Colors

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Música da Halsey que diz que tudo é azul (tristeza). Assim como ser LGBT+ e deixar de ser quem é por uma igreja que nos mata é blue.

Alguém já ouviu falar sobre Seasons Of Love? Nela diz que se mede a vida pelo amor que se sentiu. E eu poderia dizer que minha vida, se fosse medida por esse fator, ela teria valido à pena. Ela valeu. Eu amei mais os ditos filhos do meu pai do que meu pai os amou. As filhas, principalmente. O amor é medido por tantas coisas. E me pergunto se meu pai algum dia amou alguém de verdade que não fosse ele mesmo. Trata a Mon como uma disputa e não como uma mulher com sentimentos que o ama como eu queria que ela me amasse. Ele não respeita os sentimentos mais profundos, nem mesmo, de alguém bem intencionado. Ele não aceita o amor que não seja o sentido por ele mesmo. Eu ouço nas ruas, as pessoas vestidas de verde e amarelo que meu pai não ama defendendo algo que ele ama. Seguram a bandeira cheia de cores... As cores ali ficam azul. O homem, ser humano, vai às ruas defender sua própria morte em favor de um Pai que não vai dar moradia. Quem vai dar moradia, no fim das contas, somos nós que vivemos no lugar escuro que eles tanto apedrejam e dizem não pertencer. Tudo pra conquistar um lugar num céu que nunca abrirá portas para eles. Esses homens, seres humanos, tão iguais aos meus irmãos que vigiam Mon dia e noite.
Meus irmãos... Rio comigo mesma... Irmãos de sangue, mas não são do coração, não é? Irmãos... Eles me matariam se pudessem. Mas não podem. Você sabe que eles não podem nos matar quando nem mesmo meu pai gostaria de matar. Meu pai gosta do que criou. Ele gosta da desavença, da guerra. Irmãos contra irmãos. Ele nos criou para brigar enquanto diz que devemos orar por ele para que essa guerra possa parar. Ele gosta do clamor, do implorar. E, então, você implora e a guerra só acaba quando não resta nada além de algo frágil dentro de você. Algo cansado que passa a viver... Sem viver. Mas ele proíbe que você retire sua vida porque só ele pode fazer isso. Ele te deu o livre arbítrio, mas não deu.
- Gostaria de me ajudar a fazer mais presentes para as crianças? - Mon aparece do nada. Eu fico surpresa porque não senti ela se aproximando. Isso é novo para mim. Eu sempre sinto ela se aproximando. Meus irmãos ficam tão de cima dela que estão camuflando sua presença até mesmo.
- Claro, irmã. - Sorrio sem me controlar. - Só vou colocar um pouco mais de esterco nas mudas, senão a madre vai ralhar comigo.
- Sim, compreendo. Estarei esperando na praia. - Ela sorri daquele jeito meigo.
- Não, me espere aqui e vamos juntas. - Eu peço porque sei que ela deve ter conseguido se livrar dos meus irmãos e se eu deixar que ela fique sozinha, eles vão ficar de cima e não poderemos passar um pouco de tempo juntas. Eu sei que ela quer ficar próxima de mim. Eles sabem disso. Então, vão jogar sujo para que ela não fique porque meu amor por ela é ofensivo para eles. Eles não gostam do meu amor. Mas eu já disse, vou colocar minhas asas coloridas em volta dela. Eu já coloquei. Ela gosta de mim. Eles não podem mudar isso. Eles nunca vão tirar isso de mim. Ela gosta de mim. Tanto que está aqui.
- Sim, esperarei. - Ela sorri mais um pouco e eu sinto a felicidade dos deuses gregos, jamais do deus meu pai.
