Avani desapareceu há três dias. Desde então, juntamente com a aplicação de cartazes pela cidade de Nirum, Mayim foi substituída; mas não de forma literal.
Keahi caminha pelas ruas da cidade conhecida como Ninho dos Deuses, sentindo falta dos bolsos de sua jaqueta - já que o calor do verão de Julho a impede de ser utilizada. Para se satisfazer, põe suas mãos no bolso da bermuda, agarrando em uma dessas seu telemi, que mantém uma ligação aérea até sua orelha, até seus fones bluetooth. Utiliza sua camiseta da banda Fire Bunnies enquanto mexe sua cabeça e pés no ritmo da música, cantarolando a caminho da casa de Mayim.
Abre um dos olhos, fazendo com que suas pernas parem à frente de um dos cartazes sobre o desaparecimento de Avani. Retira um de seus fones e, em seguida, arranca o papel com suas mãos. Analisa-o, vendo o rosto de Avani, de frente, em uma daquelas fotos de colegial, utilizando o uniforme da Escola Deos, com uma expressão séria em seu rosto. Embaixo de sua foto, o nome completo dela se encontra: Avani Turris Sourceos - até esse momento, Keahi não fazia ideia do último sobrenome. Logo abaixo, a data do desaparecimento: quinze de junho. Ao lado há mais informações, como última vez em que foi vista e descrição da roupa que utilizava. Ao fim da página, um número de telefone.
Nos cartazes anteriores, postos há dias atrás, ali seria o fim. Porém, percebe que esse possui uma recompensa a quem encontrá-la: recompensa essa no valor de cinco mil nummuns.
Keahi assusta-se, arregalando seus olhos vermelhos. A situação está mais do que séria, e a mãe da garota aparenta estar preocupada.
Engole em seco analisando os números, a quantidade de zeros. Tenho que mostrar isso para Mayim, pensa mantendo seu olhar fixo nos algarismos.
Dobra o cartaz, o enfiando dentro de seu bolso junto de uma de suas mãos. Com a mão contrária, põe o outro lado de seu fone e, em seguida, acomoda-a do mesmo modo da adversa, a única diferença sendo o fato de ter ajustado-a no bolso oposto.
Bate na porta, fazendo barulho com seu anel de coco. E, após alguns minutos aguardando, diferente do esperado, não é Moyse que a recebe: a própria Mayim ali surge junto do mover da maçaneta. Veste um pijama quadriculado, um short e uma camisa de manga curta - ambos de cor branca com quadrados azuis. O cabelo da Aquatill está volumoso, diferente do habitual, e marcas escuras contornam seus grandes olhos.
Keahi sorri, um sorriso misto de simpatia e preocupação, cumprimentando-a. Em troca, recebe um aceno de cabeça e uma piscada lenta - há quantos dias essa menina tá acordada?, se pergunta ao arregalar os olhos de forma dramática à situação da amiga, que tampouco nota.
Assim que Mayim vai para o lado, ela entra. A dona da casa fecha a porta e passa pela Igrãdenti, sem emitir nada além de suspiros, indo direto à mesa de centro, que está repleta de papelada. Senta ao chão, e Keahi a acompanha. A Igrãdenti engole a seco, batendo os dedos de suas mãos sobre a madeira.
- Como você tá? - Puxa uma almofada para seu colo, abraçando-a e a apertando contra o corpo. Espera não ficar nervosa, não gostaria de queimar nenhum objeto.
Mayim a responde dando os ombros, acompanhada daquele mesmo olhar morto. Ela abraça seus joelhos, puxando-os para próximo de seu corpo. Põe sua cabeça nesses, deixando seus cabelos caírem e cobri-los.
Keahi franze o cenho, não satisfeita com a resposta dada. Seu lábio se torna uma linha, e uma expressão forçada de insatisfação é transmitida. Tira suas mãos da mesa e passa a mexer em seus bolsos, fazendo Mayim levantar a cabeça, tentando espiar. Finalmente algo a despertou.
Sente o papel amassado entre seus dedos e, dali, retira o cartaz completamente dobrado. Com dificuldade para ajustá-lo à forma original, estende-o sobre a mesa. A Aquatill, curiosa, para de abraçar as pernas e se aproxima; os olhos azuis brilham de interesse. Keahi começa a passar os dedos sobre cada palavra enquanto ajusta a folha.
