231. o presságio | HAILEY

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dia seguinte...

Eu estava acordada quando o despertador tocou naquela manhã. Meu corpo inteiro doía, mas não tinha nada a ver com os 5 dias em que estive hospitalizada. Não. Era pior. Era uma dor que corroía as minhas vísceras e empurrava o meu coração com as minhas costelas com tanta força que tive medo de a angústia me sufocar, mas não aconteceu. Nem os analgésicos mais forte foram capazes de me fazer relaxar. Meus músculos estavam tensos e doloridos, como um presságio.

Levantei da cama, tomei banho e vesti as minhas roupas da forma mais robótica possível. Não sabia exatamente se era por medo ou por puro tédio. Andei até a cozinha com dificuldade, arrastando a perna machucada e me forcei a enfiar uma torrada dentro da boca. Adicionei pasta de amendoim, porque assim era bem mais fácil de engolir, e saí.

O dia estava nublado e frio. Muito, muito frio. Peguei o primeiro táxi que encontrei, parado no acostamento, e demorou menos de 5 minutos até que eu efetivamente chegasse à fraternidade. Apoiada no corrimão, forcei minhas pernas doloridas a funcionarem. Subi os degraus, mordendo os lábios para não gemer de dor a cada movimento.

Não bati na porta. Simplesmente abri e entrei, tropeçando numa das caixas enormes espalhadas pelo chão. Apoiei a minha mão no sofá para não cair.

- JJ, tem certeza que você...

Suas palavras se perderam quando ele me viu. Rafe paralisou no corredor, me olhando dos pés à cabeça como se... Como se realmente não quisesse me ver.

Engoli em seco, me aproximando com passos lentos e um coração disparado - que martelava e doía.

- Oi. - sussurrei.

- Hailey...

Ele sequer parecia o mesmo Rafe. Havia um corte na sua testa coberto por um curativo sutil. Meu coração doeu. Senti uma nuvem de tristeza e angústia me consumindo como uma fumaça e pisquei várias vezes para não chorar.

- Você está bem? - perguntei, segurando as lágrimas na garganta.

Rafe não disse nada. Só balançou a cabeça em afirmação e suspirou.

Oh. Engolindo em seco, tomei fôlego.

- Por que você não foi me visitar? Por que você... Não respondeu às minhas mensagens? - comecei, tentando controlar a onda de nervosismo. - Você... Você sequer me ligou para perguntar se eu estava bem.

Sentei no sofá porque minha perna doía, ardia. Minha bolsa ficou logo ao lado da minha coxa.

Suas mãos se arrastaram pelo seu rosto, esfregando a barba por fazer. Se eu não o conhecesse tão bem, provavelmente não reconheceria os sinais de cansaço no seu rosto: as olheiras fundas e o desleixo com a própria aparência - e mesmo assim ele continuava lindo.

Rodeando a mesinha de centro, ele sentou-se bem na minha frente.

- Você estava mesmo ocupado esse tempo todo? - eu tentava convencer mais a mim mesma do que realmente saber.

Mas tudo meio que desabou quando Rafe negou com a cabeça.

Senti uma dor na boca do estômago, como se tivesse levado um soco, e tive medo... Pavor. Fisicamente, já tínhamos estado há mais de 2 mil quilômetros de distância, mas nada tinha sido tão doloroso quanto estar há menos de dois passos e senti-lo como se estivesse do outro lado do mundo.

- Eu não sei como dizer isso... - começou, apoiando os cotovelos nos joelhos. - Eu gosto de você. Eu realmente gosto.

Quis me sentir feliz, quis gostar do que Rafe dizia, mas havia um "mas". A forma como me olhou, com pena e dor, deixava isso claro o suficiente para que a angústia em mim se tornasse palpável.

Running Away [parte 2] - Rafe Cameron auOnde histórias criam vida. Descubra agora