Enquanto faço meu trabalho, as irmãs Maria Tereza e Maria da Conceição trocam olhares. Elas estão apaixonadas. Tão apaixonadas que não conseguem esconder. Um amor puro. Mais uma vez, penso em Seasons Of Love... Se mede a vida pelo amor. E elas se amam. Elas sabem para onde vão. Mas é aquela coisa... Elas não se importam porque viver o amor é mais importante do que uma entrada nas portas douradas do céu. Vale uma eternidade de dor, a dor dita por eles que meu lar causa... Elas preferem viver a eternidade de dor do que não viver o amor. Mesmo que estejam com suas roupas pretas e seus cabelos cobertos pelo pano negro, o coração delas tem cores que ninguém desse lugar jamais vai saber. Porque o amor é belo. Eu sei. Eu o sinto em cada parte de mim. Eu já disse, Mon me preenche em todas as partes. E eu também preferiria passar por uma eternidade de dor só por ter tido a oportunidade de amar e ser amada por ela. Um pouco daquele amor e eu estaria completa pela eternidade. Uma gota e eu já estaria satisfeita. Vindo dela, um grão de areia seria a areia de todos os mares da superfície desse planeta. Porque ela é tudo o que eu jamais pensei que poderia querer. Mas eu quero. E eu não quero ela com egoísmos. Eu quero ela com a simplicidade do meu coração. Mas eles não entendem sobre o que é o amor. Para eles, imposição é amor. Para eles, eu não sinto amor. Para eles, só é amor o que eles sentem. Aquela violência e agressão, a proibição da felicidade e amor do próximo... Para eles, aquilo é amor. Não o que eu sinto. Eles me matariam se pudessem. Mas mesmo se matassem, eles não retirariam de minha existência o amor que eu senti. Nem mesmo as mentiras que eles contam mudaria a verdade que eu vivo. Porque meu amor é meu. Eles não vão retirar isso de mim. É como se diz, serei resistência! Mesmo em minha morte, eu serei. Eternamente, mesmo que ninguém me conheça. Mesmo que jamais saibam sobre mim... Eu ainda serei.
- Eu acho bonita a amizade de irmã Maria Tereza e Maria da Conceição. - Mon sorri ao ver as duas se ajudando a plantar couve ali na frente.
- Você acha? - Eu olho para ela com atenção.
- Sim. Queria uma amizade assim. - Ela continua a sorrir.
- Podemos ter. - Eu sorrio também.
- Seria uma benção, irmã. - Ela fala naquele jeitinho dela e eu não me controlo aqui dentro porque ela é a fofura em pessoa.
- Você sabe que elas ficam conversando de madrugada, não é? - Eu pergunto como quem não quer nada.
- Ficam? Mas ninguém nunca viu? Como você sabe? - Ela me olha espantada.
- Eu apenas sei... Se você quiser, podemos fazer o mesmo. Conversar de madrugada. - Eu ofereço.
- Mas é proibido. - Ela coloca as mãos na boca.
- Ah, irmã, conversar não deveria ser proibido. Nós já passamos os dias todos fazendo o bem para o nosso pai. Poderíamos ter um pouco de tempo pra conversar um pouco. - Eu tento argumentar.
- É... Poderíamos. Mas a madre é tão rígida. - Ela suspira e olha para o convento porque é onde a madre está. Gostaria de dizer para ela como Mhee era uma danada que quebrava regras e que agora é tão rígida porque ficou rancorosa da vida e fica descontando nos outros suas frustrações com a vida, mas é melhor não.
- Ela é rígida, irmã, mas dorme igual pedra. A gente pode conversar um pouco quando você quiser. - Eu sorrio.
- Ah, não! Melhor não... - Ela balança a cabeça e eu acho engraçado o jeito dela.
- Tudo bem. Se mudar de ideia, pode me procurar. Eu tenho insônia quase sempre. Mas já terminei aqui. Podemos ir. - Eu me encaminho para o tanque para lavar minhas mãos da terra e esterco. Quem diria que eu estaria aqui fazendo isso por uma freira?
- Podemos pegar muitas conhas pequenas e fazer colares. O que acha? - Ela fica toda animada.
- Sim, é uma boa ideia. - Concordo, enquanto passamos por um irmão meu. Ele me olha com aquele olhar, mas eu nem ligo para o que ele faz porque eu estou com minhas longas asas coloridas abertas. Ele não vai fechar.