- Sabine vai pagar para quem achar Avani. - Seu dedo indicador vai até o valor.
Ao voltar-se para Mayim, a vê franzir o cenho, se segurando para não saltar e agarrar o papel. Deixa ela fazer isso se afastando, ajustando as mãos em seus bolsos, retirando seu telemi e parando a música que ainda tocava. Como o esperado, a Aquatill dá um pulo e aproxima o papel para bem perto de seu rosto, parecendo não acreditar no que vê. Suas olheiras marcam-se ainda mais.
Após um breve momento de lidas e relidas, Mayim joga um olhar para Keahi, um olhar preocupado, e passa a abaixar o cartaz amassado, baixando os ombros antes juntos e o pondo novamente sobre a mesa. Ela morde o interior da bochecha, com suas íris indo de um lado para o outro.
- A polícia - começou em baixo tom - não encontrou nada. - Limpa sua garganta um tanto quanto rouca. - Absolutamente nenhum rastro de Avani. Ninguém disse ter visto-a, e não falta muito para completar noventa e seis horas...
A cada palavra, a voz de Mayim saia ainda mais trêmula, fazendo Keahi sentir que a garota iria desabar, pondo sua mão quente sobre o braço daquela para tentar impedir isso. Analisando a figura nervosa da amiga, balança a cabeça, sem saber o que dizer ou fazer. Não tinha intimidade alguma com Avani, o que poderia dizer se pouco sente sobre o ocorrido?
- Sabine deve estar desesperada... - disse, mirando seus olhos nos azuis, percebendo o quão tola sua resposta foi. - Quer dizer, é claro que tá. Você também tá, não é? - Uma pausa envergonhada. O rosto da Aquatill segue estático, e as bochechas de Keahi ganham um tom avermelhado. É claro que está. Ela suspira, retirando o braço de perto de Mayim. - Desculpa...
A garota balança a cabeça em resposta, mostrando não se importar.
- Tentei fazer o papel de uma policial. - Passa as mãos sobre os vários papéis na mesa de centro, junto de um olhar melancólico. - Não deu certo. Tentei conversar com Sabine, mas ela não quis me atender. - Suspira, frustrada. Balança a cabeça, e Keahi tenta decifrar o que ela irá dizer a seguir.
Uma pausa é dada.
Mayim engole em seco diversas vezes. Suas mãos passam a apertar com força os papéis, passam a amassá-los junto do cartaz.
- Não acho que Avani tenha sido sequestrada... - murmurou, jogando um olhar nervoso para Keahi, franzindo o cenho. - Eu...A voz da garota foge de forma breve.
- Eu acho que ela fugiu.
Keahi joga a cabeça para o lado, fechando a expressão. Fugir? Por que Avani fugiria? Uma garota como ela teria motivos para isso? Se remexe, apertando a almofada que segura. Várias dúvidas circulam o ambiente de temperatura cada vez mais elevada.
- Acha que Sabine tem um dedo nisso? - Se aproxima, mirando nos papéis. Quando isso faz, vê que um dos dedos de Mayim está pressionandi uma foto de Avani, a imagem do cartaz. Os olhos da menina prendem-se ali. Mira no rosto da garota, que segue intacto.
- Talvez. - Solta um suspiro.
Surpreendendo Keahi, a expressão séria recebe um pequeno sorriso, o qual a Aquatill joga em direção ao que observa; um leve sorriso com um toque de determinação. Esse sorriso se vira para Keahi, que o analisa de forma perdida. Mayim põe as mãos sobre as coxas, ajustando sua postura e erguendo o queixo.
- Teremos que descobrir. - Mostra os dentes, juntando as sobrancelhas. O ar triste desapareceu, foi tomado por algo como esperança.
As sobrancelhas da Igrãdenti se afastam, acompanhadas de um sorriso de orelha a orelha. Por um lado, fica feliz de Mayim não ter desistido do papel de policial.
- Você sabe que gosto de desafios.
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Nirum Parte Um: Quando a Flor Desabrocha
FantasyMayim é uma Aquatill que está cansada de sua incompetência. Após sua amiga de infância dar-se como desaparecida, voltando juntamente com a destruição do museu mais antigo da cidade de Nirum, põe como seu objetivo trazer aquela, agora tão mudada, de...