Capítulo XII - O bom homem com o arco

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Naquela tarde, após terem deixado os corpos da família de pedófilos pra trás, foram até a Fiorino, onde encontraram morta a mãe da garotinha. Ele já sabia da morte da mulher, ainda assim ficou com aquela sensação ruim que a cada dia passou a fazer parte de suas experiencias, a sensação de que as coisas sempre pioravam, de que na maioria das vezes as piores situações seriam as mais comuns.

Conseguiram retirar a cadelinha de dentro da Fiorino, ela estava assustada, mas estava bem. Ele juntou os pertences da criança e as levou do local do acidente, pra um dos galpões abandonados da avenida Fernando Cerqueira Cézar Coimbra.

A pequena seguiu silenciosa por todo o caminho, abraçada a cadelinha como se depositasse nela as esperanças de que a dor e o sofrimento que a acometiam pudessem ir embora logo.

Instalaram-se numa pequena cozinha dentro do galpão, havia um gabinete de pia de quase dois metros de comprimento, onde o arqueiro forrou com grossas cortinas, criando uma pequena "toca", onde deixou a menina e a cadelinha.

-Curtiu sua toca? - perguntou o homem com o óculos modelo aviador, sentado em posição de lótus, enquanto mexia nas cordas do arco composto sobre o colo.

A criança que estava deitada entre as cortinas, abraçada a filhote de Pastor Alemão, olhou em silêncio aquele homem por um instante, até responder num fio de voz.

-Curti.

Ele sentiu a tristeza naquela voz infantil, mas sua expressão não se alterou enquanto falava com a menina. Ela permaneceu observando-o, retirou da mochila o revólver calibre 38 de cano curto que havia tomado do velho.

-Isso aqui vai ficar com você. - falou ele estendendo a arma pra ela.

A menina ficou parada observando aquele homem incomum, que havia salvo sua vida, oferecendo-lhe uma arma.

Ela hesitou um instante.

-Eu sei que você tá triste e que provavelmente sua tristeza ainda vai durar um tempo, dizendo isso ele recolheu o braço e pos o revolver no colo. - Mas você precisa entender uma coisa, esse mundo pertence aos que sabem se recuperar rapidamente, aos que sofrem e conseguem ficar alertas logo em seguida.

A pequena olhou-o em silêncio

-Não dá pra trazer a sua mãe de volta, não dá pra trazer a sua vida de volta, nem posso garantir que daqui em diante será bom. - dizendo isso ele coçou a barba escura.

Os olhos da garotinha marejaram e ela apertou ainda mais a cadelinha, de dentro da sua toca de gabinete de pia.

-Mas eu te prometo dua coisas. - ao dizer isso o arqueiro pegou as flechas que estavam no chão ao lado dele.

A criança mudou o semblante, a tristeza tinha dado lugar a atenção.

-Primeiro prometo que nunca mais você será tocada por algum safado, enquanto eu viver, e que se isso vier a acontecer o infeliz terá um destino ainda pior do que tiveram aqueles imundos que encontramos hoje. - dizendo isso ele fez silêncio e passou a inspecionar as flechas que restaram.

A menina deixou de lado o ar assustado, seus olhos tristes adquiriram uma luz que há muito os havia abandonado.

Esperança.

Aquele homem de barba e óculos escuros havia renovado as suas esperanças.

Ela se sentiu protegida diante dele, talvez fosse essa a sensação de ter um pai de verdade, de ter por perto um homem determinado a protegê-la.

Pé de cabra A era dos mortosWhere stories live. Discover now