CAP 04 - O garoto que eu odeio

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Eu faltei dois dias à aula e ao trabalho devido a todos os hematomas espalhados pelo meu corpo. Para a escola, até que daria para esconder com uma camisa de moletom; já para a lanchonete, seria impossível, já que o uniforme era uma camisa de manga curta.

Eu acabei não me mudando para a casa do Dani, mesmo com toda a insistência dele, mas acabei aceitando o emprego, já que era mais perto da minha casa. Só que começaria apenas no próximo mês, depois que ele retornasse de uma viagem à Itália. De fato, ter dinheiro sobrando deve ser algo muito bom.

Nesses dois dias, Talita, sua mãe e o idiota do irmão da minha amiga se mudaram para a casa da frente, e com isso eu perdi até o prazer de poder me aproximar da janela, já que não queria acabar cruzando meus olhos com Thalles.

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THALLES MARQUÊS NARRANDO*

Há pouco mais de três anos, a minha vida era praticamente perfeita, um mar de rosas, por assim dizer. Eu era o melhor da turma, capitão do time da escola, e a minha namorada era, sem dúvidas, a garota mais gostosa daquele lugar. Falo com propriedade, afinal, eu já havia fodido praticamente mais de cinquenta por cento das bucetas daquela escola. Eu não queria uma namorada, mas o meu pai vivia dizendo que um homem de verdade precisava ter uma boa mulher ao lado, e aquele cara era o meu exemplo de homem, então o que ele dizia era supervalorizado por mim, ao contrário do que a inútil da Anastácia me dizia, já que suas falas sempre me entraram por um ouvido e saíram pelo outro.

No ano seguinte, a minha vida desandou. O meu pai, que era médico e trabalhava algumas vezes por semana em um hospital na cidade ao lado, foi chamado para uma cirurgia de emergência lá. Aquele nem era o dia de trabalho dele; um garoto, a porra de um viado, deu entrada na emergência precisando de atendimento e ele foi até lá. Dirigiu até lá e o atendeu. Aquele idiota hoje em dia vive muito bem, e o meu pai... o meu pai, que tinha pavor a gays, salvou a vida dele. O meu pai voltou na madrugada embaixo de uma chuva pesada e um caminhão desviou da pista e entrou na contramão. Bateu de frente com o carro do meu pai. Não houve sobreviventes em ambos os veículos. Naquele dia, parte de mim morreu junto naquele carro, parte de mim se foi com ele, mesmo que eu estivesse longe, mesmo que eu não tivesse visto o brilho dos olhos dele se apagarem, e mesmo que ele sem dúvidas preferisse estar sozinho naquele carro, eu queria muito ter estado lá com ele.

O ano seguinte foi só ladeira abaixo. A minha mãe, que é advogada, quase foi à falência, tendo que despedir muitos funcionários porque ela não estava lidando muito bem com a situação. Levou um bom tempo até ela finalmente se reerguer. Já eu... o meu namoro se afundou até chegar ao fim, as minhas notas decaíram e eu perdi a minha vaga no time. Eu me afundei na minha raiva e dor e me acostumei a viver assim.

No ano seguinte, o meu ódio aumentou ainda mais. Era uma segunda-feira quando ele entrou pela porta da minha sala de aula, um garoto de sabe-se lá onde, vindo para a cidade grande. A professora de Português o apresentou como Gabriel Ramsés, e eu o odiei com todas as minhas forças no momento em que vi o sorriso envergonhado em sua face. Estava nítido que aquela era a porra de um viado; era possível identificar a quilômetros, e eu só queria aquele garoto bem longe de mim.

Adivinhe qual era a única carteira vaga na sala? A que estava bem à minha frente. O meu peito doía só de ouvir o som da voz daquele garoto; eu queria poder apertar aquela garganta até ele se calar toda vez que ele abria a boca.

Aquele foi um dos piores anos da minha vida. Eu passei o ano inteiro tendo que olhar a nuca daquele garoto. O ofendi de todas as formas possíveis; eu o agredi, o xinguei, o persegui, e nada o fez deixar a minha classe. Era nítido que ele tinha muito medo de mim, mas ainda assim insistia em ficar lá, e assim passei aquele ano.

O babaca do Irmão da minha amiga (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora