Teorias

179 14 0
                                        

Toc-Toc. Bato na porta do quarto, um gesto de educação, poderia ser dispensável por ser dois hóspedes que não convidei para minha casa e principalmente, meu quarto. Abro a porta do cômodo e dou um passo para trás, quase derrubando a bandeja de metal no chão, Billy está sentado na cama e apontando sua arma em minha direção, Stuart expressa um sorriso animador encarando o café da manhã que havia preparado para os dois.
- Pode abaixar a arma, não vou chamar a polícia. - Peço.
Respiro fundo e caminho até a cama onde havia deitado os dois com muita dificuldade na noite anterior. Stuart surpreendentemente parecia estar bem, ele pode ser considerado uma das pessoas mais sortudas, as facadas não pareciam ter acertado nenhum órgão. A suturação e os antibióticos combinados com remédios para dor pareciam estar fazendo um grande progresso para recuperação dos pacientes.
Me agacho e coloco a bandeja de metal sobre o colo de Stuart, o sorriso dele é contagiante, ele segura o sanduíche e dá a primeira mordida com fome, não parecia o mesmo criminoso dos noticiários. Billy continua me apontando a arma na defensiva, ele sim parecia o criminoso das notícias, os seus olhos causam arrepios na espinha como se estivesse lendo a minha alma, prestes a devora-la. Sinto meu rosto ruborizar e desvio o olhar.
- Porque estamos sem roupa?. - Perguntou o desconfiado.
Anteriormente, não tinha reparado com olhar malicioso a situação que ambos estão, deitados na minha cama de casal e sem roupas, cobertos apenas por um cobre leito.
- Isso explicaria algumas teorias... - Murmuro baixinho.
- O que você disse?. - Billy questiona e destrava a trava de segurança da arma direcionada para o meu rosto. Ele tem sérios problemas com confiança.
- Vocês estavam sangrando e você tinha dito que não queria hospitais, eu tive que tratá-los sozinha. - Respondo.
  Ergo um pouco o rosto para o encarar, ele me assustava, mas quando estava inconsciente e dormindo tranquilamente, pareceu bastante atraente banhar ele com a toalha úmida.
- Abaixe essa arma, cara. A garota te costurou, te deixa dormir na cama dela e ainda traz café da manhã. - Stuart repreende.
Respiro fundo e em um ato de coragem, ponho a mão sobre a arma e forço um movimento para baixo, fazendo ele abaixar a arma. Pego o outro sanduíche do prato e coloco em sua mão.
- Se eu fosse tentar te matar, era só eu ter te deixado tendo uma hemorragia na minha sala. - Falo e posso escutar o Stuart se divertir rindo com a nossa discussão.
Meu celular começa a tocar novamente, enquanto preparava o café de ambos, o aparelho não parou de alertar de notificações de mensagens e ligações, com certeza não eram dos meus pais. Escuto passos vindo da escada e encaro o primeiro assassino que rapidamente põe a mão sobre a arma.
- LUCY!. - Chamava aos berros, minha melhor amiga.
Me inclino e seguro a mão de Billy em cima da arma, perdendo o equilíbrio e caindo sobre ele, os seus olhos sombrios tão próximos aos meus.
- Não acredito que está dando uma festa e não me chamou, vadia. - Exclama Ane.
Desvio o olhar para a minha amiga na porta, ela está semelhante ao Chucky, versão feminina é claro, vestia uma camiseta listrada alterando as cores que realça seus olhos azuis, vestia uma jardineira e um cinto preto. Seu cabelo loiro está preso em dois coques para trás, sua aparência poderia ser de inocência, assim como o Stuart, mas ambos podem enganar pela a aparência.
- Ane, não é o que está pensando. - Respondo.
⁠- Não tem dois homens sem roupas na sua cama?. - Perguntou.
- Ok, é o que você está pensando. - Falo rendida e levanto de cima de Billy que surpreendente não havia reclamado da posição que estávamos.
A pequena se aproxima de Stuart com um sorriso malicioso que logo é retribuído pelo o mais velho. Reviro os olhos e me coloco no meio entre eles, seguro o braço de Ane e a puxo para mim.
- Ane, o que está fazendo?. - Pergunto e sorrio disfarçadamente para ele.
- Você escolheu o seu, agora estou escolhendo o meu. - Ela responde e pisca para Stuart.
- Esses são Billy Loomis e Stuart Macher, eles mataram Casey, Steve, Kenny e o cameraman do noticiário. Além de tentarem matar a Sidney, a repórter Gale da tv e o policial Dewey. – Explico pra ela tentando trazer algum juízo.
- E Maureen Prescott. – Acrescenta Stuart.
- A gente nem gosta dessas pessoas. – Ela responde e bato com a mão na testa.
A dupla nos encarava diretamente enquanto finalizavam de comer o seu café da manhã, provavelmente nos analisando, principalmente Billy, seus olhos sombrios e observadores estão sempre atentos. Balanço a cabeça negativamente tentando reorganizar as ideias, tenho dois assassinos deitados nus na minha cama que eu fiz os primeiros socorros e estou alimentando além de os esconderem na minha casa da polícia, mas por qual razão? Eu não sei.
- Precisamos esclarecer algumas regras. – Billy começa. – Você tinha dito que sua mãe também mora aqui, ela vai chegar quando do namorado? Porque outra pessoa já viu o nosso rosto e você não vai querer convidar a sua mãe para a nossa festa do pijama. – Ameaçou sorrindo e desvia o olhar para Stuart que começa a rir com o amigo. – Então, vamos fazer uma brincadeira, se nos pegarem com vocês, as duas serão presas como cúmplices, a polícia não iria acreditar na inocência de duas jovens que dão casa e tiram as roupas de dois homens, vocês não gostar do que fazem com menininhas na cadeia. – Zombou. – Então, vocês nos mantém escondidos até as coisas acalmarem e vamos sair sozinhos sem entregar vocês. Divertido não é?. – Sugere.
- Eu não sei, a gente não fez nada de errado.. Ane, o que você ac..- Paro a pergunta quando vejo a minha amiga dando um pedaço de maça na boca de Stuart.
- Vamos para a escola!. – Afirmo e puxo a minha amiga pelo o pulso novamente para longe do mais velho. – Vocês fiquem quietos, minha mãe só vai chegar amanhã. – Aviso enquanto caminhava até o meu roupeiro para pegar uma roupa no andar de baixo, o meu quarto estranhamente está com super lotação.
- E você vai nos deixar pelados aqui?. – Questiona Billy, enquanto Stuart cruza as pernas e apoia os braços para trás com as mãos atrás da cabeça, confortável.
- Alguns fãs clubes iriam adorar saber disso. – Respondo enquanto desço correndo pela a escada acompanhada da minha amiga. Loomis tem um pavio bem curto, é assustador, mas é interessante pensar que alguém de boa forma está deitado nu na minha cama.


