- Eu disse que poderia buscar vocês na escola - disse Irene, abaixando o vidro de seu enorme e luxuoso carro na direção de Mayim e Keahi, levando seus longos dedos em torno de seu cabelo encaracolado.
A porta logo destranca-se e as garotas, bem distantes, entram imediatamente pela parte de trás, sentando-se ao lado da dona do automóvel - ou, melhor, da filha da dona.
- Você já vai nos levar até o hospital - respondeu Keahi, evitando, de forma clara, olhar para Mayim, ajustando-se no assento central e pondo seu cinto. Em seguida, dá de ombros. - Não nos incomodou nenhum pouco caminhar algumas quadras. Não é, Mayim? - Vira-se para a Aquatill.
Chamou-a de Mayim repara, automaticamente, a garota a qual Keahi se referiu. Não chamou-a de Yim.
Mayim encontra-se paralisada.
A volta às aulas sem sua antiga melhor amiga, somado a um clima horrível entre ela e Keahi - resultado do anterior evento onde, sem ao menos conseguir pensar, como resposta ao seu desespero momentâneo, recusou os sentimentos da Igrãdenti - , junto a um amigo internado - gravemente ferido após a longa e cruel batalha do sábado anterior -, não se trata de um dos melhores combos. Está quieta desde que acordou: dispersa em seus pensamentos. Encontra-se neles afundando, com dificuldade para quaisquer coisas dizer, dificuldade para nadar em retorno à superfície.
Dentre esses pensamentos, neste exato momento, o que passa por sua cabeça é algo como: como fui idiota. Keahi me odeia. O que sinto sobre Keahi? Meus sentimentos por ela são de paixão? Estou apaixonada? Já me apaixonei em algum momento de minha vida? O que seria sentir o tão falado "amor"? Deveria ela, reflete, saber?
Então, assustou-se quando a própria a chamou. Sentiu-se afogar, perdeu-se de seu repentino nado.
Levanta sua cabeça, olhando para a direita, percebendo que ambas as garotas esperam alguma resposta. A Aquatill sorri envergonhada, levando suas mãos úmidas até o cinto de segurança e, de forma rápida, passando a tentar colocá-lo em volta de seu corpo.
O que Keahi havia dito antes de "Mayim"?
- Ah... - engole em seco. O cinto tranca, não quer ser posto. Mayim arregala os olhos, suspirando, e começa a puxá-lo cada vez mais, tentando encaixá-lo. - Sim, é... - disfarçou saber. - Sem problemas, Irene. - Vira-se para ambas, lançando um sorriso envergonhado.
Keahi responde-a com seus lábios formando uma expressão vergonhosa, um sorriso tímido, claramente falso, claramente nervoso, acompanhado de uma disfarçada careta confusa. Ela solta um pequeno riso - tão falso quanto o sorriso - ao ver a cena. Depois, surpreendendo a Aquatill, Keahi se aproxima, passando a ajudá-la e, quando isso é feito, o cinto é, finalmente, colocado. Keahi se afasta e a Aquatill a encara, com as bochechas rosadas de vergonha. Gostaria de desaparecer - o que está acontecendo hoje? Por que seu relacionamento com Keahi não pode, simplesmente, voltar ao normal? Ficará assim para sempre? Será desconfortável, desta forma, para sempre? -, sente-se um desastre ambulante, mais ainda do que normalmente sente-se.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nirum Parte Um: Quando a Flor Desabrocha
FantasiMayim é uma Aquatill que está cansada de sua incompetência. Após sua amiga de infância dar-se como desaparecida, voltando juntamente com a destruição do museu mais antigo da cidade de Nirum, põe como seu objetivo trazer aquela, agora tão mudada, de...