Pé de cabra - Capitulo II Lâmina cega e enferrujada

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Mayara acordou com o som da porta se abrindo, a luz fraca do lampião ajudou a perceber o vulto de um homem, ela falou quase que sussurrando:

-Lucas é você?

O homem se aproximou em silêncio e naquele momento ela percebeu que não era o companheiro de grupo que se aproximava, uma luz forte de lanterna ofuscou sua visão, forçando-a a proteger os olhos com as mãos.

-Não delicinha, não tem nenhum Lucas aqui!- ecoou uma voz masculina grave, vindo do homem que acabara de se revelar por ter se aproximado do lampião.

–Mas garanto que faço mais gostoso que o tal de Lucas. – disse ele se aproximando de Mayara que havia sentado no chão abandonando a posição de repouso.

Ele baixou o corpo próximo dela e com a mão tapou sua boca.

Ela sentiu um arrepio que misturado ao asco pelo hálito fétido e o cheiro de gasolina das mãos de seu agressor fizeram seu estomago embrulhar.

Outros cinco homens entraram pela porta com lanternas acesas, os garotos do bando acordaram com os gritos abafados da garota ao perceberem o que acontecia.

-Pérai! Que porra é essa?! Larga a menina ô safado! – protestou Lock, rapidamente ficando de pé e apontando o seu revólver na direção do agressor de Mayara que se debatia no chão enquanto o homem tentava arrancar-lhe as roupas.

-Relaxa aí bonitão! – disse um dos homens que entrou depois, apontando a lanterna pro rosto de Lock, que voltou o olhar em sua direção e percebeu que havia uma espingarda calibre doze apontada pra ele.

- E aí? Cê acha que vale a pena tomar um tiro de doze pela mina aí? – disse o homem branco com macacão cinza, que apontou na direção de Mayara que naquele momento tentava se desvencilhar de seu agressor enquanto gemia e chorava desesperadamente.

– Claro que não vale rapaz, um tiro desses te aleijaria ou coisa pior, não tem hospital e nem Samu agora, você ia sangrar com seus nacos de carne espalhados pra todo lado, e por quê? Só pra não ouvir a putinha gemer?

Os gritos de Mayara enchiam o ambiente de uma angustia mortal.

Os garotos se entreolharam com ódio no olhar.

Ódio que se tornara tão palpável quanto qualquer coisa naquele ambiente de desespero e desesperança, de trás do balcão a voz de Tony soou colérica:

- Vai tomar no cu seu filho da puta! Ninguém aqui ta vivo por ter medo de morrer, nós sobrevivemos porque colocamos a vida do outro acima da nossa! – gritou ele erguendo-se rapidamente do chão e jogando o facão na direção dos homens na porta. A atitude de Tony deu o tempo suficiente pra Lock acertar na cabeça o homem com a doze e lançar-se ao chão em seguida.

Vários disparos foram efetuados dentro da loja que só contava com a iluminação do lampião, mas passou a contar com os clarões dos tiros que iluminavam tudo momentaneamente e explodiam nos ouvidos de todos ali, os homens atiravam com espingardas calibre doze e pistolas automáticas e semi automáticas.

Enquanto acontecia o tiroteio o homem sobre Mayara esfregava-se a ela de maneira doentia, tentando de toda forma despi-la, a garota resistia tentando afasta-lo, quando o silencio tomou conta do lugar novamente, as balas de Lock se acabaram e ele se arrastou pra trás do balcão de concreto que ficava atrás de algumas prateleiras de metal no fundo da loja, os tiros cessaram quando os invasores perceberam que os garotos não estavam mais revidando.

Os quatro homens se depararam com o companheiro atingido por Lock no chão, com um buraco no olho direito e uma poça de sangue ao redor da cabeça.

Pé de cabra A era dos mortosWhere stories live. Discover now