A cada aula que iniciava, o assunto era o mesmo "Os assassinatos de Woodsboro de Billy e Stuart", a maioria dos alunos estavam assustados por eles estarem teoricamente para público: Sumidos, outros acreditam que eles foram mortos por Sidney ou escondidos planejando um novo massacre. O alvo principal de Billy, a filha de Maureen Prescott se mudou, ela trocou de cidade para se esconder da dupla, Dewey está passando por uma recuperação, enquanto a repórter Gale começou a escrever um livro sobre a saga de assassinatos dos criminosos. A escola fez um mural com as fotos da vítimas que alguns alunos traziam flores, penduravam cartazes, forma de homenagear aos que não sobreviveram ao massacre, enquanto alguns contam histórias com suas versões de se auto declararem herói como Randy, odeio esse idiota. Em cada grupo da escola de Woodsboro formaram opiniões diferentes, alguns os penalizavam como monstros por seus crimes e assustados, mas um grande grupo os vangloriavam por seus atos, principalmente por criarem também teorias sobre os seus motivos, Billy um homossexual oprimido após a partida da Sra. Loomis, Stuart havia uma paixão secreta por seu parceiro e fazia tudo que ele mandasse, mas poucos acreditam na mais provável resposta: Psicopatas. Sidney Prescott apresentou um motivo de vingança que Billy havia lhe confessado, mas as pessoas não se importavam, apenas queriam saber mais sobre eles e não para os crimes e sua gravidade.
- Quem você acha que matou a Casey?. – Perguntou uma menina sentada na cadeira atrás de mim.
- Stuart com certeza, ela o trocou pelo o Steve. – Respondeu outra.
- Eu acho que o Stuart matou o Steve, ego de homem ferido, Billy matou a Casey como Stuart estaria matando o Steve, mas com certeza os dois penduraram ela juntos na árvore. – Explica uma terceira, mas eu conheço essa voz.
Viro – me para olhar e percebo que a minha amiga estava participando da conversa mórbida e dando detalhes estranhamente específicos. Arranco um pedaço de papel do meu caderno e amasso, arremesso na cabeça dela que quase cai da cadeira. "AÍ! Eu sou sensível" resmungou e no exato momento Randy arregala os olhos na direção dela, como se já tivesse ouvido algo que o assustou. Felizmente o sinal toca avisando que as aulas por hoje estão encerradas, levanto da cadeira e dou um tapa na cabeça da minha amiga que tem problemas em guardar segredos.
- Vamos, precisamos ir comprar roupas novas. – Falo e a puxo rapidamente pela a mão, Randy nos encarava a cada passo que dávamos em direção para fora da sala, garoto estranho.

