CAP 01 - A casa da frente

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GABRIEL RAMSÉS NARRANDO*

Eu entrei em casa correndo e trancando a porta atrás das minhas costas. Estava ofegante, e meu coração batia acelerado. Eu não conseguia acreditar que começaria tudo de novo. Eu estou no terceiro ano do ensino médio e me mudei para essa cidade no início do ano passado. Foi aí que o meu pesadelo começou; foi quando conheci ele, Thalles Marquês, um garoto da minha turma, um homofóbico do caralho que sismou comigo desde a primeira vez que me viu. Desde então, é sempre assim que eu entro em casa: correndo para não ter o risco dele me bater. Não que ele já não tenha feito isso, mas não é tão comum porque nunca dei a oportunidade. Ele se dá ao trabalho de desviar do caminho da sua casa, que é para o lado oposto, só para me fazer correr dele. Sempre me apresso em vir para casa e tento ao máximo não cruzar com ele. Não preciso dizer o quanto ele é escroto e babaca comigo, mesmo sem ter motivo algum para isso.

Eu nunca de fato me assumi gay, mas é como se ele conseguisse ver, mesmo assim; era como se conseguisse ver através de mim.

Suas ameaças me reviravam o estômago, e hoje, para meu azar, eu descobri que ficaria na mesma turma que ele por mais um longo ano, assim como havia sido no ano passado. Que azarado eu sou.

Eu moro só com o meu pai, que é militar, então já devem imaginar por que eu nunca me assumi de fato. Eu tenho muito medo do que ele poderia fazer caso descobrisse, já que mesmo em outros assuntos ele é sempre tão duro comigo.

Subi as escadas indo até o meu quarto para tomar banho e me vestir para o trabalho, já que eu não queria de forma alguma chegar atrasado. Eu estava guardando quase todo o meu salário em uma conta para que, caso desse tudo errado e o meu pai me colocasse para fora, eu pudesse ao menos pagar um lugar para ficar. Há cerca de seis meses, eu estava trabalhando em uma lanchonete no período da tarde, já que estudo de manhã. Não ficava muito longe da minha casa, então não era ruim. A capital era um lugar grande, e se manter em uma cidade grande como essa não seria nada barato.

Assim que eu terminei de me arrumar, já havia almoçado, então logo saí de casa a caminho do trabalho, que era em uma avenida bem movimentada no centro.

Assim que cheguei lá, logo fui colocar o meu avental e ir servir as mesas. O dia estava bem quente, mas o clima nessa região do país normalmente era assim mesmo.

— Talita, oi! E aí, o que vai querer? — eu disse com um sorriso ao me aproximar da mesa com um bloquinho.

Talita era irmã gêmea de Thalles, mas, diferente dele, ela é um doce de pessoa e sempre me defendia do irmão troglodita dela quando estava por perto. Nós éramos até amigos.

— Gabe, oi! Um X-salada e uma coca, por favor. — a garota diz com um sorriso simpático.

— É pra já. — digo, anotando, e então levo a anotação do pedido dela até o balcão. Leva só alguns minutos até que fique pronto, e então eu já levo até a mesa onde ela está. — Aqui está. Você desse lado da cidade é novidade. — afirmei com um sorriso.

— Eu vou me mudar para aquela casa do outro lado da rua onde você mora daqui a uns dias. A minha mãe achou uma boa ideia, já que o trabalho dela é ali perto e a proposta para compra era muito boa. Ela foi hoje acompanhar a vistoria da casa e por isso eu tô aqui. — ela diz, e aquilo me faz arregalar os olhos. Não que eu não gostasse de ter a minha amiga por perto, mas o irmão dela vinha junto no combo e isso era, sem dúvidas, um desastre.

— Gabe... tudo bem? — ela me olhou um pouco confusa.

— Não é que eu não goste de ter você por perto... — começo a dizer, e ela me interrompe.

— Vou ficar de olho no meu irmão. Ele não vai incomodar você. — ela diz com um sorriso pequeno. Eu, então, peço licença e volto para o meu trabalho.

O babaca do Irmão da minha amiga (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora