False God

Wings

Essa é uma música da passarinha linda e fofa Birdy. Escrever a False God é mais fácil do que escrever mortes... Eu peguei uma mania de pegar fotos delas de branco e preto pra colocar aqui. Espero que não falte porque é simbólico.

    Eu sei que dou a impressão de que a religião e a igreja são prisões horríveis que não se tem escapatória. Mas isso é apenas coisa do coração. O coração, quando é uma prisão, se torna uma prisão corporal. O corpo se prende quando o coração está preso. Mas quando pessoas usam da religião e igreja pra se libertar de algo, as coisas mudam. E eu não estou falando sobre se libertar pra amar Jesus. Eu vou explicar...
    Existem duas freiras aqui nesse lugar que se amam profundamente e fazem amor todas as noites. Eu sei que eu brinco sobre elas, mas elas são lindas juntas e espertas também. Porque usam dessa prisão para serem quem são. E quantos homens e mulheres fizeram disso ao longo de toda a história cristã? Monges possuíam ligação amorosa com seus discípulos. Freiras possuíam com freiras. O amor proibido sendo vivido em uma prisão de pedras frias e vazias criada para adorar à um Pai que não ama esses filhos. É uma proteção divina e nescessária que nem mesmo ele pode retirar porque ele deu o livre arbítrio para seus filhos fazerem o que quiserem dentro de sua dita casa na terra. Aqui ele manda... Mas não manda tanto quanto aparenta. Tanto que eu estou aqui.
    A instituição igreja dá muito dinheiro e oportunidade para quem faz parte dela. Seja o crente pastor que enriquece e vive no luxo, sendo cultuado, sendo que está enganado pessoas muito mais do que os falsários presos em prisões ou vendendo mais falsas ilusões que os traficantes que vivem comprando ouro nas favelas do Rio de Janeiro. Casas de luxo de pastores e bispos evangélicos... Muitos deles com amantes homens ou mulheres ou até trans por debaixo dos panos... Ninguém sabe, ninguém jamais vai saber. São poderosos. São intocáveis.
A igreja católica com suas freiras e padres... Uma instituição tão rica que enriqueceu tomando conta da Europa e depois do mundo todo... Impôs seu poder. Ou você a cultuava, ou morria. Não tinha meio termo. Matou, estuprou, destruiu... Religiões inteiras mortas, retirando o livre arbítrio do culto porque agradaria ao Pai. Que pai é esse que manda um filho estuprar uma filha pra ela pagar por seu grandioso erro de ter um livre arbítrio de não amá-lo e nem cultuá-lo? Crianças mortas em sua inocência... Que Pai...
    E a Igreja é tão rica, intocada... Há quem a use como ponte pra ser alguém. E essas pessoas são espertas. Freiras que estudam. Padres que estudam... A Igreja sempre foi com I maiúsculo... É uma instituição. É poderosa. É intocável. A fala do papa vale tanto quanto um líder grandioso de um país poderoso. Ela apenas é... E a Igreja durante muitos séculos foi quem estudava, foi quem escrevia os livros. Ela decidiu o que estaria na Bíblia ou não. Ela traduziu a Bíblia de acordo com o que ela queria. Mesmo estando algumas passagens traduzidas erradas, ainda é intocável a tradução. Se tornou verdadeira e ponto. Não se toca. Não se fala. Não se contesta. Lilith não está lá porque a Igreja não deixa. Mas eu conheci ela. Uma grande mulher. O Pai não quer que você saiba sobre ela. A Igreja não quer... Então, você não sabe. É terrível haver uma mulher que negou o pênis masculino de Adão. É apenas mais fácil pensar que Eva foi mandada por Lúcifer ir lá e chupar aquele pênis nojento masculino que o Pai tanto cultua. Não, não pode haver uma mulher que nega o homem. Pode haver apenas a mulher que leva o homem ao pecado. Porque a culpa é feminina e o perdão é masculino. Eu digo isso sempre para que não haja dúvidas. O mundo é masculino. O Pai é masculino. Não é uma mãe... Deus é pai, não é mãe. Mas quem cuida dos filhos, senão a mãe? O filho de Deus é homem, não uma mulher. A mulher só é sagrada se for a mãe virgem do filho. Ela não é sagrada se ela ouve Lúcifer. Ela não existe se ela se nega a amar aquele homem criado por Deus.