- Deve ter sido amor, mas está tudo acabado agora, deve ter sido bom, mas de alguma forma eu o perdi, deve ter sido amor, mas está tudo acabado agora, desde o momento que nos tocamos até nosso tempo acabar. – Cantávamos It must have been love de Roxette enquanto dirijo meu chevrolet opala diplomata da cor preta, estávamos indo até uma loja de roupa usadas, comprar roupas para nossos hospedes nudistas.
Estaciono o carro em frente uma pequena loja com o nome bem especifico "Bazar de roupas usadas", descemos do veículos e seguimos até o estabelecimento, logo que abrimos a porta o cheiro de incenso invade nossas narinas, não de um modo incomodativo, as roupas estão dobradas sobre mesas de madeiras e outras penduradas em araras, tocava Blaze of Glory de Bon Jovi no rádio do bazar, em certos momentos da música eu e Ane nos entreolhávamos como "Sou um diabo em fuga, um amante de uma arma" e "Sim, sou um homem procurado", seria um sinal da vida?
Como não tínhamos os donos das roupas para provarem as peças, nós duas vestíamos as roupas e desfilávamos pela a loja como dois Bad Boys fariam, gargalhávamos com as roupas que caberiam nós duas e mais outra versão de nós. No final do dia, passo o meu cartão para pagar as roupas, por sorte fazia bicos com frequência como babá. Retornamos para o carro com as sacolas de roupas, jogando todas no banco de passageiros. Sento no banco do motorista do veículo e minha amiga no banco ao meu lado, colocamos o cinto em sincronia e ligo o carro, dirigindo de volta para a minha casa, após dez minutos dirigindo uma viatura passa ao nosso lado e pede para que estacionamos, nesse momento pude sentir a minha amiga apertando a minha mão, tento manter a calma, provável que seja apenas algo para matar o tempo deles.
- Boa tarde, policial. – Digo.
- Boa tarde, garotas. Posso ver a sua carteira?. – Pede o policial e assenti. Abro o porta luvas e entrego minha carteira de motorista para o homem. – O que duas garotas andam sozinha por ai essa hora? Não sabem que tem dois assassinos fugitivos? É perigoso. – Alertou.
- Precisávamos renovar o guarda roupa, emergência feminina sabe?. – Mente Ane, uma ótima mentira, pois imediatamente o policial parou o assunto, homens odeiam assuntos de mulheres.
- Voltem para a casa e não esqueçam de trancarem a porta. – Pediu enquanto entrega a minha carteira.
As duas sorrimos falsamente e abanando para o policial. Nos entreolhamos e começamos a gargalhar com a situação. Bem, não precisamos trancar a porta, os assassinos não irão entrar, eles já estão em casa.

Scream MirrorOnde histórias criam vida. Descubra agora