203. Maya | HAILEY

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A festa de amigo oculto tinha acabado em uma farra total, com direito a álcool, pizza e até o JJ tirando a roupa enquanto fazia uma dancinha sensual. No meio de toda aquela bagunça, eu estava atirada no colo de Rafe, recebendo cafuné ao mesmo tempo que gargalhava das piadas idiotas dos meninos sobre como o professor de economia aplicada parecia o Quentin Tarantino. Minha taça de vinho estava vazia então, na primeira oportunidade, escapei dos braços do meu namorado e entrei na cozinha.

Maya estava lá, misturando latas de energético com gin, estrelas de anis e pequenas rodelas de limão siciliano.

- Ei, Steph, você pode... - parou de falar.

Certo. Aquilo ainda era estranho. Senti meu rosto esquentar e o desconforto mútuo entre nós, como se tivéssemos muito a dizer, mas as palavras entaladas na garganta. Eu tinha duas opções: fugir e fingir que aquele pequeno encontro constrangedor não havia acontecido ou enfrentar tudo o que acontecera nos últimos meses.

E eu não fugia mais.

- Eu posso ajudar. - me ofereci, pousando a taça de vinho na bancada e recolhendo algumas cascas retorcidas de limão para jogá-las no lixo. - Do que precisa?

Maya pressionou os lábios em uma linha fina.

- Taças. - respondeu. - Estão no congelador.

Enquanto ela se dedicava a finalizar os drinks dispostos na mesa, peguei todas as taças e ajudei no que podia. Ela amassava algumas sementes, cortava lascas de laranja e misturava dentro de um copo estranho de metal com a maior facilidade e habilidade do mundo. Fiquei surpresa, porque parte de mim - aquela egoísta, crítica e sem noção - tinha criado uma imagem bem superficial do que ela era. Ok, Maya tinha seus defeitos e não era lá a pessoa mais carismática e receptiva do mundo, mas... Naquele momento, as coisas eram diferentes.

- Eu trabalhei como bartender por um tempo em uma boate da cidade vizinha quando a minha relação com a minha mãe ficou... Não importa. - desconversou, pegando algumas sementes que eu não fazia ideia de para que serviam. - Eu não sou uma pessoa fácil de lidar e não me orgulho disso. Na verdade, é uma das coisas que mais tenho repulsa sobre mim mesma, mas estou tentando mudar. Por JJ também, mas especialmente por mim.

Fiquei absorta, sem saber exatamente o que fazer ou dizer. Ela misturou uma dose de gin com xarope de frutas vermelhas e pedaços de morango em uma taça.

- Onde quero chegar é... - engoliu em seco, secando as mãos em um guardanapo limpo. - Eu fui muito babaca com você, por muito tempo. E, para ser bem sincera, nem era por causa do Rafe. Apesar de termos nossos benefícios e vez ou outra acabarmos... Você sabe, ficando, nós éramos meio que amigos. Eu costumava compartilhar tudo da minha vida com ele e, quando você chegou... Sei lá, eu me senti ameaçada. Perdi as contas de quantas vezes ele acabou choramingando no sofá do meu apartamento no primeiro ano por sua causa e, de repente, no terceiro ano, você estava lá de novo.

Oh, céus.

Peguei um dos drinks da mesa e virei para dentro.

- Eu sinto muito por ter competido com você daquela forma. Pensei que chamar a atenção dele impediria que eu me sentisse só, mas não. Percebi que a solidão não é sobre o físico, porque posso estar rodeada de pessoas e ainda assim estar sozinha. - seus olhos transbordavam sinceridade. - Ele ama você da mesma forma que eu amo o JJ. Espero que algum dia você possa me perd...

Toquei o seu braço carinhosamente.

- Não. - interrompi. - Está tudo bem, Maya. Eu juro.

Ela deu um sorriso de canto. O momento de melancolia foi interrompido quando JJ esmurrou a porta da cozinha e entrou.

- Cadê a minha bartender favorita? - perguntou com uma voz fofa.

Então, Maya sorriu de verdade, um sorriso que pareceu iluminar a cozinha e abriu os braços. JJ a tomou no colo, girando antes de encher sua bochecha de beijos em um estado de plena admiração e carinho. Fiquei assistindo enquanto bebericava o gin delicioso. Senti braços me rodearem, lábios tocando o meu pescoço e um nariz roçando carinhosamente na minha nuca.

- Por que está demorando para voltar? - Rafe sussurrou, manhoso. - Senti sua falta.

Meu peito aqueceu.

- Não demorei nem cinco minutos. - resmunguei de brincadeira.

- Jesus, aqui é o encontro de casais? - Noah, o namorado do Pope, perguntou. - Vamos começar o amigo oculto.

Acenei com a cabeça e Rafe enlaçou os dedos nos meus, me arrastando de volta para a sala. Subi no sofá e me encolhi em seu peito ao sentir sua mão descer e subir, me acariciando. Conseguia realmente relaxar toda vez que ele me tocava.

•••

au original da @rafefode no twitter.

Running Away [parte 2] - Rafe Cameron auOnde histórias criam vida. Descubra agora