Capítulo 2

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— Grrrrr!

O som vinha acima de mim. Foi tudo muito rápido, quando ergui a cabeça vi aquele vulto encolhido sobre as estantes e simplesmente pulando em minha direção mal me dando tempo de virar completamente. Sem escolhas eu também pulei, porém foi para frente, o som de um corpo batendo contra o chão metálico me fez virar o mais rápido possível, felizmente pude dar um chute bem no rosto da criatura que se aproximava…infelizmente suas garras seguraram a proteção da minha perna.

— AAAGH! — Com a outra perna desferi um novo chute, desta vez bem na cara do monstro, conseguindo desnortear por enquanto a figura bípede que recuou por tempo suficiente para que eu levantasse. — Bicho desgraçado!

A proteção na minha perna havia sido arranhada denunciando que as garras daquele ser podiam cortar metal, mas a falta do filtro de ar já denunciava isso.

Foi minha vez de atacar, correndo contra a figura menor do que eu, porém com graciosidade e agilidade ele pulou numa altura ridícula para um humano e pisou nos meus ombros, me empurrando novamente contra o chão usando o peso do próprio corpo, felizmente meu reflexo me fez pressionar o arma de choque contra a perna da criatura desferindo uma enorme carga elétrica capaz de matar um deles, ou ao menos desmaia-los. A parte ruim? Meu reflexo esqueceu que ela ainda tinha contato com meu corpo e enquanto eu estava sendo empurrada para o chão, o choque foi distribuído pelos dois corpos, causando uma sensação de queimação por todo meu ser enquanto eu perdia a consciência, vendo como se fosse câmera lenta enquanto meu corpo terminava de cair no chão gelado.

                        

Eu não sei quanto tempo fiquei apagada, se foi só alguns segundos ou até horas, mas quando acordei ambos meus ombros doíam pelos rasgos causados pelas unhas daquele disforme, e havia uma camada de sangue sujando o uniforme escuro que eu trajava.

— Agh… — Com dificuldade forço o meu corpo a se sentar embora ele obviamente não estivesse pronto para isso ainda. — AH!

À minha frente estava uma figura desmaiada, que embora sequer se mexesse optei em dar uma coronhada com a arma metálica com medo daquela coisa acordar.

— Merda, merda…

“MALDITO TREM COM PAREDES GROSSAS! NINGUÉM OUVIU ESSA BRIGA?!”

Enfim a adrenalina começava a passar, as dores do choque ficando mais fortes mas mais que isso…enfim eu podia raciocinar. Meus olhos foram até a figura deitada no chão e empurrando devagar com o pé mudo a posição dela, que antes estava deitada de lado toda torta para deixá-la deitada com a barriga para cima.

— Mas…isso…está errado…

Sim, estava, e muito. Os disformes deviam ser monstros horríveis, desfigurados pela radiação e que sua humanidade tinha se perdido a anos, mas o que estava em minha frente era…quase humano.

A figura tinha uma camada de pelo por todo o corpo em uma cor acinzentada, uma cauda mais escura, um par de orelhas felinas, garras em ambas mãos e pés, mas fora isso…era humana. Ela possuía um longo cabelo desgrenhado que chegava no meio das costas, tinha feições completamente humanas e inclusive estava usando algo muito semelhante a um top e bermuda surrados.

— Não era para você ser tão…humana.

…não era isso que estava nos registros. Ainda de modo receoso eu me abaixo para perto da criatura adormecida para garantir que meus olhos ou o choque não me enganaram, essa proximidade me fez notar que os pelos não eram realmente cinzas e que aquilo parecia somente muita sujeira acumulada.

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