208. se eu tivesse uma aliança | HAILEY

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Minhas mãos tremiam como se fizesse 20º negativos naquela manhã, mas o frio na minha barriga não tinha nada a ver com o clima, estava longe disso. Desde que o avião pousou, não conseguia controlar a queimadura gelada que se infiltrava pelas minhas veias, congelando meu sangue. Quando o táxi parou, bem na frente daquela casa que eu costumava chamar de minha, os meus batimentos subiram para uns 300 por segundo. Toda a vizinhança estava decorada com leds de flocos de neve, trenós e uma casa até tinha um papai noel surfista. JJ iria amar. Quando descemos do carro, Rafe tirou nossas malas do porta malas e parou bem ao meu lado.

- Estou nervosa. - admiti. - E se... Ela não quiser me ver?

Ele balançou a cabeça.

- Hailey, é a sua mãe. - repetiu o que vinha falando desde que comecei a tagarelar sobre o medo absurdo que me consumia.

- Nós deveríamos ter ligado para ela antes, Rafe. - virei de costas para a casa, tentando não entrar em desespero. - E se ela...

Ele me calou com um beijo doce e duradouro. Enrosquei as mãos na sua nuca e fiquei na ponta dos pés. Quando se afastou, Rafe segurou meu rosto com as duas mãos e disse:

- Nós vamos entrar e eu vou estar com você, está me ouvindo? Independente do que aconteça, Hails, você tem a mim.

O frio na barriga se converteu em uma sensação quente e pegajosa que invadiu meu peito. Tomei fôlego, sentindo as gotículas de suor gelado se formarem na minha testa e me afastei de Rafe apenas para percorrer o caminho de pedras que levava até a porta principal. Com um nó na garganta, vi cenas de toda a minha infância permear a minha mente - desde os jantares em família quando tinha 5 anos até o que aconteceu naquela maldita noite. Tudo. Meu coração batia tão rápido e descontrolado que, por um momento, achei que pudesse sair pela minha boca.

Faziam dois anos... Dois desde que eu tinha sido arrancada dos seus braços enquanto ela tentava estancar o sangue do meu peito. E os seus gritos naquela noite ainda estavam comigo, tão vívidos quanto a dor dos estilhaços me rasgando. Agora só alguns centímetros nos separavam.

Rafe parou atrás de mim, pousando uma mão na minha cintura e beijando o topo da minha cabeça.

- Estou com você, Hails.

Aquela simples frase significou o mundo para mim. Tomando coragem, ergui a mão e toquei a campainha. Um momento se passou:

- Um segundo.

Entrei em pânico.

- Oh, meu Deus. É ela. - disse, perdendo o ar. - Meu Deus, Rafe, é ela.

- É claro que é ela, Hails. Estamos na casa dela, quem mais seria? Res...

- Hailey? - era a minha mãe.

Meu corpo inteiro enrijeceu. Ela me analisou por um momento. Estava coberta por farinha de trigo e massa. Minha mãe cheirava a chocolate derretido e marshmallows. Sua boca estava aberta e o rosto, pálido, como se tivesse acabado de ver uma assombração - e eu não a julgaria por isso. Eu também não esperava vê-la em, no mínimo, 6 anos, mas ali estava ela.

- Mamãe? - sussurrei, com a voz esganiçada.

Ninguém disse nada nos 10 segundos seguintes. Uma queimadura gelada percorreu a minha espinha e eu quis chorar.

- Me desculpa. - disse. - Eu deveria ter ligado, mas não fazia ideia de como encontrar o seu número e aí o Rafe já tinha comprado as nossas passagens. Eu estava morrendo de saudade de você e não pensei, eu...

Fui silenciada por um abraço.

Um abraço apertado, sufocante e desconfortável que valeu todo o ar que deixou meus pulmões - e mais ainda. Minha mãe suspirou e, então, chorou. Amelia Hough soluçou em meus braços ao dizer que me amava. Eu fiz o mesmo, porque nunca tinha me sentido tão em casa.

Running Away [parte 2] - Rafe Cameron auOnde histórias criam vida. Descubra agora