    E eu amo mulheres que entram na Igreja, usam das estruturas pra sobreviver e viver. Assim como as duas que se amam todas as noites naquele quarto. Eu as ouço e sinto prazer. Não prazer sexual, mas prazer de alegria. Penso que se mais mulheres fizessem isso, o mundo seria melhor. E homens também. Mas não... Quantos gays e lésbicas... Quantos trans... Quantos... Quantos estamos vendo desistindo de serem quem são em busca de uma salvação que não virá? Não é uma salvação quando você destrói ou se oprime a vida inteira pra encaixar num lugar que não te ama. Pra que? Pra ser amado? Você não é. Quem te ama, te aceita. Quem te ama, te abraça. Apenas quem te odeia retira de você a pureza de quem você é. O puro causa inveja. O diferente causa nojo. Não se odeie!
    Mulheres viram freiras por muitos motivos. A maioria viram porque não possuem mais opções. A maioria não estão por bondade ao próximo. Isso é algo raro e Mon é tão única por isso. Ela ama ajudar pessoas. Ela ama pedir aos céus pela salvação das pessoas. Ela ama pessoas. Mas a grande maioria entra nessa vida por não ter opções. É o tentar se encaixar. É a cultuação de ser uma pessoa religiosa. A sociedade ama pessoas religiosas. É até um sinal de pureza ser de uma igreja. E quem não quer se ver puro? Quer ser visto como puro? Mas são tantas opções do porquê elas entram nessa vida... Ou a pessoa não tem dinheiro ou condições, o capitalismo... Ou ela se culpa e se massacra tanto por erros que nem são tão erros assim porque a sociedade faz todo mundo acreditar nos ditos pecados, mas vemos pecados todos os dias sendo feitos e perdoados porque são cometidos por homens... Ou elas procuram por um lugar pra viver e sobreviver...  São tantas, tantas opções... Mas eu amo saber que tem aqueles poucos, quase raros, que entram pra essa vida porque querem estudar de graça. A Igreja sempre foi estudo, dinheiro e poder. Eles pagam os estudos de quem está ali. São todos estudiosos. Muitos são formados em muitas profissões. Sendo uma instituição, há estudiosos de várias áreas que vivem ali. Eles pagam tudo, água, luz, alimentos e os estudos. E eu amo quando os estudos cessam porque não há mais amarras e eles saem, vão viver a vida longe desse inferno. Mas são poucos... Raros, os que abandonam isso aqui. Tão raros que é uma informação que poucos dizem. Poucos sabem... Se você quer estudar de graça, vire padre ou freira. E depois vai embora. As amarras, como eu disse, são as do coração e não as do corpo. Quando se tem o coração livre, o corpo está. É uma pena que poucas pessoas sabem disso. As amarras são do coração. É o coração que precisa tanto se encaixar em algo para ser amado. Porque todo mundo nasce e vive com a crença de que só se é amado de verdade quando se tem o amor divino. Mas se o Pai fosse um bom pai, ele te amaria na sua concepção. Afinal, por que ele te faz ser o que você é, se é pra te odiar?
    - Está vendo? Você faz a caixinha assim. - Mon monta uma caixinha de madeira com cola quente e cola as conchas em cima da tampinha. É algo simples e singelo. Ela disse que essa caixa é para as meninas mais adolescentes. Não são só crianças que estão em orfanatos. Existem as adolescentes, quase se tornando adultas. E elas também recebem presentes. Uma caixinha pra guardar coisas delas pode ser algo especial na vida delas. É o que Mon acredita. E vai ter alguma que vai mesmo guardar isso com todo coração. Existem pessoas que são tão gentis que guardam até o papel da bala que receberam. Mas a grandiosa maioria não gosta de presentes simples. Elas gostam de presentes caros. O valor do amor está no preço do presente e não no gesto de amor.
    - Estou vendo. Ficou muito bonita. - Eu sorrio, enquanto olho para a caixinha, sabendo que eu a guardaria por toda eternidade se ela me desse.
    - Está mesmo. Vai abençoar a vida de uma menina. Eu tenho fé que vai ajudar de alguma forma. - Mon sorri com amor e eu já disse como o sorriso de amor dela me preenche em todo meu ser... 

