Aquele com a vergonha

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Bella Hadid's p.o.v

— S/n — resmunguei ao sentir seus beijos suaves em minha nuca. Ela riu contra a minha pele, mas não se afastou — Não acho que sua mãe gostaria de ficar te esperando.

— Eu acho que ela não se importaria — me virou em seus braços e segurou minha cintura com um pouco mais de força, enquanto ainda tinha um sorriso gentil nos lábios — Mas eu entendo que você queira se livrar de mim, então é melhor eu ir mesmo.

— Não fala assim — a repreendi e passei meus braços por seu pescoço. Minhas unhas acariciaram a sua nuca devagar enquanto meus lábios tocaram os dela em um breve selinho — Mas você deveria mesmo ir. Não vai ser bom se você continuar aqui.

— E por que não? — me olhou divertida.

— Porque eu não vou te deixar ir nem se você pedir — seu sorriso aumentou um pouco e ela deixou um beijinho na minha bochecha.

— Então acho que preciso ir — se afastou de mim e pegou o celular, que havia deixado sobre a minha cama — Apesar da ideia de ficar aqui ser muito tentadora.

— Vai logo, S/n.

Ela riu e me beijou uma última vez antes de sair do meu quarto com um sorriso no canto dos lábios.

Mas como nem tudo são flores, eu não poderia ser feliz nem por ao menos um dia, já que minha mãe me ligou poucos minutos depois de S/n ter ido embora. Apenas ler o seu nome na tela do meu celular me fez suspirar, mas não é como se eu tivesse outra escolha a não ser atendê-la.

— Oi mãe — não consegui fingir que estava animada por falar com ela. Minha voz saiu em um tom um pouco frustrado demais e eu me arrependi, porque ela obviamente percebeu e vai falar sobre isso a qualquer momento.

— Oi, Isabella. Você ainda se lembra que eu sou sua mãe, certo? — franzi as sobrancelhas pelo tom rígido que ela usou para falar, mas eu não estava surpresa. Nossas conversas têm sido quase todas com esse tom ultimamente — Eu fiquei sabendo de uma coisa sobre você e eu não consigo acreditar, então eu vou te perguntar apenas uma vez e é melhor que você seja sincera.

Não sei se foi o seu tom de voz decepcionado, um pouco enojado e talvez até incrédulo, ou o fato de que ela foi extremamente direta, mas eu consigo imaginar sobre o que ela está falando e eu não queria falar sobre isso, porque eu sei que não há uma possibilidade dessa conversa ser amigável.

Concordei com um leve "uhum", incapaz de falar mais do que isso nesse momento sem deixar evidente o quão nervosa eu estava. Não queria que ela percebesse, apenas pelo meu tom de voz, que o que ela estava prestes a me perguntar era a mais pura verdade. Porque eu já sei exatamente a pergunta que ela vai fazer. Consigo até imaginar sua expressão ao dizer o que eu sei que vai dizer, mas prefiro não pensar nisso.

— Você está se relacionando com aquela garota? — mesmo sabendo que era sobre isso que ela me perguntaria, não pude evitar de parar de respirar por um breve momento. Minha mãe pigarreou ao perceber meu silêncio — Você está com uma mulher, Isabella? Isso é verdade?

Minha vontade era dizer que sim, eu estava mesmo com uma mulher e que nunca estive tão satisfeita em toda a minha vida. Mas não o fiz, com medo do que aconteceria se eu fizesse isso.

— Claro que não, mãe — minha voz saiu mais firme do que eu pensei que sairia. Encarei a jaqueta que S/n deixou sobre a minha cama e fechei os olhos, apenas porque eu não conseguiria dizer o que sei que minha mãe vai gostar de ouvir se eu me lembrasse da garota que me beijou há poucos minutos — Eu não gosto de mulheres. Não sei quem falou isso para você, mas é mentira.

— Eu realmente acreditei por um momento — ouvi seu suspiro aliviado e abri os olhos, os levando mais uma vez à jaqueta que normalmente parava sobre os meus ombros durante uma noite fria se eu não tivesse um casaco comigo — As pessoas falam muitas besteiras, principalmente quando você se aproxima de pessoas como essa garota que você tem saído. Você sabe que vão falar esse tipo de coisa.

— Mas não é verdade — limpei minha garganta quando minha voz falhou um pouco. Se eu quisesse mesmo convencer minha mãe, eu precisava fingir que havia ficado ofendida com uma acusação dessas — É inacreditável que as pessoas digam algo assim sobre os outros.

— Eu também acho, filha — ela parecia um pouco orgulhosa de mim agora, mas isso fez com que eu me sentisse ainda pior. Seu orgulho não servia de nada se ela só fica orgulhosa de mim quando eu estou concordando com as suas opiniões extremamente preconceituosas — Se afasta dessa garota que eles param de falar isso sobre você.

Essa deveria ser a milésima vez que ela me dizia para me afastar de S/n, mas agora não pareceu um conselho. Estava mais para uma ordem ou algo do tipo.

Mas não é como se eu fosse obdecê-la.

— Você tem razão — não deveria ser normal, mas eu imaginei o exato sorriso orgulhoso que ela deve ter nos lábios agora — Preciso ir, mãe.

— Claro. Desculpe por tomar seu tempo com uma pergunta tão absurda. Era óbvio que isso era mentira, porque eu te criei muito bem, não é?

— É — me odiei no exato momento em que deixei suas palavras me atingirem.

Eu não queria ser uma vergonha para ela.

Eu não deveria ser uma vergonha para ela.

Mas acho que a esse ponto é exatamente isso o que eu sou para a minha mãe: uma vergonha. E sou uma vergonha maior ainda para mim mesma, por permitir que ela me trate como se eu não fosse uma pessoa com sentimentos e que não tem o poder de controlá-los. Por permitir que ela me trate como se eu não fosse a sua filha.

Não acho que vou sentir uma dor pior do que a que eu sinto por saber que não posso assumir quem eu realmente sou para a minha própria mãe sem que ela me faça sentir que eu sou uma decepção e eu tenho certeza que isso vai me afetar ainda mais do que já está me afetando.

O problema é que eu não consigo pensar em uma forma de não deixar isso me afetar.

Luz no fim do túnel [Bella Hadid]Onde histórias criam vida. Descubra agora