Capítulo Doze : Keahi

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Ao assistir Mayim pela televisão, Keahi soube, de imediato, o local onde encontraria-a no dia seguinte.

Na noite anterior, havia sentido o sofá queimar entre seus dedos enquanto assistia a cena pela tela da pequena televisão posicionada ao centro de sua sala: observava Mayim ser arremessada e, após uma queda tranquila, ir de encontro aos braços de seu irmão.

  Ao sentir o odor de fumaça, Keahi revirou os olhos junto de um bufar, levando as palmas de suas mãos para frente seus olhos, vendo cinzas circularem seus dedos. Fingiu não se importar enquanto começava a aproximar-se da tela, com muito cuidado para em nada encostar.

Sentia como sua obrigação ir ao Museu Sataurni, encontrar Mayim e levá-la de encontro ao seu peito – uma tentativa de confortá-la, tentar tornar-se um porto seguro, mostrar que poderia cumprir o papel de uma amizade. Mas, fora de sua mente, sabe que sua ação nada com isso se pareceria. Afinal, desde quando Keahi sabe confortar alguém? Provavelmente ficaria apenas olhando a garota se debruçar em lágrimas, movendo suas mãos de um lado para o outro, sem saber o que fazer.

Não parecia uma boa ideia. Engoliu em seco.

Sua mãe cruzou a porta da cozinha, pondo um guardanapo em seu ombro. Seus grossos lábios contorceram em uma linha fina, e suas sobrancelhas castanhas se juntaram, formando uma careta de desgosto. Passou a mover para todos os lados seu nariz erguido.

A presença fez Keahi acordar de seus pensamentos, lembrando que foi proibida pela própria Mayim de fornecer qualquer ajuda quanto ao caso de Avani. Não foi uma proibição direta – talvez tenha sido, sim –, mas suficiente para Keahi sentir-se envergonhada, arrepender-se de qualquer ajuda que antes havia fornecido.

Então, por que ainda pensava em ajudá-la?

De canto, viu a mãe mirar um olhar furioso para o sofá, analisando as marcas, o tecido derretido, observando cada queimadura que os dedos de sua filha haviam ali deixado.

Keahi ignorou, já esperando o que estava por vir. Se afastou da televisão, sentando em seus joelhos, franzindo o cenho – esforçando-se para algo planejar, alguma falha nos argumentos de Mayim achar. É convencida demais para ignorar um desafio, ainda mais ao saber que pode cumpri-lo com êxtase; Avani é um mistério que está disposta a pôr suas mãos quentes.

Conseguia escutar a respiração potente de sua mãe.

– O que eu lhe disse sobre por suas mãos…

– Estou pensando – Keahi interrompeu, fazendo força em suas coxas para levantar e pondo uma mão em seu queixo, exagerando uma expressão pensativa.

Sentiu a mais velha revirar os olhos, retirando o pano de seus ombros e começando a ir de encontro à cozinha. O coque que era formado por seus cabelos crespos estava prestes a desmanchar, espalhando-se por seu lenço vermelho.

– Então mais um motivo para reforçar a regra de não pôr suas mãos em móveis – finalizou seu discurso típico de mãe, sumindo da vista de sua filha.

Ignorou o comentário feito por Andrea, nome de sua mãe, voltando a, de fato, perder-se em seus pensamentos, passando da expressão forçada para uma natural.

Nota, com uma dificuldade genuína, que Avani, naquele momento, já havia sido encontrada. Independente de ter escapado novamente, Mayim encontrou-a, encerrando seu objetivo e abrindo alas para um novo.

Sorriu de forma involuntária ao descobrir a falha nos argumentos da Aquatill, sabendo que isto daria uma resposta perfeita para rebater possíveis argumentos. O plano já corria por sua mente, fazendo Keahi sentir-se pronta para colaborar da maneira que puder com a nova missão de Mayim; missão essa que, conhecendo a Aquatill, já tinha noção do que se tratava.

Nirum Parte Um: Quando a Flor DesabrochaOnde histórias criam vida. Descubra agora