    E preenche mesmo! Até mais do que parece! Você jamais teria uma noção exata de como eu amo o sorriso dela. Os olhos ficam puxadinhos daquele jeito fofo. Eu não sairia da minha vida costumeira de amar mulheres por aí para vir aqui conquistar essa mulher devota se eu não estivesse amando ela com todo meu amor. Um amor que eu jamais poderia imaginar que sentiria... Não assim! É louco, maluco, mas calmo e simples. Eu só amo. Só quero e preciso estar perto dela. Só estar perto. De alguma forma. Deus me expulsou tantas vezes dos sonhos dela. Então, eu vim aqui. Eu poderia estar em qualquer lugar do mundo. Poderia estar fazendo o sexo dos deuses com qualquer mulher no mundo e libertando o coração delas, mas estou aqui só estando perto dessa mulher. Uma mulher que eu conheci num dia de divagações sobre coisas. Eu tenho esses dias. Os dias de divagações. E conheci ela bem num desses dias. Ela se sentou brevemente ao meu lado e olhou aquele mar comigo. Será que ela vai se assustar quando eu falar a verdade para ela? E se ela não gostar mais de mim como gostou naquele primeiro dia ou como gosta agora? Eu só quero que ela goste de mim um pouquinho. E se eu tiver a sorte dos deuses, ela poderá me amar como Sam. Me amar do jeito que eu sou. Me amar, apenas amar. Entende? Ser minha eternamente. Existem pessoas que vale à pena esperar e ir com a calma de um eremita. Existem mulheres que valem nossos sonhos mais intensos e nossos pedidos a algo de que possa haver um amor recíproco. Eu não pediria ao Pai. Ele não me ouviria. E eu não trairia minhas concepções internas... Mas eu peço a algo, algo que possa existir que não seja o Pai... Só pra ela me amar um pouquinho. Porque um pouquinho vindo dela já é muito. É tudo. Porque se ela me amar um pouquinho e ela partir, eu sei que viverei com as lembranças eternas do meu amor por ela e do dela por mim. Eu saberei que fui feliz com ela. E viver um pouquinho, só um pouquinho, já é tudo pra mim. Os vazios não serão tão vazios porque eu os preencherei com amor eterno. O meu amor eterno por ela.

Eu procuro fazer uma aproximação singela entre as duas. Algo bem delicado. São momentos que eu visualizo na minha cabeça e imagino a cena. Como no anterior com as duas pegando conchas e Sam olhando Mon com amor. Ou as duas conversando na praia. Sam com outra aparência ali conversando com aquela freira e aquilo pegando ela de uma forma que ela jamais imaginaria. São pequenas coisas que se tornam grandes. Se fosse um filme ou série, seriam cenas lindas e especiais. Sobre como o amor dessa demonia que teve tantas mulheres na vida foi amar justo uma freira. E é um amor singelo e humilde, respeitoso ao máximo. Porque demônios são vistos como impuros e desrespeitosos. É uma analogia sobre como nós mesmos somos vistos, mas nós amamos de forma pura e singela. É nosso amor. Deus não criou o amor em nós para ser feio. Então, por que nós somos vistos assim?