- O Natal está chegando e eu estou muito animada. Contando os dias. - Ela sorri ainda mais, imaginando a alegria das crianças e adolescentes.
- Sim, eu também. - Sou sincera porque eu quero ver pessoalmente como ela vai ficar feliz. É muito louco como a felicidade dela se tornou a minha e eu jamais iria fazer ela chorar. Mas é triste como meus irmãos dizem a amar tanto, mas a matariam sem pestanejar. Como eu poderia medir o amor deles? Como eu deveria medir? Será que seria uma medida em negativos do tamanho do inverno russo?
Eu fico colhendo as conchas com ela e pensando que em outra vida, eu estaria indo para alguma balada colorida por esse mundo enorme. Iria conquistar uma mulher e ser feliz. Mas em outra vida mais distante, eu já colhi conchas com alguma mulher. Eu me lembro de todas as mulheres que eu conquistei. Me lembro até da primeira mulher que eu resolvi conquistar. Uma das netas de Noé. Não tinha nada para fazer e ela era tão linda. Cabelos negros longos e um sorriso de menina. Bela e jovem. Foi uma loucura. Ela não queria sentir aquilo e eu era tão inexperiente que quase fiz ela enlouquecer. Ela quase não aguentou a tentação. Mas não resistiu, tampouco. E ela foi minha primeira mulher no meio daquela grama onde as ovelhas pastavam. Senti o gosto do que era ter uma mulher e jamais olhei os homens com os mesmos olhos. Entendi o porquê Lúcifer foi atrás da Eva e não de Adão. As mulheres são macias e deliciosas. Um prazer acima do que eles gostam de fazer pensar que são. E eles gostam muito de fazer a mulher pensar que ela não é tudo isso. Ela é mais. Acredite, eu tive tantas mulheres que nem vou tentar contar a quantidade. Todas lindas, cheirosas... Sendo comunistas lutadoras, feministas, antifeministas, direitistas, comunistas, esquerdistas, capitalistas, antiquadas, de todas as religiões possíveis... Eu tive todas e posso dizer que até a mulher mais nojenta do mundo ainda é mais saborosa do que qualquer homem que en já provei. E, vai por mim, as que se recusam a gostar são as que gemem mais alto quando eu estou lá tentando ela. Se contorcendo e pedindo mais... Aquilo é tudo teatro pra agradar seja lá o que for... Mas elas nunca mentem quando estão comigo entre quatro paredes. Quando ninguém pode ver, elas são elas mesmas. E elas são apenas mulheres. Vão para o meu lar e vivem lá no fim das contas. E muitas delas mudam após chegar lá. Elas se libertam. Vivem tudo lá no meu lar o que jamais poderiam viver aqui. A influência do meu pai aqui faz elas serem assim, mas lá elas não sofrem a lavagem cerebral. Nós deixamos elas viver em paz. Quem diria que é após a morte que elas encontram a paz que a vida não vai dar. E dizem que o inferno é no meu lar. O inferno é esse lugar. O inferno é no céu.
- Obrigada por me ajudar. É a primeira vez que eu tenho uma amiga tão legal. - Mon me olha com certa timidez e isso me pega de uma forma porque eu não esperava, mesmo. Ela me quebrou agora de tantas maneiras que eu sinto vontade de chorar.
- Eu também nunca tive uma amiga como você. - Eu sorrio, tentando esconder minha vontade de chorar.
- Acho que tenho uma amiga igual as irmãs. Né? - Ela sorri feliz e eu sinto meu coração sentir tanto amor que eu sei que sou uma demonia mais viada do que os viados todos da Terra.
- Também acho que tenho. - Eu sorrio porque eu acho que tô conseguindo conquistar o coração dela. Eles não conseguem impedir isso. É como dizem... O que é seu vai vir para você na hora certa. E ela está vindo para mim. Ela só não sabe... Mas vai saber.

False GodOnde histórias criam vida. Descubra agora