Ou o quê?
Por algum motivo, queria que ele fizesse algo comigo agora, mesmo com a questão do meu "amigo" martelando na minha cabeça.
Sua resposta demorou um bocado para vir, até eu escutar passos no corredor em frente à porta do banheiro.
— Quer mesmo saber, linda? — suas mãos agarraram a porta, abrindo-a de forma delicada, mas ainda assim bruta — Não me teste com essa sua teimosia agora, carinho... Você sabe que temos que dar palco para outra coisa...
Concordei em silêncio, esperando que ele me desse privacidade novamente.
— E a propósito... — ele abriu a porta lentamente e saiu — Não existe privacidade para você.
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Your Boyfriend
FanfictionS/N, com inúmeras preocupações ocupando sua mente, nunca houve muito tempo dedicado a pensar em relacionamentos, seja de curto ou longo prazo. Seu foco estava em busca de uma vida tranquila e descomplicada. No entanto, tudo mudou quando ela conheceu...