Tudo ao seu entorno gira. Grades atrapalham a sua visão para o lado externo. Sente-se fraco, tonto; pouco consegue se mover.Tenta próximo das grades chegar, sentindo uma dor circular seu corpo por completo. Geme, movendo-se com dificuldade.
Quando tenta fechar seus dedos em torno das barras de ferro, percebe que seus braços estão presos por algemas. Tenta delas soltar, ficando apoiado sob suas pernas trêmulas e fracas, mas, sem nenhuma surpresa, resultado algum é obtido. E, aí, acorda de seu momento pós-despertar, com sua visão passando a recuperar-se, a escuridão sendo tomada, aos poucos, por uma breve claridade.
Observa seus dedos arranhados. Quando dobra-os, uma forte dor já o atinge. Seus ombros se aproximam de suas orelhas, encolhendo-se em uma tentativa de eliminar a dor que o circula.
Seus olhos fechados passam a abrirem-se, com dificuldade, assim que a dor diminui. Sente-se atordoado e pergunta-se se não deveria estar no hospital. Seu corpo dolorido diz que sim, e a vestimenta que utiliza ainda mais isso comprova; Está com um daqueles vestidos ridículos, brancos e abertos na parte das costas. A vergonha faz com que suas bochechas aqueçam.
Como chegou neste lugar? Analisa-o, observando por dentro das grades o local. É uma espécie de laboratório escuro, com caixas e seringas espalhadas para todos os lados. Com dificuldade, finalmente, põe suas mãos ao redor das barras; o chão está um tanto quanto rachado. Quanto tenta levantar, pondo todo seu peso naquilo que circula entre seus dedos, acaba por cair, percebendo que suas pernas também estão algemadas.
Solta um breve xingamento em resposta à prisão à dor que sente. Encosta sua testa no ferro e, ao virar seu rosto para direita, com seus olhos semi-cerrados, sente uma presença.
Abre-os rapidamente, caindo de leve para o lado assim que uma figura passa a ser revelada. Tenta dá grade se afastar, pondo suas mãos algemadas, seus braços machucados, para frente, com muita dificuldade, em uma tentativa de defender-se.
Mas nada sai. Não sabe se é por sentir-se fraco, não sabe se é pelos acontecimentos da manhã na Praça Mater, mas seus poderes não saem. Ataz não sente-os, não consegue nada fazer.
– As algemas fazem-no inútil. – Uma voz sai da escuridão próxima. Uma voz identificável saindo de uma figura irreconhecível em meio a falta de iluminação.
A mão da silhueta passa a uma pequena luminária segurar. Vira a fraca luz em direção ao seu rosto e, assim que o faz, tudo torna-se claro. Agora sabe porque reconheceu a voz.
Ali está Avani, sentada sob uma cadeira de escritório. Quando o objeto solta, deixando-o sob a mesa, passa a cruzar suas mãos em frente ao corpo de posição ereta. Desmancha a pose, levando o corpo para frente, tentando intimidar o rapaz. Seus lábios formam um sorriso arqueado, sua boca passa a emitir um leve riso.
Ataz está com tanta dor que nem raiva consegue sentir. Está tão trêmulo, tão fraco, que seus braços apenas abaixam, recuando de forma fácil. Afinal, o que conseguiria fazer sem poderes? Voltou a ser o mesmo de sempre, o fracote de sempre. Apenas cerra seus dentes, torcendo seus lábios para o lado.
Avani, por outro lado, parece muito disposta. Ela vira sua cabeça para esquerda, observando o garoto com tudo menos delicadeza. Ataz já espera um questionamento sair daqueles lábios, já espera ter que algo responder. Ele que gostaria de perguntar, ele que deveria uma dúvida deixar.
Mas é Avani que começa a algo sibilar.
– Eu o vi na Praça Mater – continuou a falar, sem vacilar o tom de sua voz. – Me surpreendi com sua evolução repentina. – Levanta, abraçando as barras com os dedos de suas mãos. – Sem treino algum? – indaga com ironia, em meio a um breve riso. – Isso é impressionante. – Então, agacha-se. O garoto vê os olhos da menina brilharem em cor-de-rosa, iluminarem um tanto da cela, ajudarem a lâmpada com seu trabalho.
O ferro emite um alto som ao ser sacudido por Avani. Ataz pula para trás, assustando-se com o movimento inesperado. Quando volta a analisar a figura da garota, assusta-se ainda mais com a forma como aquela o olha, com um sorriso em meio aquela pele pálida. Logo volta a abrir seus lábios, não se mantendo calada.
– Gostaria de lhe perguntar – interrompeu o silêncio que ali reinava. Raízes passaram a sair das mãos daquela, das mesmas mãos que contornavam as grades; começaram a se aproximar do garoto apavorado – O que você é, Ataz?
E, assim que a pergunta é solta, sente-as enrolarem seu pescoço e passarem a apertá-lo.
Sente vontade de rir. Como irá responder algo que nem ao menos ele sabe?
Mas a dor não permite que o riso venha. A dor lembra-o do local onde está, lembra-lhe que foi Avani quem o prendeu. As raízes fazem o sofrimento em torno de seu pescoço aumentar. E o olhar da garota mais ainda o fita.
engole em seco, sem saber o que fazer, sem saber o que dizer. Pode inventar alguma mentira, mas do que adiantaria? Avani não ficaria satisfeita apenas com suas palavras.
Terá de falar o óbvio. Terá de falar a verdade, mesmo que essa não seja aceita.
– Eu não sei. – As três palavras saem pausadas, uma por uma, com a respiração descontrolada do menino a dividi-las.
Sem nenhuma surpresa, a dor apenas se multiplica.
E as grades são sacudidas mais uma vez por Avani. Ataz sente, mesmo estando um tanto quanto longe, a raiva da Cashew que se posiciona em sua frente. A pequena luz branca que ilumina o ambiente passa a piscar, e o garoto vê Avani o chão encarar – está com o corpo jogado para frente da pequena prisão em que o garoto se encontra cercado, com seus cabelos rosa e verdes para frente. Vê a mão direita da garota estender em direção a ele, passando no espaço presente entre as grades, e sente as raízes em torno de seu pescoço começarem a enforcá-lo; seu ar passa a diminuir. O olhar rosa de Avani volta a aparecer, volta a encontrar o seu.
O sorriso volta a aparecer.
– Pouco me importa – sibila ela, afastando-se das barras e ajustando sua postura sem mexer sua mão erguida. – Não é necessário que me diga. – Quanto mais a garota para frente se mexe, mais Ataz vai para trás. – Você não sairá daqui até descobrirmos.
Um grande alívio toma o garoto quando a mão de Avani é abaixada. As raízes diminuem em volta de seu corpo até sumirem. Ataz caí para frente, tentando sua respiração recuperar.
Mas o alívio pouco dura. Levanta seu rosto suado, encontrando o da garota Cashew. Ela passa a mexer-se, caminhando devagar, deixando seus dedos magros contornarem cada barra de ferro, mantendo aqueles olhos rosa nos seus.
Quando chega na entrada, a destranca rapidamente. Agacha, de forma lenta, na frente de Ataz e, rapidamente, o garoto percebe que a mão daquela não está vazia.
Ela levanta uma seringa na altura de seus olhos. A ponta afiada brilha mesmo diante de pouca luz.
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Nirum Parte Um: Quando a Flor Desabrocha
FantasyMayim é uma Aquatill que está cansada de sua incompetência. Após sua amiga de infância dar-se como desaparecida, voltando juntamente com a destruição do museu mais antigo da cidade de Nirum, põe como seu objetivo trazer aquela, agora tão mudada, de...